quinta-feira, 23 de julho de 2020

Não é só Olavo: a Ku Klux Klan também perseguiu os Beatles


Em 1966, a extrema direita dos EUA incitou jovens a queimar álbuns dos Beatles por conta da frase "Somos mais populares que Jesus"

ÁLBUNS DOS BEATLES QUEIMANDO NA FOGUEIRA DA KU KLUX KLAN.  

Em agosto de 1966, quando os Beatles estavam excursionando pela quarta vez nos Estados Unidos, a Datebook, uma revista para adolescentes, republicou com estardalhaço uma entrevista feita com o quarteto meses antes, em março, por Maureen Cleave para o jornal London Evening Standard. 
Ao contrário dos britânicos, os editores norte-americanos resolveram destacar na capa a frase de John Lennon que passaria à História: “Somos mais populares do que Jesus”.
De nada adiantou Lennon matizar a declaração posteriormente. “Se eu tivesse dito que a TV é mais popular do que Jesus, eu teria me dado bem”, tentou consertar. Mas o alvoroço estava montado. Locutores de rádio do país inteiro conclamavam adolescentes a jogar os álbuns dos Beatles no lixo e a boicotar os shows do grupo. A coisa ficou feia quando um membro da organização racista Ku Klux Klan deu entrevista dizendo que iria tocar o terror no show de Memphis, Tennessee.
“Vamos demonstrar, com diferentes jeitos e táticas, como parar essa performance”, disse o homem encapuzado de óculos escuros. “Somos conhecidos como terroristas. Temos meios de acabar com isso se for esse o caso.”

VÍDEO
O “Grande Dragão” da Ku Klux Klan Bob Scoggin apareceu pessoalmente jogando livros dos Beatles em uma fogueira na Carolina do Sul em 11 de agosto de 1966.
CHEFÃO DA KKK JOGA DISCOS DOS BEATLES NA FOGUEIRA. 
No documentário Danny Says, em cartaz no Netflix, o editor da revista, Danny Fields, conta que não pretendia colocar os Beatles sob ameaça de morte, mas admitiu que queria ver o circo pegar fogo, com “mais gente tendo problema ao dizer as coisas certas”. Além da frase de Lennon, ele também destacara a declaração de Paul McCartney na mesma entrevista, sobre os Estados Unidos: “É um país nojento onde qualquer pessoa negra é chamada ‘negro sujo'”. Uma crítica que a KKK não pôde suportar: a verdade dói.
Quando a gente vê Olavo de Carvalho, o guru intelectual dos Bolsonaro, atacando os Beatles de maneira amalucada, dizendo que quem escreveu as letras do grupo foi o filósofo alemão Theodor Adorno, não há nada de novo sob o sol
Ninguém se machucou no final, mas, a não ser pelo histórico concerto no terraço da Apple Records em Londres, em 1969, nunca mais os Beatles tocaram em público depois dessa fatídica temporada nos EUA. Pode-se dizer que a Ku Klux Klan acabou com as turneés da banda, que deixaria de tocar junto definitivamente em 1970.
“Eu não quero fazer turneés de novo, especialmente depois de ter sido acusado de crucificar Jesus, quando tudo que fiz foi pronunciar uma frase irreverente, e ter que aguentar a Klan do lado de fora e fogos de artifícios do lado de dentro. Eu não posso suportar mais”, disse Lennon em uma  coletiva de imprensa naquele mesmo ano. No concerto de Memphis, alguém jogou uma bombinha na plateia e houve princípio de pânico porque pensaram que fossem tiros.
Então quando a gente vê Olavo de Carvalho, o guru intelectual dos Bolsonaro, atacando os Beatles de maneira amalucada, dizendo que quem escreveu as letras do grupo foi o filósofo alemão Theodor Adorno, não há nada de novo sob o sol. Desde os nazistas, a extrema direita sempre perseguiu a arte.
O legal é que a “teoria” de Olavo logo virou motivo de galhofa no twitter.
O mais bizarro dessa história toda é que os Beatles também foram acusados de contribuir para o fim da União Soviética. Os álbuns dos roqueiros britânicos eram proibidos pelos comunistas e sua música e estilo de vida, admirados às escondidas pelos jovens soviéticos, teria dado um empurrãozinho à Glasnost.
Como será que Olavo explica isso?

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