quinta-feira, 8 de novembro de 2018

É urgente dar resposta aos problemas que persistem no emprego – precariedade, baixos salários e desigualdades




No 3º trimestre de 2017 registou-se um abrandamento na criação de emprego e a interrupção da descida do desemprego que se vinha observando desde o 2º trimestre de 2016 em termos trimestrais. A taxa de desemprego foi de 6,7%, igual ao trimestre anterior, mas para os jovens menores de 25 anos e para as mulheres o desemprego aumentou, o mesmo sucedendo para os trabalhadores com habilitações mais elevadas.

A taxa de subutilização do trabalho diminuiu ligeiramente para 13,1%, correspondendo a 717,5 mil desempregados e subocupados, mas o número de desencorajados e de inactivos indisponíveis aumentou face ao trimestre anterior.

Esta evolução é preocupante, tal como o aumento da precariedade do emprego que atinge mais de 22% dos trabalhadores de todas as idades e que é particularmente grave entre os mais jovens. Mais de 42% dos jovens com menos de 35 anos têm vínculos precários, sendo as jovens trabalhadoras as principais visadas (mais de 44%), sobretudo as menores de 25 anos (mais de 71% face a 62% entre os jovens trabalhadores da mesma idade).

O abrandamento da criação de emprego face ao que se tinha verificado no mesmo período de 2017 ocorreu quer na indústria, construção, energia e água, quer nos serviços, tendo havido destruição de postos de trabalho na agricultura, floresta e pescas (ainda assim inferior ao mesmo período do ano passado).

Preocupante é também o elevado peso do desemprego de longa duração que, não obstante ter diminuído, é de 50%, sabendo-se que a protecção no desemprego abrange menos de um terço dos trabalhadores desempregados em termos reais.

Estes dados mostram também a persistência dos baixos salários, com mais de 23% dos assalariados a receber menos de 600 euros, o que se traduz em cerca de 950 mil trabalhadores.

A CGTP-IN reafirma a necessidade de alterar o modelo de desenvolvimento, pôr o país a crescer sustentadamente, valorizar o trabalho e os trabalhadores, garantir a efectivação dos direitos, elevar as condições de trabalho e os salários, e reforçar a protecção no desemprego.

É urgente responder aos problemas dos trabalhadores, da população e do país, valorizar o trabalho, investir nos serviços públicos e, no domínio da Administração Pública, valorizar os trabalhadores, as suas carreiras profissionais e assegurar a actualização anual dos salários. Uma resposta que importa dar na luta reivindicativa e no plano político e legislativo, incluindo no OE para 2019.

No dia 15 de Novembro os trabalhadores voltam à rua para participar numa grande manifestação nacional em Lisboa, porque é urgente avançar nos direitos para desenvolver o país e promover o progresso social.

DIF/CGTP-IN

Lisboa, 07.11.2018

Este artigo encontra-se em: CGTP-IN – CGTP-IN http://bit.ly/2OsSUBf

O perigo


Enquanto o presidente Bolsonaro promete eternas juras à Constituição, o seu filho propõe um diploma que combata a ideia do Comunismo.

A sua ideia não é combater as organizações comunistas, fragilizadas, mas aproveitar o anticomunismo enraizado para combater todas as organizações sociais que ponham em causa a opinião dominante, tidas na sua ideia como comunistas. Em Portugal, tivémos um vislumbre pesado dessa ditadura em que o conceito comunismo abarcava toda a oposição e os valores do anticomunismo foram erguidos durante 48 anos de empobrecimento político, social e económico e de desigualdades sociais.

Mas as novas (velhas) experiências também acontecem deste lado do oceano. A par de uma homenagem do socialista Macron ao marechal colaboracionista dos nazis Pétain (perigosa mesmo que seja para cativar a base social da Frente Nacional) e depois de sucessivas iniciativas da Comissão Euroeia, o Senado francês acaba de rejeitar mais um diploma relacionado com as falsas notícias, que apareceu sem qualquer debate sério e tido por políticos e jornalistas como mais perigoso que eficaz.

O seu texto permitiria... 

..."a pedido do Ministério Público, de todo o candidato, de todo o partido ou agrupamento político ou de toda a pessoa tendo interesse em agir", "fazer cessar" a difusão das "alegações ou imputações inexactas ou enganosas de um facto de natureza a alterar a sinceridade do escrutínio futuro" e de "difundidas de maneira deliberada, artificial ou automática e massiva através de um serviço de comunicação ao público em linha". Ver aqui (é possível que o seu conteúdo esteja impedido a não assinantes).

Aqui, o fenómeno de alargamento da frente de combate não é feito em nome do anticomunismo. Mas em prol da defesa da democracia e da transparência de informação, quando na verdade tudo pode servir para conseguir o seu contrário, ou seja, minar os opositores que tragam informações incómodas. Aliás, nada de novo.

Convém sublinhar que a guerra fria não foi nada disso - fria. Muito pelo contrário. Tratou-se de um período da Historia mundial que está longe de poder ser caracterizado pelas histórias dos filmes a preto e branco, baseados em romances de espionagem. Foram verdadeiros combates sem luvas brancas.

Saído da segunda guerra mundial e do seu papel na derrota do nazismo, o movimento comunista internacional atingiu uma tal projecção nos países ocidentais, que partidos comunistas foram os mais votados em França e na Itália, durante quase uma década. A participação comunista nos principais governos europeus era inquestionável e imparável.

As democracias ocidentais viriam então a perder a tranquilidade do rotativismo eleitoral e a assumir então traços proto-ditatoriais ou simplesmente de lutadores da rua. Os ministros comunistas foram expulsos do governo, reprimiram-se movimentos sociais e lutas laborais. Em França, um ministro socialista, assustado, chegou a enviar tanques contra uma greve de mineiros, como forma de lhes partir a espinha, o que veio a acontecerHouve confrontos violentos em Itália, com dezenas de mortos. Em todo o mundo, leis facilitaram o despedimento de comunistas do funcionalismo público, a apreensão de passaportes, a caça às bruxas em diversas actividades, aprensões de material e arquivos em sedes de partidos, até chegar há prisão em massa de comunistas pelo mundo fora, inclusivamente em França, quando em 1952 foram presos o director do órgão central do PCF e o próprio secretário-geral do PC Francês, Jacques Duclos, deputado na Nação, juntamente com dois pombos - oferta de um camarada, possivelmente para um petisco - os quais integraram a acusação judicial paranóica, talvez como fazendo parte de um destacamento de pombos-correio enviados de Moscovo. 

Esse movimento do pêndulo político fortaleceu-se com a proclamação da República Popular da China (1949), a guerra civil na Coreia que terminou com a entrada dos fusileiros norte-americanos e de tropas chinesas, a explosão das guerras de insurreição comunista na Ásia que foram afogadas em sangue (caso da Indónesia, Birmânia, Malásia) e o surgimento na Ásia e na África de um poderoso movimento de libertação nacional das colónias ocidentais que se estenderia anos anos 60 e 70, e que teria um contrapeso nas tomadas de força pelos países ocidentais no Médio Oriente.   

O movimento anticomunista, por seu lado, partiu da reviravolta feita, logo no pós-guerra, na política externa norte-americana, após a morte de Roosevelt - que, pouco antes de morrer, pretendia retirar as tropas norte-americanas da Europa - e com a sua substituição por Truman. O anticomunismo surgiu em reacção a essa enorme inferno vermelho que percorria os países ocidentais.

Os traços dessa política anticomunista - alimentados pela denúncia pública do que se passara na URSS estalinista até 1953, com a intervenção do Pacto de Varsóvia na Hungria de 1956 - afastaram muito da base social de apoio comunista e projectaram-se, eles sim, pelo mundo durante várias décadas. Tanto na política como na teoria económica. E ainda hoje estão bem presentes, ainda que subliminares, nas políticas liberais - contra o colectivismo de um Estado Social e o papel dos sindicatos como defensores de interesses lobbistas - que as nossas instituições multilaterais tentam impor ao mundo, mesmo quando o movimento comunista deixou de ser a força que era nos anos 50 do século passado e em que a própria social-democracia europeia se afoga. 

Tempos, pois, perigosamnte interessantes, embora com muitos laivos de déjà vu. 


quarta-feira, 7 de novembro de 2018




ATÉ OS MILITARES OUTRORA GENTE QUE METIA RESPEITO PRINCIPALMENTE COM O "RDM" FASCISTA ANDAM AGORA DESPEDAÇADOS A TROCAR O PASSO E A BATER A PALA A GENTE ESQUISITA.

TANCOS, DA VERDADE, DA FARSA, DO ARREMESSO POLÍTICO DE DIREITA FEZ ESTRAGOS E DEU CABO DE ALGUMAS CAROLAS EM TODOS OS CAMPOS IDEOLÓGICOS.

ONDE ESTARÁ A VERDADE ? A DE TANCOS, A DO 25 DE NOVEMBRO ?


António Garrochinho

FURACÕES, CICLONES, TSUNAMIS



HÁ OS QUE DIZEM QUE PORTUGAL NÃO É UM PAÍS ONDE OS FURACÕES, OS TSUNAMIS SÃO FREQUENTES.
ENGANAM-SE OS QUE ASSIM PENSAM OU ENTÃO ESTÃO BEM PROTEGIDOS DESSES FENÓMENOS E NUNCA SÃO ATINGIDOS.

VEJAMOS O "DÉFICIT" ! QUEREM PIOR FURACÃO E AS VÍTIMAS QUE FAZ ?


CENTENO DE MANEIRA PURA E DURA COM A OBSESSÃO DO DÉFICIT RETIRA APOIOS ONDE ELES FAZEM FALTA PARA LOGO IR COLOCÁ-LOS NO CENTRO DA FERA, PRECISAMENTE O FURACÃO QUE O ps/psd/cds ALIMENTAM, O CAPITALISMO, OS BANCOS.

ALIMENTANDO O GRANDE FURACÃO ESTÃO TODOS OS OUTROS, O BES, O BPN,O NOVO BANCO, COM CICLONES E TSUNAMIS COM OS MAIS VARIADOS NOMES, SALGADO, SÓCRATES, VARA, ISALTINO, LOUREIRO, CAVACO, PASSOS COELHO & RELVAS ETC ETC

O ALERTA DEVERIA SER VERMELHO ! MAS QUEM ANDA SEMPRE ALERTA SÃO OS DE COR LARANJA !
ALERTA PARA ENCHEREM OS BOLSOS E A TEMPESTADE É NEGRA PARA O ZÉ POVINHO QUE NÃO SABE ARRANJAR MANEIRA DE SE PROTEGER DESTAS CATÁSTROFES E DESASTRES.



António Garrochinho

VENENOS




E ATÉ JÁ CHEGAM AO RIDÍCULO OS PREGADORES DA DESGRAÇA DE ANDAR PARA AQUI A DIZER QUE PUTIN TEM UM MÍSSIL CAPAZ DE DESTRUIR E O BRASIL E QUE O BRASIL QUER ENFRENTAR A RÚSSIA.

O QUE O BRASIL QUER E NÃO SABE FAZER POR ISSO É PAZ E PÃO.

OS QUE ANDAM NA BERRA DAS NOTÍCIAS, OS QUE ESTÃO E ESTIVERAM NO PODER NÃO SOFRERAM, NÃO SOFREM DE FOME, DE FALTA DE TECTO, ESTÃO PODRES DE RICOS E O QUE OS DIVERTE É FAZEREM ESSE JOGO CANALHA ONDE O POVO SÃO OS PEÕES DO SEU JOGO MACABRO E DE MORTE.

OS BANDIDOS, OS CORRUPTOS, OS ASSASSINOS FALAM DE DEUS PORQUE SABEM QUE NÃO EXISTE E POR ISSO NÃO O TEMEM AO CONTRÁRIO DOS MISERÁVEIS QUE SÃO MANIPULADOS PELA SUA IGNORÂNCIA PELA FALTA DE ESCOLARIDADE PELA VENDA NOS OLHOS QUE AS CRENDICES, AS IGREJAS, A MANDADO DOS FASCISTAS LHES IMPUSERAM.



António Garrochinho

Quem tem medo do sotaque do Norte?


Há quem tenha horror aos sotaques diferentes. Há até uma palavra para designar esse medo irracional…



Gozar com o sotaque dos outros
Imagine um político português, nos corredores do Parlamento, rodeado de jornalistas. Imagine agora que um jornalista lhe faz uma pergunta com um carregado sotaque do Norte. Agora, imagine que o político começa a gozar com o jornalista, a dizer que não o entende — e termina, sobranceiro, a perguntar aos outros jornalistas se têm alguma pergunta «em português»…
Felizmente, esta cena é pouco provável no nosso rectângulo à beira-mar plantado. Mas, em França, aconteceu mesmo — Jean-Luc Mélenchon gozou cruelmente com o sotaque de uma jornalista do Sul. Por causa desse episódio, os franceses começaram a discutir a glotofobia, o medo da variação linguística. (Já agora, lenchon pediu uma espécie de desculpas pelo episódio.)
Todos nós, portugueses esclarecidos, abanamos a cabeça: nunca faríamos tal coisa. E, no entanto, mesmo que evitemos este tipo de gozo público, todos avaliamos os outros pela maneira como falam.
A pronúncia serve de GPS geográfico e social. As nossas antenas podem estar mais ou menos afinadas. Assim, quando ouvimos um sotaque de uma região que conhecemos pouco, a nossa antena dá-nos uma localização genérica («esta senhora é do Norte»). Se formos da região, talvez consigamos perceber a zona mais aproximada donde vem a pessoa («esta senhora é da zona do Porto»). Se formos da mesma cidade, é bem provável que consigamos perceber o bairro donde vem a pessoa — ou, pelo menos, a região social por onde costuma passear («esta senhora é da Foz»). Ora, este mapa mental está associado ao prestígio social de cada zona ou origem social — pode ser feio, mas é assim.
A coisa é ainda mais complicada: todos mudamos levemente de sotaque conforme a situação (e nem nos apercebemos). Em geral, tentamos aproximar-nos do sotaque de quem gostamos e marcamos as diferenças em caso de hostilidade. Além disso, o prestígio de cada sotaque depende do local onde estamos: o sotaque urbano do Litoral Centro (a que muitos chamam lisboeta) é usado na televisão e em muitos contextos formais — e é também o sotaque que tem invadido o resto do país, apagando algumas das diferenças no falar das gerações mais novas. No entanto, esse mesmo sotaque, em certos contextos, será malvisto. Imagine-se um café numa aldeia do Minho, onde se discute um qualquer assunto importante. Entra um homem e mete-se na conversa, usando um sotaque lisboeta. O sotaque de prestígio, ali, não será — provavelmente — o do forasteiro, principalmente se vier contrariar o que se estava a dizer…
O horror ao «cumo»
Felizmente, a recusa explícita em aceitar sotaques diferentes não é assim tão comum em Portugal. O sotaque do Norte — principalmente o sotaque do Porto — não será, certamente, o mais gozado. Mas já não é difícil encontrar risos e gozo por haver quem fale à beirã ou à transmontana — ou mesmo à alentejana. (Também não será impossível encontrar quem goze com o sotaque lisboeta — o que, enfim, serve para equilibrar um pouco as coisas.)
Disse que o sotaque do Porto não será o mais gozado — no entanto, ainda é possível encontrar (como encontrei há uns tempos) quem critique um intelectual do Porto por usar, na televisão, «cumo» — ou «dezoito» com o «o» fechado. Isto para não falar de quem se ri da leitura do «v» como um «b» ou de miríadas de outras marcas linguísticas de várias regiões do país.
De vez em quando, em certos comentários, percebemos que há ainda quem acredite que os sotaques diferentes do sotaque lisboeta são formas incorrectas de falar — segundo esta teoria, o português é bem falado em determinada cidade (a localização exacta de tal centro da perfeição linguística varia de caso para caso) e é maltratado nas outras regiões. E, no entanto, os sotaques não ganham prestígio por serem mais perfeitos ou genuínos, mas por serem usados nos centros de poder. Estivesse a capital no Norte do país e a troca do «v» pelo «b» seria obrigatória em situações formais.
Mais: o próprio sotaque da capital já mudou muito. Se ouvíssemos hoje um lisboeta do século XVI, é bem provável que pensássemos estar perante um transmontano de hoje em dia.
Os lisboetas não têm sotaque?
Os sotaques diferentes não estão errados — errada está, isso sim, a ideia de que há gente sem sotaque. Há apenas gente com sotaque mais parecido com a pronúncia considerada padrão no nosso país (uma pronúncia que não é linguisticamente melhor ou pior).
Agora, o que não podemos negar é que esse sotaque das cidades do Litoral Centro está a ganhar força. Ou seja: os portugueses andam a falar de maneira mais uniforme. Não que as pronúncias regionais estejam a desaparecer, mas estão a aproximar-se — um fenómeno que também acontece noutros países. Terá que ver com a televisão, com a rádio, com a maior mistura social, com o uso de determinada pronúncia na escola — e terá também muito que ver com a urbanização do país. As razões serão muitas, mas o fenómeno é inegável: as gerações mais novas têm sotaques mais próximos um dos outros.
O que — digo eu — só torna mais ridículo esse medo da maneira de falar dos outros. É natural haver a tal avaliação inconsciente, tal como é natural que nos aproximemos do sotaque de prestígio em situações formais — mas já não me parece correcto considerar que um determinado sotaque é o único aceitável ou que aqueles que falam como aprenderam em casa possam ser gozados por isso…
Afinal, se Camões aterrasse na Lisboa dos dias de hoje, a sua pronúncia seria de imediato catalogada como nortenha ou transmontana. No fundo, gozar com os outros sotaques é gozar com Camões!
(Crónica no Sapo 24.)


www.certaspalavras.net

FASCISMO ORDINÁRIO


Fascismo Ordinário é um documentário soviético de Mikhail Romm, discípulo de Eisenstein, realizado em 1965. Nele, podemos observar a visão soviética sobre o nazismo: suas causas, características e conseqüências. A ascensão de Hitler, o arianismo, o anti-semitismo e a manipulação por parte da propaganda nazi. Produzido a partir de filmagens da época e de imagens de arquivos dos nazis, Mikhail Romm mostra um particular retrato do fascismo alemão, narrando-o com sua voz em off, o diretor não se priva de fazer comentários sarcásticos e transigentes sobre o regime nazi.

VÍDEO


(Obyknovennyy Fashizm, 1965)
cartaz de Fascismo Ordinário
• Direção: Mikhail Romm
• Roteiro: Mikhail Romm, Yuri Khanyutin
• Gênero: Comédia / Documentário / Guerra / Histórico
• Origem: União Soviética
• Duração: 138 minutos
• Tipo: Longa-metragem

abrildenovomagazine.wordpress.com

E se os promotores da justiça mediática fossem julgados pelos seus crimes?

estatuadesal.com




(Daniel Oliveira, in Expresso Diário, 06/11/2018)
Daniel
Daniel Oliveira


Muitos terão ouvido na televisão o interrogatórios a Rosa Grilo e António Joaquim, dois suspeitos da morte do atleta Luís Grilo. A primeira frase deste texto faria, há uns anos, qualquer pessoa parar e perguntar-se: 

“Como assim, a televisão passou um interrogatório de uma investigação em curso? Mas isso é possível?” Legalmente, não. Primeiro, porque quem seleciona o que é relevante num interrogatório, onde as pessoas não estão de livre vontade, é a Justiça, não são jornalistas. 

Depois, talvez ainda mais importante, porque uma investigação feita em direto, com todos os suspeitos a terem acesso ao que o outro diz, está condenada ao fracasso.

A banalização de coisas absurdas parece ser a marca do nosso tempo. Talvez isso explique, aliás, como Jair Bolsonaro pode ser eleito Presidente e tantos brasileiros não fiquem atónitos ao ver Sérgio Moro aceitar ser ministro. 

Há uma torrente de irregularidades que parecem empurrar o dique que defende o Estado de Direito. 

O facto de recorrentemente ouvirmos áudios de interrogatórios de investigações em curso e já ninguém reagir tem um efeito corrosivo no sistema. Cada passo que se dá sem consequências é um degrau para o seguinte. Talvez a transmissão em direto.


Ao que parece, Débora Carvalho, Tânia Laranjo e Mónica Palma, três jornalistas da CMTV, vão a julgamento pela divulgação do registo audiovisual dos interrogatórios de Miguel Macedo, em 2015, por violação do artigo 88º do Código do Processo Penal. 

As jornalistas em causa acharão que esta processo é uma medalha. Como se perante o entretenimento mediático a que abusivamente chamam jornalismo não existissem direitos dos cidadãos.
A divulgação de interrogatórios de investigações em curso é um crime. De repetido tantas vezes já ninguém o leva a sério. Até que um dia alguém que ilegalmente entregou a terceiros uma gravação de um interrogatório judicial e o jornalista que a recebeu sejam detidos, interrogados, julgados e presos
Não participo na desresponsabilização dos jornalistas. Não acho que o papel da comunicação social seja o de violar a lei. Pode ter de o fazer em nome de princípios fundamentais, como o controlo democrático do poder político. 

Não o pode fazer como se ser jornalista fosse uma espécie de garantia geral de impunidade. Sobretudo quando as vítimas do abuso são mais frágeis do que os próprios jornalistas, como é o caso de que agora falamos. 

Mas a responsabilidade é mesmo do sistema judicial. 

A divulgação destas escutas são um boicote de uma investigação em nome de uma justiça mediática sem qualquer validade.


Há de chegar o dia em que alguém terá coragem de levar a sério o que está na lei. A divulgação deste interrogatório é um crime. É um crime contra os suspeitos, é um crime contra a investigação, é um crime contra a Justiça e contra o Estado de Direito. 

De repetido tantas vezes já ninguém o leva a sério. 
Até que um dia, finalmente alguém que ilegalmente entregou a terceiros uma gravação de um interrogatório judicial e o jornalista que a recebeu sejam detidos, interrogados, julgados e presos. Vendo respeitados os direitos constitucionais que negam aos outros.

Estou a defender a prisão de agentes da justiça e de jornalistas? Mas onde raio está escrito que a liberdade de imprensa não está, como todas as liberdades, limitada pela lei? E que ela não se aplica a jornalistas? 

Na verdade, a liberdade de imprensa é a maior vítima deste crime. Porque é em nome dela que comerciantes de entretenimento voyeurista boicotam a Justiça. Retirando valor a esta liberdade constitucional e deixando-a à mercê de quem um dia, com argumentos que irão parecer razoáveis, a queira suprimir. 

Com tudo o que está a acontecer, não está chegada a altura do Estado de Direito se defender de quem o ataca?

Os EUA e o Hospital de São João, o SNS e os “casos” de serrar presunto


Os Democratas (ma non tropo) tiraram vantagem nas eleições realizadas ontem para a Câmara dos Representantes, deixando os Republicanos com uma derrota muito pouco significativa. Mas que não. Nada disso parece ser a realidade, preferindo apresentar os resultados como uma derrota estrondosa dos Republicanos, consequentemente de Trump. Certo é que só internamente veremos alguns resultados dessa dita derrota. Na política externa quase tudo ficará na mesma e Trump com as capacidades de virar o mundo ao contrário e sacudi-lo como melhor aprouver. Esta é a realidade. O resto faz parte dos habituais espetáculos made in USA com o apoio da comunicação social global, esses prestadores de serviços (os que são) de dúbio profissionalismo independente e realista. Há ainda os que fazem as cabeças do mundo, chamados analistas ou fazedores de opinião. A choldra é a mesma. Uns quantos irão mostrar-nos a “coisa” como ela é. Temos de procurá-los e estar atentos ao que na realidade acontece pelo mundo. Isto para os que não são vivenciados e a habitar os EUA – que é a maioria dos que planetariamente fazem parte deste mundo.

Preconizávamos ontem aqui que, grosso modo, para o mundo tudo continuaria na mesma após as referidas eleições. Fossem qual fossem os resultados de ‘vitória poucochinha’ dos Democratas. Estamos cá para ver que assim será. Tudo como antes das políticas de Trump no exterior, mais coisa menos coisa. E é isso que nos interessa. Claro que há a possibilidade futura de Trump não ser reeleito (daqui por dois anos) e então sim, algo poderá vir a ser diferente, para melhor para o mundo. Mas não será com a senhora Clinton que tem muito para contar com o apoio conhecido que deu aos terroristas do Daesh e afins. Aquela mulher pode vir a ser mais perigosa para o mundo que Donald Trump. O futuro o dirá e sustentará esta tese ou virá desmenti-la. A ver vamos.

De Portugal pouco há dizer. A modorra está instalada e inventam-se “coisas e casos” para ser notícia. Os jornalistas andam a serrar presunto enquanto outros nos tentam manipular com empolamentos de assuntos como Tancos e outros de variedade 'tuti fruti'. Até na TSF andam com as questões a ser quase de lana caprina, como ontem com Tancos, hoje com as crianças com cancro no hospital de São João, assistidas em contentores limítrofes ao edifício do hospital. E pergunta a TSF, hoje, no programa de Manuel Acácio, Fórum: “Concorda com a forma como o Governo está a tratar o problema do Hospital de São João?

Até aqui a questão não está de modo a pegar-se por ponta. Mas na rádio o que se ouve é “Concorda com o facto de as crianças com cancro no Hospital de São João estarem a ser tratadas em contentores?” Quando a pergunta devia de ser efetuada sem subterfúgios - até nem intencionais mas que podemos considerar assim.

E se a questão fosse? Concorda com os hospitais tratarem e manterem em internamento em contentores os doentes? Todos, não só as crianças do São João, daqui ou dali.

O que acontece é que a saúde está num caos. Não só devido ao governo de Costa mas sim de outros anteriores, do PSD, CDS e do PS. O plano é entregar aos privados os hospitais e tudo que lhes possa dar lucro. Como, por exemplo, nos EUA. Evidentemente que Costa e o seu governo, nem a nova ministra da Saúde, vão conseguir devolver aos portugueses o sistema de saúde que possuímos há uns bons anos atrás enquanto os abutres dos interesses privados mantiverem lobies e muito boas relações com os partidos e os políticos que ao fim e ao cabo decidem dos destinos da Nação Lusa.

Evidentemente que a situação das crianças no São João merecem toda a atenção e usufruírem de instalações e tratamentos do SNS que lhes dispensem toda a dignidade e bom profissionalismo, mas não são só eles que estão a ser desprezados em instalações hospitalares e do SNS em Portugal. Fale-se disso e resolva-se. Talvez acabando com as tais “boas relações” com os privados e aplicando os milhões cobrados sistematicamente aos portugueses com todo o rigor na sustentação de um SNS digno e de alta qualidade. Merecemos.

(Expresso curto)

https://paginaglobal.blogspot.com

UNIDADE



DOS COMUNISTAS MAIS IDOSOS, OS QUE SOFRERAM NA PELE A TORTURA, AS AGRURAS DA LUTA CONTRA O FASCISMO, DOS JOVENS QUE CORAJOSAMENTE AINDA SE BATEM PELA DERROTA DO REACIONARISMO DA DIREITA NEOLIBERAL QUE HOJE ARRANJA MIL E UMA MÁSCARAS PARA ILUDIR, ENGANAR E ROUBAR OS QUE TRABALHAM, HÁ MUITO A DISCUTIR, A ACERTAR.

POR ISSO, SE QUISERMOS QUE A NOSSA LUTA SIRVA E CONQUISTE DE VEZ AQUILO PORQUE SEMPRE LUTÁMOS, NÃO PODEMOS ANDAR DE COSTAS VIRADAS E EMBARCAR EM "MODERNICES" IDEOLÓGICAS QUE TRAZEM ESCONDIDAS DESVIOS BURGUESES E OBEDIENTES À SOCIEDADE CAPITALISTA E FASCISTA.

A LUTA, A DE ANTES, TENAZ E SEM TRÉGUAS, NÃO PODE ABRANDAR NOS DIAS DE HOJE. OS PROTAGONISTAS DAS INJUSTIÇAS, OS INIMIGOS DA LIBERDADE SÃO OS MESMOS DE SEMPRE EMBORA COM OUTRAS MÁSCARAS, ARDIS E ARMADILHAS, PARA QUE A RESISTÊNCIA À MISÉRIA, À GUERRA, À FOME, À EXPLORAÇÃO VÁ PERDENDO FORÇA E ACABE SUBMISSA.



António Garrochinho

SEM PAPAS NA LÍNGUA - O RETRATO, A EXPRESSÃO DE "REBANHO" UMA FORMA DIRIA, CLÁSSICA. DE DEFINIR A OBEDIÊNCIA






O RETRATO, A EXPRESSÃO DE "REBANHO" UMA FORMA DIRIA, CLÁSSICA. DE DEFINIR A OBEDIÊNCIA, NÃO HÁ MUITO TEMPO, SERVIA PARA ROTULAR OS QUE OBEDIENTES SEGUIAM TODAS AS DIRECTRIZES SOBERANAS DE MINISTROS, SECRETÁRIOS DE ESTADO, DIRIGENTES POLÍTICOS E NÃO SE MANIFESTAVAM CONTRA O QUE ESTAVA ERRADO.

SE OS RESPONSÁVEIS PELA MÁ GOVERNAÇÃO OS QUE APROVAM LEIS E OS QUE DEIXAM QUE ELAS SEJAM PENALIZADORAS MAS SE REFUGIAM NA "CATEQUESE" QUE É MELHOR TER UM EURO DO QUEUM CÊNTIMO NA ALGIBEIRA SÓ ME LEMBRAM O REACCIONARISMO DO PATRONATO FASCISTA QUE DISSE SEMPRE E PRECISAMENTE A MESMA COISA.

- É MELHOR TER TRABALHO MAL PAGO DO QUE ESTAR DESEMPREGADO

MUITO E HÁ BEM POUCO TEMPO, NA ESQUERDA, REPITO, NA ESQUERDA, HÁ BEM POUCO TEMPO SE CONTESTAVAM ESTAS AFIRMAÇÕES E PRÁTICAS FASCISTAS E PEDIA-SE COM RAZÃO A CADA SEGUNDO O ROLAR DE CABEÇAS DOS PROTAGONISTAS QUE APLICAVAM ESTAS POLÍTICAS E SEM VERGONHA NA CARA AS IMPUNHAM PARA DESGRAÇA CONTÍNUA DOS EXPLORADOS E ENGANADOS

AGORA TUDO MUDOU ! SÓ OS MORTOS É QUE NÃO DÃO POR ISSO ! OS MORTOS E OS INTERESSADOS !

A "POBRE" VIDA DOS EXPLORADOS, DOS DESEMPREGADOS DE LONGA DURAÇÃO, DAS FAMÍLIAS POBRES DESPEJADAS, OS QUE NÃO TÊM DINHEIRO PARA CUIDAR DA SUA SAÚDE NÃO SE ALTEROU.

O QUE SE ALTEROU FOI O "COMPADRIO" COM TODAS ESTAS INJUSTIÇAS EM NOME DE UMA ESTRATÉGIA QUE VAI SER UM DESASTRE A BREVE PRAZO.

UM DESASTRE PARA OS QUE NÃO MERECEM TODAS ESTAS TRAIÇÕES E ESTE JOGO POLÍTICO ONDE SÓ LHES RESTA OBEDECER, SENDO DESCONSIDERADOS QUANDO ALERTAM E SE MANIFESTAM CONTRA AS FERIDAS E MAZELAS QUE SOFREM HÁ MAIS DE QUATRO DÉCADAS.



António Garrochinho

terça-feira, 6 de novembro de 2018

A REVOLUÇÃO RUSSA


Foi uma epopeia que se escreveu não apenas durante os breves e intensos “dez dias que abalaram o mundo”, mas uma gesta iniciada muito antes, pelo “grande povo russo”, para usar a expressão de seu maior escritor, Leon Tolstói. 

Na Revolução russa, pensadores revolucionários e homens de ação de épocas anteriores, ativistas políticos, agitadores e organizadores da luta contra a autocracia czarista e, desde o início do século 20, o Partido Bolchevique, sob a direção de Lênin, com todos os revolucionários de sua geração, desempenharam papel decisivo, quando se exigiu a intervenção do fator subjetivo. Mas sem a plena mobilização da atividade criadora das massas populares, fruto de prolongado e aturado acúmulo de forças, não é possível o progresso social nem empreender o salto civilizacional. O que, por sua vez, requer o protagonismo das massas e das classes, condição determinante para o desempenho do papel do indivíduo.
Na sociologia e na historiografia do período pré-marxista, assim como nos tempos atuais, de hegemonia do pensamento burguês, predomina a opinião de que o papel determinante no desenvolvimento da sociedade é desempenhado pela “grandes figuras”, “os eleitos”, a chamada elite, enquanto as massas populares não são outra coisa senão mão de obra e “carne de canhão”, uma multidão passiva, ignorante, sem capacidade criadora, que se dirige às cegas para onde as conduzem os líderes. 

Esta manifestação de idealismo e subjetivismo teve a sua mais completa refutação na Revolução russa e toda a torrente de acontecimentos subsequentes, ao longo de décadas de construção do socialismo.
A revolução vitoriosa em 1917, com a consequente instauração do regime socialista e o início da construção da nova sociedade, trouxe para a cena dos conflitos sociais e geopolíticos a contradição entre os dois sistemas opostos, o socialista e o capitalista.

Na vitória da Revolução russa foi decisivo o papel dirigente desempenhado pela classe operária, por meio do Partido Bolchevique. 

O proletariado russo dentro de um tempo curto tinha feito duas revoluções democrático-burguesas e conquistado autoridade como dirigente do povo na luta contra o absolutismo, para derrubar a burguesia e instaurar a ditadura do proletariado.


A Grande Revolução Socialista na Rússia aconteceu em 7 de novembro de 1917
 
Criou-se no país uma grande força social: a aliança da classe operária com o campesinato pobre, o qual, pela própria experiência e o grande trabalho dos bolcheviques, convenceu-se de que somente sob a direção do proletariado conquistaria a liberdade, a terra, a paz. A organização dos sovietes como poder revolucionário era a encarnação dessa aliança.


A condição decisiva para a vitória foi a direção política-ideológica do  Partido Bolchevique, que entrelaçou a verdade geral do marxismo-leninismo com a prática revolucionária do próprio país. 

Ele conseguiu unir a luta do proletariado pelo socialismo, a luta dos camponeses pela terra e contra a exploração e a violência dos latifundiários, a luta de libertação nacional dos povos oprimidos da Rússia contra a opressão nacional e luta de todo o povo contra a guerra imperialista. 

O Partido conseguiu separar as massas da influência dos partidos oportunistas e derrotou as suas tentativas e do Governo Provisório de impedir o desenvolvimento e a vitória da revolução socialista.


Variados fatores externos, que abordaremos adiante com mais detalhes na sequência influíram na vitória da Revolução de Outubro.

Peculiaridades do auge revolucionário

O auge revolucionário na Rússia, entre fevereiro e outubro de 1917 foi marcado por um fenômeno peculiar, cuja solução foi a insurreição armada e a tomada do poder pelos bolchevique: a dualidade de poderes surgida a partir da Revolução de Fevereiro.

As contradições de classe na Rússia se agravaram ainda mais durante a Primeira Guerra Mundial. O proletariado sofria a dupla exploração dos capitalistas nacionais e estrangeiros. Mais da metade do proletariado concentrava-se em grandes empresas. 

Esta concentração facilitava a organização e dava força à sua luta. A feroz exploração, o regime policial, a luta imperialista e a constante atividade do Partido Bolchevique entre as massas faziam com que o movimento operário assumisse acentuado caráter político.


Os quadros e agitadores bolcheviques atuavam vivamente entre as massas nas cidades, no campo e no front de guerra. Em cada greve e ação de massas ouviam-se as palavras de ordem “Abaixo o czarismo!” “Abaixo a guerra!”. Em 27 de fevereiro de 1917, essas manifestações se transformaram em insurreição em Petrogrado. 

Os trabalhadores explodiram depósitos de armas, armaram-se e politicamente se forjou a aliança com os soldados, em sua maioria camponeses. Os soldados não só se recusaram a atirar contra os insurretos, mas na maioria dos casos se uniram a eles. 

Em uma semana o poder do czar foi derrubado em toda a Rússia. Realizava-se, assim, o programa mínimo do Partido Bolchevique e a primeira etapa da revolução russa, que tinha começado em 1903.

É a partir daqui que surge este fenômeno original da Revolução Russa que foi a dualidade de poderes, a característica marcante de todo o desenvolvimento da situação política do país até a tomada do poder pelos bolcheviques, nove meses depois. A caracterização de tal situação e o manejo tático e estratégico concentraram a disputa de posições políticas e condutas práticas entre os principais sujeitos políticos do processo revolucionário russo: mencheviques, socialistas-revolucionários e bolcheviques.

A análise de Lênin sobre o momento histórico que a Rússia atravessava após a revolução de fevereiro e o rigor com que tratava o novo governo democrático constituem um desmentido a todas as falsificações da história que tentam traçar um perfil do líder revolucionário antagônico ao que ele de fato foi. Em As tarefas do proletariado na nossa revolução, o líder bolchevique caracteriza em termos rigorosos o poder surgido da revolução de fevereiro:

“O velho poder czarista, que representava apenas um punhado de latifundiários feudais, que comandava toda a máquina do Estado (exército, polícia, funcionalismo), foi derrotado, afastado, mas não recebeu o golpe de misericórdia” (…) “O poder de Estado passou na Rússia para as mãos de uma nova classe, a saber: da burguesia e dos latifundiários aburguesados. 

Nesta medida a revolução democrático-burguesa na Rússia está terminada”(…) Encobrindo-se com uma fraseologia revolucionária, este governo nomeia para os postos de comando partidários do antigo regime. 

Este governo esforça-se para reformar o menos possível todo o aparelho da máquina de Estado (exército, polícia, burocracia), pondo-o nas mãos da burguesia. 

O novo governo começou já a pôr toda a espécie de obstáculos à iniciativa revolucionária das ações de massas e à conquista do poder pelo povo a partir de baixo – única garantia de êxitos reais da revolução” (…)


Depois de arrolar uma série de outras razões, Lênin chegava à conclusão de que “o novo governo burguês não merece, nem mesmo no campo da política interna, nenhuma confiança do proletariado, e é inadmissível que este lhe preste qualquer apoio”.


Em março de 1917, os sovietes de deputados operários, camponeses e soldados, criação tipicamente popular, peculiar das etapas anteriores da Revolução Russa (1903), irromperam com inaudita força política e orgânica. Pela via revolucionária conquistaram as liberdades democráticas, libertaram os prisioneiros políticos e instauraram comitês representativos dos soldados ao lado dos comandos militares. 

Era um momento de ebulição, revolvimento das classes sociais, em que a numerosa pequena burguesia imprimia ao processo o caráter política e ideologicamente flutuante, próprio de seu caráter de classe. Pela força numérica dos seus partidos –  os socialistas-revolucionários e os mencheviques – a pequena burguesia dava o tom do movimento revolucionário e hegemonizava os sovietes, em disputa com os bolcheviques. Predicavam o caráter burguês da revolução e consideraram imperioso apoiar incondicionalmente o Governo Provisório.



Em 1917 Vladimir Lênin apresentou as célebres Teses de Abril


Assim, como resultado da vitória da revolução democrático-burguesa de fevereiro e da derrocada da autocracia czarista, foram criados simultaneamente dois poderes das classes opostas: de um lado, o poder dos operários e camponeses, representado pelos sovietes, que constituíam a única organização ampla e democrática dos trabalhadores, camponeses e militares revolucionários, e, de outro lado, o poder da burguesia, representado pelo Governo Provisório.

A dualidade de poderes não podia continuar por longo tempo; terminaria com a consolidação do poder da burguesia ou com a emergência do poder dos trabalhadores, questão que só seria resolvida pela luta política de classes.

O povo armado criou os sovietes de deputados operários, camponeses e de soldados como órgão e poder e obedecia somente a estes, por isso o Governo Provisório não podia exercer seu poder sem a aprovação dos sovietes. 

A burguesia foi temporariamente obrigada a substituir a política de violência contra o povo por uma política de engodo. O Governo Provisório mantinha-se graças ao apoio dos chefes socialistas-revolucionários e mencheviques. Tentava ganhar tempo a fim de se fortalecer e visava a despertar nas massas a ilusão no parlamentarismo burguês, fazendo esforços para enganá-las declarando que o problema da paz, da terra e do pão se resolveria por um órgão “representativo do povo”. Enquanto isso, a própria eleição desse órgão, a Assembleia Constituinte, era adiada.


O Partido Bolchevique lançou a palavra de ordem de desconfiança completa no Governo Provisório. 

Atuava para afastar as massas da influência dos socialistas-revolucionários e dos mencheviques e esclarecê-las de que as demandas em nome das quais foi feita a revolução não poderiam ser atendidas pelo Governo Provisório. 

Os bolcheviques também explicavam às massas que o Governo Provisório não daria a terra aos camponeses, porque a maioria das terras estavam hipotecadas aos bancos. Por outro lado, estando ligado aos imperialistas da Entente, o Governo Provisório era a favor da continuidade da guerra imperialista e pensava que a vitória militar lhe daria possibilidade de impedir a continuidade da revolução.


A conquista da liberdade, da terra, da paz e do pão só poderia ser assegurada pelo poder do proletariado. Assim, era necessário derrubar o Governo Provisório e seus apoiadores. Por isso, Lênin terminou seu primeiro discurso em Petrogrado, depois de retornar do exterior, com o chamamento “Viva a Revolução Socialista!”


O poder político, essência da revolução

Quando se torna necessário substituir a velha ordem por uma nova, as classes reacionárias recorrem a todos os meios de que o Estado dispõe, incluindo a violência, o que pressupõe não apenas fatos episódicos, mas uma violência sistêmica. 

O Estado monopolizado pelas classes dominantes assume manifestamente sua essência ditatorial por meio de diferentes formas de governo, incluindo aquelas em que as liberdades individuais e coletivas são negadas. 

É isto que torna indispensável a destruição da máquina estatal burguesa como condição para construir instituições estatais novas, que abram caminho ao exercício do poder pelas classes trabalhadoras.


Não se trata apenas de uma mudança de governo, de alterações nos gabinetes ministeriais, de alternância entre partidos que representam diferentes facções das classes dominantes ou mesmo interesses imediatos e parciais dos trabalhadores, por meio de eleições. 

Mas de uma tarefa complexa que envolve as forças armadas, os aparatos policiais, o poder judiciário, a administração, o sistema educacional, a mídia etc.


Diferentes setores da social-democracia, alguns invocando Marx e Engels e opondo-os a Lênin argumentaram em sentido contrário, apresentando como conceito ultrapassado a destruição do aparato estatal do Estado burguês enquanto tarefa essencial da revolução dos trabalhadores. Substituíram este conceito por diferentes tipos de “controle” e “mudanças democráticas” que levariam a uma transformação gradual do caráter do Estado. 

Na verdade, a rejeição à ideia de derrocada do estado burguês se confunde aqui com o próprio rechaço à ideia de revolução, que pode assim ser substituída por um fantasioso exercício do “poder democrático” mediante reformas, colaboração de classes, desenvolvimento cultural e civilizacional, impulsionados por coalizões democráticas, lutas eleitorais, compartilhamento de gestão, incluindo a cooperação internacional.


A essência do poder da revolução é constituir-se como o novo tipo de Estado que expressa e defende os interesses e aspirações vitais da classe operária e demais massas trabalhadoras, um instrumento para enfrentar as classes até então dominantes e construir o socialismo. O caráter de classe e a missão do poder de Estado dos trabalhadores se manifesta em todas as ações que realiza.

Viragem estratégica e tática

O ponto de viragem na estratégia e na tática revolucionária do Partido Bolchevique, em 1917, foi a elaboração programática de Lênin sintetizada nas famosas “Teses de Abril”, que constituíram o plano do Partido Bolchevique para a passagem da primeira etapa da revolução, em que a burguesia empalmou o poder, à segunda etapa, que derrocaria a burguesia e instauraria o poder dos trabalhadores. Para alcançar esse objetivo, era indispensável que o Partido Bolchevique conquistasse as massas populares. 

Por isso Lênin propôs que o Partido saísse à frente do movimento revolucionário e conquistasse no calor da luta a autoridade de dirigente das massas; que realizasse um trabalho persistente e paciente, para convencer as massas de que suas demandas só seriam atendidas se o Partido Bolchevique conquistasse o poder; e que explorasse os erros táticos do Governo Provisório e dos partidos menchevique e socialista-revolucionário, a fim de desmascará-los aos olhos das massas e afastá-las da sua influência.


Em 18 de abril de 1917, o Governo Provisório declarou que continuaria a guerra “até a vitória final”. 

O Partido Bolchevique explorou esse erro tático e dirigiu as grandes manifestações de 20 e 21 de abril com as palavras de ordem “Abaixo a Guerra!” e “Todo o poder aos sovietes!” 

A burguesia utilizou os métodos habituais de dividir o movimento operário e o povo; criou o governo de coalizão no qual ao lado dos representantes da burguesia entraram os socialistas revolucionários e os mencheviques. Este ato de traição fez com que a vanguarda da classe operária, o proletariado industrial, se ligasse mais estreitamente com os bolcheviques. Apesar disso, no primeiro Congresso dos Sovietes de toda a Rússia, realizado em junho em Petrogrado, a maioria dos delegados ainda era composta por socialistas revolucionários e mencheviques, que demandaram o apoio ao governo de coalizão. 

Defenderam a coalizão com a burguesia, afirmando que na Rússia não havia nenhum partido político em condições de tomar e manter todo o poder. Lênin respondeu: “Há um tal partido, o nosso partido não recusa isto, está pronto para em qualquer situação tomar o poder”. Lênin argumentou que somente o poder do proletariado poderia dar a terra aos camponeses, o pão aos trabalhadores, e lutar contra a guerra imperialista e por uma paz democrática e justa.
Compartilhando o poder, socialistas revolucionários e mencheviques adotaram o discurso da burguesia russa sobre a guerra, que já não tinha caráter imperialista, mas seria uma “guerra em defesa da revolução”.


O ambiente geral favorecia a luta, mas não tinha ainda amadurecido a situação revolucionária propícia à insurreição armada, tarefa decidida pelo 6º Congresso do Partido Bolchevique, realizado na ilegalidade em julho de 1917. As massas trabalhadoras urbanas e o campesinato ainda estavam fortemente influenciadas pelos socialistas revolucionários e mencheviques.  A insurreição dos trabalhadores de Petrogrado ficaria isolada e se fosse precipitada a vanguarda do proletariado seria destruída.


Contrariando todas as teses estereotipadas de que a Revolução foi um golpe de Estado, fruto do voluntarismo leninista, num magistral texto intitulado “Sobre os Compromissos”, de setembro  de 1917, Lênin vislumbra, em face da evolução do quadro político, a possibilidade do desenvolvimento pacífico da revolução, sob determinadas condições.


Revelando maestria no manejo tático, o líder revolucionário propunha um acordo com os mencheviques e socialistas revolucionários para assegurar que todo o poder fosse entregue aos Sovietes:


“O nosso partido, como qualquer outro partido político, aspira ao domínio político para si. O nosso objetivo é a ditadura do proletariado revolucionário. 

Meio ano de revolução confirma, com extraordinária clareza, força e eloquência, a justeza e a inevitabilidade dessa exigência, precisamente no interesse da revolução atual, pois de outro modo o povo não obterá nem uma paz democrática, nem a terra para os camponeses, nem a completa liberdade (uma república inteiramente democrática). O curso dos acontecimentos em meio ano da nossa revolução, a luta das classes e dos partidos, o desenvolvimento das crises de 20-21 de Abril, de 9-10 e 18-19 de Junho, de 3-5 de Julho e de 27-31 de Agosto mostraram-no e demonstraram-no.


Agora começou na revolução russa uma viragem tão brusca e tão original que, como partido, podemos propor um compromisso voluntário, não certamente à burguesia, nosso inimigo de classe principal e direto, mas aos nossos adversários mais próximos, os partidos pequeno-burgueses democráticos “dirigentes”, os socialistas-revolucionários e os mencheviques.


Só como exceção, só por força de uma situação especial que, evidentemente, se manterá apenas por um período muito curto, podemos propor um compromisso a estes partidos e, em minha opinião, devemos fazê-lo.


Compromisso é, da nossa parte, o nosso regresso à reivindicação de antes de Julho: todo o poder aos Sovietes, governo de socialistas-revolucionários e mencheviques, responsável perante os Sovietes.
Agora e só agora, e talvez durante alguns dias apenas, ou uma-duas semanas, um tal governo poderia criar-se e consolidar-se de modo inteiramente pacífico. Poderia garantir com uma probabilidade gigantesca um movimento pacífico para a frente de toda a revolução russa e possibilidades extremamente grandes de grandes passos em frente do movimento mundial para a paz e a vitória do socialismo.


O compromisso consistiria em que os bolcheviques, sem pretender uma participação no governo (impossível para um internacionalista sem a realização efetiva das condições da ditadura do proletariado e do campesinato pobre), renunciassem à apresentação imediata da reivindicação da passagem do poder para o proletariado e para os camponeses pobres e aos métodos revolucionários de luta por esta reivindicação.


Lênin apresentava suas condições para o compromisso: “A condição, por si mesmo evidente e não nova para os socialistas-revolucionários e mencheviques seria a plena liberdade de agitação e a convocação da Assembleia Constituinte sem novos adiamentos, ou mesmo num prazo mais breve.

Os mencheviques e os socialistas revolucionários, como bloco governamental, concordariam (supondo que o compromisso se realizava) em formar um governo inteira e exclusivamente responsável perante os Sovietes, com a transmissão para as mãos dos Sovietes de todo o poder, incluindo o local. Nisto consistiria a “nova” condição.


Por mais difícil que seja agora (depois de Julho e Agosto, dois meses que equivalem a duas décadas de tempos sonolentos, “pacíficos”) esse compromisso, parece-me que existe uma pequena possibilidade para a sua realização, e essa possibilidade é criada pela decisão dos socialistas-revolucionários e mencheviques de não entrar num governo juntamente com os democratas-constitucionalistas”.


O fim da dualidade de poderes e a insurreição

O Governo Provisório cumpria os desígnios das classes dominantes, no que não poupava ameaças ao movimento revolucionário. O presidente do Governo Provisório, Kerenski, chegou a ameaçar reprimir “a ferro e fogo” as ações comandadas pelos bolcheviques. 

A burguesia ameaçava instaurar uma ditadura militar. Até a restauração monárquica era considerada uma opção válida. Nesse quadro entra em ação o golpe o general Kornílov, que juntamente com os imperialistas da Entente, investiu contra a base principal dos bolcheviques em Petrogrado, em agosto de 1917. 

Os bolcheviques fizeram um chamamento aos operários e soldados da cidade para enfrentar com armas a contrarrevolução. Os trabalhadores responderam a esse chamamento criando novas unidades da Guarda Vermelha. Os agitadores bolcheviques esclareceram os militares dos batalhões de Kornilov sobre os objetivos do complô contrarrevolucionário desse general. Tudo isso fez com que as forças contrarrevolucionárias fossem derrotadas graças à luta das massas sob a direção dos bolcheviques.
A derrota do complô de Kornilov mudou inteiramente a correlação de forças entre a revolução e a contrarrevolução. Já não era possível seguir a política de conciliação dos socialistas revolucionários e dos mencheviques com os capitalistas e latifundiários. 

Os camponeses compreenderam que por trás das pretensões de instaurar a ditadura militar estavam os latifundiários que não queriam entregar a terra aos camponeses e que a política dos socialistas-revolucionários, independentemente de suas intenções,  servia a esses propósitos. 

Os soldados se convenceram de que o governo burguês pretendia prosseguir a guerra imperialista. Para os trabalhadores das nações oprimidas tornou-se claro que se fosse instaurada a ditadura militar seria impossível acabar com a opressão nacional.


Os acontecimentos se precipitavam. Durante os meses de setembro e outubro foram tomadas medidas para a preparação militar dos trabalhadores; foram dadas orientações e atribuídas tarefas aos marinheiros no Báltico e batalhões militares revolucionários. 

A insurreição em Petrogrado e em Moscou aceleraria a vitória da revolução em todo o país. Também a burguesia concentrava forças contrarrevolucionárias na capital. O tempo não esperava. Em 10 de outubro de 1917 na reunião do Comitê Central do Partido Bolchevique foi aceita a proposta de Lênin de organizar imediatamente a insurreição armada. 

Sob a direção do Partido Bolchevique criou-se o Comitê Militar Revolucionário para a preparação e direção da insurreição. Ao descobrir o plano insurrecional, o governo burguês enviou em 24 de outubro as forças contrarrevolucionárias para atacar sedes e jornais do Partido Bolchevique. A Guarda Vermelha rechaçou essas forças. 

O jornal do Partido saiu com um chamamento ao povo para derrubar o Governo Provisório. Lênin chegou clandestinamente ao Smolni, onde estava o Comitê Central do Partido Bolchevique e se pôs à frente do centro dirigente da revolução. Sem esperar a reunião do 2º Congresso dos Sovietes de toda a Rússia, a insurreição armada começou em 24 de outubro de 1917. À noite, os batalhões operários ocuparam escritórios governamentais, correios, estações de trem, pontes etc. O cruzador “Aurora” apontou seus canhões para o Palácio de Inverno, onde estava o Governo Provisório. 

O Palácio de Inverno foi cercado pela Guarda Vermelha e os marinheiros do Báltico. Na manhã de 25 de outubro proclamou-se a queda do Governo Provisório.


Na noite de 25 de outubro (7 de novembro), o Palácio de Inverno foi atacado e invadido. Os membros do Governo Provisório foram presos. Em Petrogrado triunfou a insurreição armada, preparada e dirigida pelo Partido Bolchevique liderado por Lênin. Caiu o poder da burguesia. Começava uma nova era.


Com a vitória da Revolução Socialista de Outubro, a instauração do poder soviético na Rússia, realizou-se a segunda etapa da Revolução: a da transformação da revolução democrático-burguesa em revolução socialista.


Nesse contexto, a premissa para a tática e a estratégia leninistas foi a análise do caráter da época, a partir da identificação das contradições fundamentais do sistema capitalista chegada à etapa imperialista: a contradição entre o trabalho e o capital, agravada com o advento dos monopólios e o capital financeiro; a contradição entre as nações e os povos oprimidos e o imperialismo, gerada pela pressão e a exploração dos povos, com as políticas neocolonialistas, com a cumplicidade da burguesia reacionária de cada país onde, de uma ou outra maneira, se submetiam à sua influência; a nova realidade do sistema capitalista na etapa imperialista gerou também a contradição entre as potências em luta por uma nova divisão do mundo.



A revolução assinala o início de uma grande época na história: a da transição do capitalismo ao socialismo

O contexto externo – a guerra mundial


Na cadeia de acontecimentos que fazem parte do desencadeamento deste grande conflito que foi a Primeira Guerra Mundia, lugar de destaque é atribuído pela historiografia ao assassinato do herdeiro do trono do Império Austro-Húngaro, Franc Ferdinand, em Saraievo, por um membro de uma organização nacionalista sérvia, a 27 de junho de 1914.

Foi o pretexto para que rufassem os tambores de guerra e os canhões começassem a troar. Os círculos mais agressivos daquele império exploraram o fato para atacar e ocupar a Sérvia, o que, na conjuntura geopolítica da época, só podia ser feito após entendimentos com a Alemanha, grande potência em ascensão.

Os imperialistas germânicos consideravam que a situação era favorável para fazer a guerra, tendo em conta que a Rússia e a França, potências rivais, não estavam militarmente preparadas. Pesavam ainda no julgamento alemão as dificuldades momentâneas da Inglaterra, envolvida no conflito interno em torno da questão irlandesa.

O debate principal entre as forças do socialismo envolvia duas posições antagônicas – participar do esforço de guerra ao lado da própria burguesia ou transformar a guerra imperialista em luta revolucionária. As lideranças dos partidos socialistas da Inglaterra, França, Alemanha, Áustria-Hungria, entre outros, assumiram o lado da “suas” burguesias, fazendo chamamentos aos trabalhadores a “defender a pátria” numa guerra injusta.

Para Lênin, a posição que os socialistas tomaram posteriormente levou o movimento a uma fatal divisão e à bancarrota da Internacional Socialista.

Lênin insistia em que os revolucionários deviam compreender as causas desse fracasso. Ele considerava que a essência ideológica e política do oportunismo da Segunda Internacional era a substituição da luta de classes pela colaboração entre as classes, a negação do caminho e dos métodos da luta revolucionária.

O Partido Bolchevique, dirigido por Lênin, encetou uma luta sem quartel contra o imperialismo e os oportunistas da Segunda Internacional. Foi incansável a atividade dos bolcheviques russos para desmascarar o caráter imperialista da guerra.

Foi com esse pano de fundo que os bolcheviques elaboraram uma tática revolucionária, que se expressava na palavra de ordem – “Transformar a guerra imperialista em guerra civil!” – o que na prática significava dizer aos trabalhadores recrutados para as fileiras dos exércitos beligerantes que apontassem suas armas contra as próprias burguesias e governos, e tomassem o poder político.


O Partido Bolchevique, dirigido por Lênin, encetou uma luta sem quartel contra o imperialismo e os oportunistas da Segunda Internacional

Esta posição tornou-se um divisor de águas no seio do movimento socialista internacional, no qual surgiu também uma ala de esquerda revolucionária e internacionalista. No seio do mais poderoso partido social-democrata da época, o alemão, foi formado, em 1916, o grupo “Spartacus”, sob a liderança de Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht, o único deputado que no parlamento votou contra o orçamento para a guerra.


Desde então guerra e paz, estratégia e tática revolucionárias, socialismo e internacionalismo são exigentes temas que polarizam os partidos e organizações dos trabalhadores em todo o mundo.
Revolução internacionalista

O conjunto das realizações da Revolução de Outubro e da luta pela construção do socialismo que se lhe seguiu tem conteúdo e forma de acontecimentos épicos e não há propaganda negativa nem leitura niilista, nem mesmo a renúncia capitulacionista a seu legado que apaguem essa epopeia da memória dos povos ou esgotem sua força inspiradora nos atuais e futuros embates revolucionários.
Essa força inspiradora provém dos seus grandiosos feitos e de sua repercussão internacional. 

A Revolução Russa tornou-se paradigmática para o mundo porque fez saltar pelos ares um império reacionário, que Lênin chamava de “prisão dos povos”. Sobre seus escombros, surgiu ao cabo de uns poucos anos uma nova civilização humana, uma economia desenvolvida, um povo culto e digno. 

Sob a influência soviética cresceu o movimento operário nos países capitalistas, desenvolveu-se a luta anticolonial nos países dependentes. 

A Revolução Russa soergueu um Estado soberano e instrumentalizou um Exército poderoso que se constituiu na força capaz de derrotar o mais feroz inimigo da humanidade – o nazi-fascismo. 


A Revolução Russa e o socialismo soviético estiveram presentes como inspiração, influência indireta e apoio moral na grande Revolução chinesa, na Revolução cubana, na Resistência vietnamita. Até mesmo a adoção, pelos países capitalistas, do Estado de “bem-estar” resultou, a par das lutas sindicais e políticas nos países capitalistas, da influência da Revolução de Outubro e do socialismo na URSS.


A Revolução Socialista de Outubro e o Estado soviético por ela fundado exerceram enorme impacto no mundo e influência na organização e levantamento do movimento revolucionário mundial. 

Mostraram às massas trabalhadoras de outras nações o caminho da luta emancipadora, inspiraram-nos com a força do exemplo, impulsionaram o movimento operário e de libertação nacional durante  toda uma época histórica. 

A Revolução de Outubro impactou nas lutas contra o sistema capitalista tanto nas metrópoles quanto nas colônias e países dependentes e aprofundou ainda mais a crise desse sistema.


A Revolução russa e a subsequente construção do socialismo no país eurasiático se produziram em circunstâncias mundiais e nacionais peculiares, cuja expressão geopolítica mais importante, à época, foi a Primeira Guerra Mundial. 

O esgotamento do regime czarista criou as condições para a eclosão de movimentos revolucionários, desde o início do século 20 (revolução democrática de 1903-1905).
A Revolução de Outubro quebrou a frente do imperialismo mundial, derrubou a burguesia na Rússia, levou ao poder o proletariado em um sexto do território mundial e criou as condições para a liquidação de todas as formas de exploração e opressão do homem pelo homem.

A vitória da revolução abriu uma nova época na história contemporânea, a época da revolução proletária e nacional-libertadora, da criação da frente revolucionária do proletariado e dos povos oprimidos contra o imperialismo.

Por todas essas razões, a Revolução de Outubro foi uma revolução com caráter internacionalista.

O agravamento das contradições de classe e a influência das lições da Revolução de Outubro fizeram que desde 1918 se desenvolvessem grandes batalhas de classes na Europa e na Ásia.

Nenhum outro acontecimento político-social, como a Revolução Russa, materializou com tamanha dimensão a palavra de ordem lançada seis décadas antes por Marx: “Proletários de todos os países, uni-vos”! 

Se bem não tenha resultado na revolução proletária mundial – esta era a expectativa dos bolcheviques e de todo o movimento revolucionário à época -, a revolução socialista de 1917 teve extraordinário impacto internacional, exerceu influência direta sobre acontecimentos subsequentes, mudou a face do mundo e deixou marca indelével em todo o século 20.

Mudava a face do mundo, abria-se nova época na história da humanidade. Realizada no auge da guerra entre grandes potências que rivalizavam para dominar o planeta, a Revolução russa estabeleceu o contraponto essencial com o sistema imperialista. Desde então, a disjuntiva entre o capitalismo (imperialista) e o socialismo tornou-se uma das contradições essenciais da época. 

Os embates políticos, as guerras e as revoluções nacional-libertadoras e socialistas do século 20 eclodiram e desenvolveram-se tendo esses antagonismos como fatores objetivos condicionantes.

O poder estatal socialista que emergiu em 1917, internacionalista por natureza, tornou-se o vetor preponderante na luta pela paz mundial e o progresso social, um incontornável fator a neutralizar os efeitos da agressividade do imperialismo e a influenciar positivamente as lutas dos trabalhadores e dos povos.

Um balanço necessário: esplendores e sombras

A revolução de 1917 foi propulsora do progresso social. Partindo de uma base econômica atrasada, em poucas décadas a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas tornou-se um dos países mais prósperos e socialmente mais avançados do mundo. 

Sobre os escombros do antigo regime, surgiu uma nova civilização humana, uma economia desenvolvida, realizou-se imenso progresso material e espiritual, conquistou-se a justiça, a igualdade, nasceu um povo culto e digno. São incomparáveis as conquistas sociais, as reformas estruturais, os saltos civilizacionais operados pelo novo ordenamento político do Estado proletário baseado na aliança operário-camponesa.

A luta pelo socialismo, como fenômeno histórico, é fruto também de suas circunstâncias. Na Rússia o novo poder defrontou-se com a guerra civil em que as classes derrocadas contaram com o apoio de 14 exércitos estrangeiros numa ação contrarrevolucionária durante três anos.


Partindo de uma base econômica atrasada, em poucas décadas a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas tornou-se um dos países mais prósperos e socialmente mais avançados do mundo
 
Os primeiros tempos da construção do novo regime conheceram o comunismo de guerra e a NEP – Nova Política Econômica. Seguiram-se a conflitiva coletivização do campo e a industrialização vertiginosa, em meio a uma luta de classes exacerbada e a tumultuadas lutas políticas nos órgãos de governo e no partido dirigente. Enquanto promovia a industrialização acelerada, o país viu-se diante da circunstância de preparar-se para a guerra, num quadro mundial em que a revolução, depois de um período de ascensão e de vitórias parciais na Alemanha, Hungria e Sérvia, entrava em refluxo.

O Período de industrialização acelerada, de fins dos anos 20 do século passado até o começo da Segunda Grande Guerra, foi o mais florescente do ponto de vista econômico e social, de um impressionante, incomparável e irrepetível desenvolvimento, em que se exigiu tudo das massas trabalhadoras e do partido, período de mobilização total, quando se trabalhava e vivia em permanente campanha e em ambiente de cerco. Por outro lado, talvez residam nesse período – marcado por uma acerba luta de classes, por atos de sabotagem e ameaças de agressão pelos inimigos  externos e internos, em que se exigiu também centralização absoluta no comando da vida econômica como na política –, as causas estruturais para que o regime soviético assumisse as características que assumiu, com resultados gloriosos, mas também com erros que o debilitaram. 


O heroísmo da façanha soviética, e a urgência do esforço de edificação somado à inexperiência, levaram a direção comunista a atuar com a noção do socialismo pleno e mesmo do comunismo imediato e ao abandono de qualquer ideia de transição longa. 

A mentalidade de cerco e a necessidade de comando ultracentralizado para garantir a mobilização total e permanente do povo fecharam o regime, que não chegara a desenvolver a institucionalidade democrática socialista – a democracia de massas, popular, dos sovietes, essência da ditadura do proletariado, segundo a formulação clássica do marxismo-leninismo. Isto acabou por alienar da governação do país as massas populares, o único sujeito criador e transformador da História. 

Não se equacionou satisfatoriamente a antinomia entre o  desenvolvimento extensivo e o intensivo, com repercussões negativas na produtividade e no atendimento de demandas básicas das massas populares quanto a bens e serviços.

Cada período da construção do socialismo teve sua importância e história, próprias. Foram circunstâncias que para o bem e o mal construíram o conjunto da obra e se integraram no esforço criador da nova sociedade.
Uma luta sempre atual

Para os comunistas, a Revolução triunfante em 1917 será sempre uma fonte de inspiração nos combates que se realizam na atualidade, sob novas condições, na resistência à ofensiva do sistema capitalista contra os trabalhadores e os povos e para abrir caminho à nova etapa da luta pelo socialismo.
Objetivamente, a extinção da União Soviética, no início dos anos 1990, marcou uma viragem negativa na evolução do quadro mundial. Sendo resultado de uma contrarrevolução, cujos primeiros sinais se manifestaram a partir do 20º Congresso do Partido Comunista da União Soviética (1956), a derrota da Revolução soviética implicou inaudito retrocesso na situação política internacional, quadro em que a burguesia, o imperialismo e toda a reação mundial arremetem contra todas as conquistas democráticas, sociais, civilizacionais da humanidade.

A derrota do socialismo, para a qual concorreram também fatores externos ligados à pressão e ao cerco dos países imperialistas, criou uma situação inteiramente nova no mundo. 

Como já assinalamos, no terreno das ideias deu azo à negação dos valores da Revolução de Outubro. No terreno político ensejou o surgimento de uma correlação de forças extremamente desfavorável aos que lutam por uma sociedade liberta da exploração capitalista. Hoje é corrente a visão de que o socialismo foi definitivamente derrotado e saiu da cena histórica como realidade e perspectiva.

Não compartilhamos esta visão. 

O socialismo continua sendo uma necessidade objetiva da evolução da civilização humana. 

E, nessa ótica, o socialismo e a sociedade sem classes, o comunismo, são o ideal supremo a justificar a existência e a atividade do Partido Comunista. Ao reafirmarmos os princípios e os ideais de Outubro de 1917, simultaneamente nos aferramos à realidade da época e à do país em que atuamos. Hoje parece claro que está sepultada a ideia do “comunismo súbito”. 

O exame atento da História indica que a construção do socialismo e o alcance de uma sociedade tão avançada quanto o comunismo – sociedade sem classes, reino da abundância, liberdade triunfante sobre a necessidade – é tarefa para muitas gerações que atravessará diferentes épocas históricas.






Revolução Russa - 1917



O CONTEXTO EUROPEU DO SÉCULO XIX E AS IDÉIAS SOCIALISTAS


O século XIX foi marcado por várias transformações econômicas, políticas e sociais, que tiveram profundo impacto no destino das nações européias. O avanço no processo de produção ocasionado pela Segunda Revolução Industrial trouxe consigo novas necessidades, como a abertura de novos mercados consumidores.

Como conseqüência do avanço industrial ocorreram também mudanças na estrutura social. A burguesia e nobreza formavam as classes dominantes, seguida pela média e pequena burguesia. Na base da pirâmide social encontravam-se o proletariado e o campesinato. As péssimas condições em que viviam os trabalhadores refletia a má distribuição da riqueza, provocando o distanciamento entre as classes sociais.

Neste contexto, a classe operária começou a se organizar sob forte influência das correntes socialistas que ganhavam forma naquele século. Idéias dos Socialistas Utópicos, anarquistas e comunistas ganhavam espaço na luta do proletariado. 

Mas foi com o Socialismo Científico de Karl Marx e Friederich Engels, com suas críticas ao modelo capitalista de produção e ao regime político liberal defendido pela burguesia que a luta do movimento operário ganharia novos contornos.

Marx e Engels, buscando entender as origens das desigualdades sociais existentes na sociedade daquela época, identificaram a existência da luta de classe e a necessidade de uma revolução social para mudar o quadro de exploração reinante. 

Em várias partes da Europa estas idéias foram bem recebidas pelos operários, que passaram a tê-la como principal orientação em sua luta por uma sociedade mais justa. 

Na Rússia, devido ao grave quadro social, estas idéias tiveram forte penetração.



A Rússia Pré-Revolucionária

O Império Russo tinha características particulares em sua estrutura política, econômica e social





O texto abaixo apresenta mais detalhes do quadro sócio, politico e econômico da Rússia antes da revolução de 1917.

A CRISE DO CZARISMO

Os fatores históricos e sociais que fizeram possível a Revolução de Fevereiro de 1917, prólogo da revolução de Outubro dirigida pelo Partido Bolchevique oito meses mais tarde, têm suas raízes fincadas nas profundas contradições da Rússia czarista, um típico país camponês que se incorporou à cadeia da economia capitalista mundial somente no final do século XIX, quando os países capitalistas mais desenvolvidos da Europa e da América do Norte já haviam ingressado na fase imperialista.


O desenvolvimento capitalista da Rússia foi favorecido por investimentos de capitais originários da França, Inglaterra e Alemanha, que afluíram massivamente ao império dos czares entre 1880 e 1900, possibilitando uma rápida transformação na economia e na sociedade russa. Entretanto, o vigoroso desenvolvimento industrial que concentrou grandes fábricas nos principais centros urbanos, se fez de tal forma que as mais avançadas estruturas e técnicas do capitalismo coexistiam e completavam-se com o atraso econômico no campo, onde ainda imperavam relações semifeudais (a servidão feudal só foi abolida em 1861) e a concentração de terras nas mãos de um punhado de latifundiários. Dessa forma, manifestavam-se na Rússia todas as contradições características dos países capitalistas de desenvolvimento desigual e combinado.

No início do século XX a Rússia possuía a maior população da Europa, 174 milhões de habitantes. Destes, cerca de 80% ainda viviam no campo. 

A maior parte das terras estava em mãos de uma minoria de 30.000 latifundiários, enquanto milhões de camponeses pobres viviam miseravelmente em pequenas propriedades e outros tantos não possuíam nenhuma terra, vendo-se obrigados a trabalhar como operários agrícolas nas terras dos latifundiários. Esta situação condenava os camponeses à pobreza, à miséria e à fome, conduzindo a revoltas periódicas que eram violentamente reprimidas pela autocracia czarista.


A dissolução das relações feudais no campo e o desenvolvimento da grande indústria lançaram uma parcela significativa dos camponeses nos centros urbanos, dando origem a um jovem e combativo proletariado fabril de aproximadamente 10 milhões de operários; um proletariado muito concentrado (as fábricas com mais de 1.000 operários empregavam 41,4% da classe operária russa) que, tendo rompido bruscamente com suas velhas relações sociais, estava aberto para as idéias revolucionárias mais avançadas.


A opressão que a autocracia czarista exercia sobre uma multidão de povos e nações que constituíam o império russo era outro fator que alimentava as contradições da sociedade. As lutas de libertação nacional de polacos, finlandeses, ucranianos, letões, lituanos, muçulmanos, etc., que sofriam a opressão nacional nas mãos da casta dominante grã-russa, tiveram um papel muito importante no processo revolucionário russo e acertaram golpes mortais contra a monarquia czarista.

Fonte:http://www.geocities.com/lbi_br/rmr1002.html

O texto abaixo foi retirado da Wikipedia, leia e entenda como se organizaram os grupos que faziam oposição ao regime czarista russo. Conheça os Bolcheviques e os Mencheviques,estes dois partidos serão os protagonistas dos acontecimentos na Rússia, em 1917.
A Oposição política -partidária ao Czar Nicolau II
Em 1898, foi fundado o Partido Operário Social-Democrata Russo (POSDR).


Na sua origem, os sociais-democratas eram socialistas marxistas. Por ocasião de um congresso realizado em 1903, o Partido Social-Democrata dividiu-se em duas facções quanto à tática a ser adotada: a maioria, bolchinstvo, e a minoria,menchinstvo. 

Daí procedem os nomes bolcheviques e mencheviques, isto é, "membros da maioria" e "membros da minoria", respectivamente. 

Essas duas alas tornaram-se dois partidos distintos, ambos reivindicando para si o nome de "Partido Operário Social-Democrata Russo" e dizendo-se igualmente marxistas. 

Desde a Revolução de 1905 que os bolcheviques passaram a ser minoria; conservaram, contudo, o mesmo nome que os vinha designando até então. 

Somente em setembro de 1917 é que os bolcheviques readquiriram a posição de maioria.









imagens raras de Lenin, líder Bolchevista.

VÍDEO

Imagens raras de Lenin


Imagens raras de Lenin



Personagens da Revolução

Alexander Kerensky
Aleksandr Fyódorovich Kérensky (Russo: Алекса́ндр Фёдорович Ке́ренский, Aleksandr Fyódorovich Kérenskij) (Simbirsk, 4 de Maio de1881 [22 de Abril no calendário juliano] - Nova Iorque, 11 de Junho de1970), político social-democrata e advogado, foi o segundo e últimoprimeiro-ministro do Governo Provisório Russo, exercendo o cargo entre 21 de Julho e 8 de novembro de 1917. 
Como líder revolucionário russo, desempenhou um papel primordial na queda do regime czaristana Rússia. Foi um dos líderes da Revolução de Fevereiro, mas não pôde evitar a Revolução de Outubro, quando os bolcheviques tomaram o poder.

Fonte:wikipedia


Vladimir Lenin


Vladimir Lenin foi um revolucionário russo, responsável em grande parte pela execução da Revolução Russa de 1917, líder do Partido Comunista, e primeiro presidente do Conselho dos Comissários do Povo da União Soviética. Influenciou teoricamente os partidos comunistas de todo o mundo. Suas contribuições resultaram na criação de uma corrente teórica denominada Leninismo.

Seu pai foi Ilia Ulyanov foi um funcionário liberal, do tipo estritamente apolítico. Era inspector das escolas da Província de Simbirsk, e um homem religioso, que apoiava as reformas de Alexandre II e que aconselhava a juventude a não cair no radicalismo. Seu posto na hierarquia era elevado, o que - diante das regras estabelecidas por Pedro, o Grande, segundo a qual a posse de alto cargo público equivalia à nobilitação - lhe conferia o direito de ser tratado por "Sua excelência" na burocracia czarista.






Imagens raras de Lenin
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Josef Stalin (Gori, Geórgia, 18 de dezembro de 1878 — Moscou, 5 de março de 1953) foi secretário-geral do Partido Comunista da União Soviética e do Comité Central a partir de 1922 até a suamorte em 1953, sendo assim o líder de facto da União Soviética. Seu nome de nascimento era იოსებ ბესარიონის ძე ჯუღაშვილი (Ioseb Besarionis Dze Jughashvili) em georgiano e Ио́сиф Виссарио́нович Джугашви́ли (Ióssif Vissariónovich Djugashvíli) em russo. Em português seu nome é referido algumas vezes como José Estaline.

Embora Stalin tivesse uma certa influência dentro do Partido Bolchevique aumentou-a ainda mais partir de 1928, que deixou-o com um grande poder - tornando-se o líder partidário da União Soviética e do seu povo. 


Sob a liderança de Stalin, a União Soviética desempenhou um papel decisivo na derrota da Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e passou a atingir o estatuto de superpotência, e a expandir seu território, para um tamanho semelhante ao do Antigo Império Russo.
Fonte:Wikipedia
CYBERHISTÓRIA


AS REVOLUÇÕES CAMPONESAS DE 1917

[Sarah Badcock; Tradução do Coletivo Vila Vudu] 


Em 1917, os camponeses eram fator decisivo no jogo político. Definiam respostas dos políticos aos desafios nacionais; produziam, controlavam e decidiam sobre os suprimentos de alimento; os soldados eram camponeses armados e uniformizados, fazendo e acontecendo no mundo do poder político; e, porque eram a maioria dos moradores das cidades russas, também tiveram papeis chaves nos levantes urbanos.
Apesar disso, quando se fala de revoluções camponesas, em geral falamos de batalhas rurais em disputa pelo uso e pela propriedade da terra. E, embora mais de 80% da população da Rússia vivesse em áreas não urbanas em 1917, os especialistas quase sempre marginalizam a experiência dos camponeses da Revolução Russa e sua participação nela, preferindo concentrar as atenções nos trabalhadores urbanos e na intelligentsia.
A diversidade e a complexidade dos levantes rurais diluem quaisquer pressupostos que se tenham sobre a natureza da ação camponesa. Revelam também suas extraordinárias criatividade e natureza transformadora.
Não é empreitada fácil definir levantes camponeses. Ao se espalharem ao longo de 1917, temporalmente e geograficamente, tomam formas tão diversas quanto as do vasto território do Império Russo.
Frequentemente, a qualidade da terra e da cultura local determina o formato desses levantes. Enquanto muitos imaginam ataques violentos a proprietários e tomada violenta de propriedades, muitas lutas camponesas se desenrolaram pacificamente. Confronto violento atrai mais atenção, mas implica maiores riscos para os participantes. Muitos dos camponeses da Rússia empreenderam ação calma e ponderada, embora provavelmente não tenha sido essa a impressão que deixaram nos que tiveram suas propriedades redistribuídas.
Alguns camponeses engajaram-se em revoltas 'discretas' simplesmente abrindo um portão e deixando passar o rebanho da aldeia, para que pastasse nas terras do proprietário da gleba. Algumas comunidades produziram documentos com ares de oficiais, que garantiam a elas o uso perpétuo de recursos locais. Levantes mais arrojados viram os aldeões trabalhando juntos para tirar madeira de alguma floresta próxima.
Infelizmente, não há relatos completos de todos os modos pelos quais os trabalhadores do campo contribuíram para aquele ano revolucionário. O que sabemos, demonstra ampla coleção de táticas, atores e objetivos os quais teriam, todos, papel decisivo no estado russo pós-revolucionário.
Chega a modernidade 
O termo "camponês" de modo geral refere-se a quem vivia e trabalhava em áreas rurais, mas, na Rússia, também se referia a uma categoria legal – soslovie – que aparecia inclusive no passaporte do indivíduo. Os camponeses russos podiam viver em áreas urbanas, viver como operários ou comerciantes e prestar serviço militar.
No início do século 20, a modernidade chegou à Rússia rural, coexistindo com eles e transformando os elementos tradicionais da vida camponesa definida pelo patriarcado, pela ortodoxia religiosa e comunalidade.
As estruturas do poder patriarcal garantiam que os homens mais velhos dominassem a família e a comunidade. A fé ortodoxa russa tinha papel importante na vida social, cultural e espiritual para muitos russos. E os sistemas comunais de manejo da terra que existiam em muitas áreas, facilitavam o uso coletivo dos recursos e reforçavam as estruturas sociais do patriarcado. Todos esses traços davam à Rússia rural certo grau de paroquialismo, e a política enfatizava os interesses locais sobre as preocupações nacionais.
A modernidade desafiou esses padrões tradicionais de várias maneiras. Depois da emancipação dos servos em 1861, a educação primária acelerou nas áreas rurais do país, produzindo uma geração de jovens alfabetizados. Enquanto isso, milhões migravam todos os anos para centros urbanos e voltavam com ideias e costumes da metrópole, dentre os quais o secularismo e a cultura do consumo.
Governos locais e tribunais regionais eleitos ofereciam à população rural novos modos de comunicar-se com o estado, que os camponeses aproveitaram com entusiasmo. Depois da revolução de 1905, vários camponeses apresentaram-se para votar em eleições nacionais e se revelaram reivindicadores insistentes no contato com os representantes regionais.
Finalmente, a mobilização para a guerra de 1914 forçou mudança significativa entre os homens das aldeias que pegaram em armas – alguns com fervor patriótico, outros muito relutantes — e passaram a mover-se por todo o vasto império russo.
Essas conexões com o mundo externo à próprias pequenas vilas, significaram que, à altura de 1917, os camponeses já não viviam isolados em sua pré-modernidade. Tinham relações com o Estado e a Nação, e por várias vias. A alfabetização crescente permitiu aos camponeses engajarem-se nas agendas políticas nacionais e regionais, e a experiência de grandes centros urbanos inspirou os jovens a desafiar a dominação patriarcal pelos homens mais velhos.
Formas Revolucionárias
"A água é sua, a luz é sua, a terra é sua, a madeira é sua."
Essas palavras, ditas por um marinheiro-agitador numa reunião em Kazan em junho de 1917, capturam o elemento fundamental das aspirações revolucionárias dos camponeses. A declaração sem rodeios de que terra e madeira, como água e ar, pertencem aos que deles necessitam foi muitas vezes repetida no ano da Revolução e dali em diante.
Em áreas antes dominadas pelo regime de servidão, antigos servos padeciam ressentimento profundo quanto ao acorde desigual de emancipação. As invasões para tomar terras tendiam a se tornar violentas nas áreas onde os camponeses tinham relações hostis com os donos das terras.
O que se conhece do formato e da intensidade das revoluções rurais advém, principalmente, dos chamados "relatórios de perturbações", feitos basicamente a partir de reclamações dos proprietários de terras privadas. Esses relatórios informam que as partes da Rússia onde havia os solos mais férteis correspondiam às áreas onde se registravam maior número de perturbações. Indicam também que áreas com alta concentração de glebas com servos também registraram mais agitação, mais ataques violentos aos proprietários individuais e maior número de invasão e ocupação de mansões privadas. Mas essas estatísticas não oferecem quadro completo dos levantes rurais, porque só consideram um tipo específico de ação.
Apesar de quase sempre os assaltos violentos e a redistribuição forçada serem dados como exemplos da revolução camponesa, não foram típicos, de modo algum. De fato, à altura de 1917, só uma pequena proporção de terra arável ainda pertencia à elite. Em algumas regiões, como Viatka, praticamente já não havia donos de terra que pertencessem à nobreza.

Revolução de Fevereiro disparou uma grande onda de aspirações e ações camponesas, mas o modo como os revolucionários rurais lutaram por igualdade dependeu do uso local da terra e dos padrões de propriedade, caso a caso. Muitas dessas ações não envolveram violência nem tomadas forçadas de propriedades. Em vez disso, as comunidades rurais testaram os limites e transgrediram as leis da propriedade privada, tentando simultaneamente se proteger de possível repressão.

Por exemplo, os camponeses da vila de Aryshkadza simplesmente anunciaram que semeariam os campos do proprietário local de terras, para uma colheita de inverno, e que os empregados do proprietário local teriam um dia para deixar as terras. Os empregados saíram, e os camponeses de Aryshkadza semearam a terra.

Além do mais, não podemos considerar essas revoluções camponesas como fenômeno baseado na classe, porque o campesinato não formava classe coerente. Isso posto, os camponeses autodescreviam-se em termos gerais como trabalhadores rurais, o que modelava sua visão de mundo e suas ações. Em algumas revoluções camponesas, houve comunidades que agiram coletivamente contra donos de terras, e de modo que se assemelhava a levantes baseados na divisão por classes, com oprimidos lutando contra seus opressores diretos. Mas muitos outros só conheceram disputas pelo uso da terra entre comunidades vizinhas ou entre indivíduos.

Por exemplo, os aldeões mais frequentemente tomavam por alvo camponeses que tivessem escolhido trabalhar como agricultores individuais, que terra comunal; e quase sempre, nesses casos, empurraram-nos de volta à agricultura comunitária. Toda a vila em geral executava esses ataques, buscando reintegrar o fazendeiro individualista e suas terras. Nas aldeias havia níveis significativamente diferentes de riqueza e poder, mas esses níveis não eram nem fixos nem sustentados –, e indivíduos moviam-se para cima e para baixo nas respectivas hierarquias locais.

Enquanto isso, o governo central apoiava as queixas dos proprietários privados e ordenava que as comunidades rurais respeitassem a propriedade privada. Mas não tinha meios para forçar o cumprimento dessas ordens, e em 1917 as transgressões e os ataques à propriedade privada já aumentavam a olhos vistos.

Quem liderou as revoluções rurais?Só podemos contar com fragmentos de provas sobre indivíduos e grupos que lideraram revoluções camponesas. Comitês, sovietes e sindicatos assumiram a liderança em muitas vilas, emitindo ordens sobre uso e administração das terras. Essas organizações ofereceram uma base institucional para as ações dos camponeses.

Algumas delas, como os sovietes de representantes de camponeses, pertenciam a redes regionais e nacionais, e o Governo Provisório estabeleceu comitês para a terra e provisões. Mas essas instituições locais só conservavam o controle se respondessem diretamente às demandas de seus representados. Como o comitê da vila de Sotnursk lembrou às suas autoridades regionais, "Nós elegemos vocês. Vocês têm de ouvir o que dizemos."

Muitas evidências indicam que só pessoas integradas na comunidade camponesa assumiram o poder. A chamada intelligentsia da aldeia – professores, médicos, especialistas agrários e sacerdotes – foram sempre sistematicamente excluídos dos gabinetes eleitos e de modo geral sequer são citados em relatos de revoluções camponesas. Registros eleitorais mostram que os aldeões preferiam candidatos alfabetizados, não dados ao vício da bebida, sensíveis e confiáveis, e que também fossem camponeses. A diversidade de ação que constituiu as revoluções camponesas contudo significa que não se podem tipificar os líderes – algumas revoluções rurais envolveram toda a comunidade da aldeia, algumas foram lideradas por mulheres, e grupos de aldeias mais ricas lideraram outras.

A Revolução de Fevereiro transformou o status e o poder dos soldados comuns, que se tornaram protetores armados do movimento. Desertores, soldados de folga e homens acampados em guarnições da retaguarda todos tiveram papel importante na política da aldeia. Foram o mais próximo de 'gente de fora', se se pode classificá-los assim, que lideraram revoltas camponesas.

Porque os soldados são expostos à violência, treinados e equipados para a violência, a atividade revolucionária rural mais frequentemente se tornou violenta nos casos em que soldados participaram do movimento. Algumas vezes, toda a comunidade participava desses assaltos. Por exemplo, uma multidão de soldados, acompanhados por aldeãs e seus filhos conseguiu expulsar Natalia Neratova de suas terras, em maio de 1917.

No início da revolução, a política partidária tinha papel apenas marginal nas atividades dos camponeses. O Partido Socialista Revolucionário de Viktor Chernov desenvolveu forte base rural de apoio, especialmente nas terras do centro da Rússia, como se viu nas eleições para a Assembleia Constituinte em novembro. Em termos nacionais, o Partido Revolucionário Socialista conseguiu 37% contra 23% dos bolcheviques, mas esses números não mostra as proporções da dominação do partido de Viktor Chernov em outras regiões. Nas regiões do norte, obteve 76% dos votos; e 75% na região das Terras Negras Centrais.

O partido capitalizou a própria imagem de partido de camponeses e suas fortes afinidades locais, pata garantir apoio eleitoral, mas não liderou a revolução rural. Ativistas desse partido só assumiram papeis de liderança nas aldeias, nos casos em que abraçaram os desejos e motivações dessas comunidades.

Divisão Urbano x Rural As revoluções rurais deixaram exposto o nenhum poder das autoridades nacionais e regionais. Nem o Governo Provisório nem o Soviete de Petrogrado deu atenção às preocupações e demandas dos camponeses. Só faziam pedir às populações rurais que esperassem pacientemente pela Assembleia Constituinte, que afinal faria a redistribuição das terras.

Os camponeses em grande número de casos ignoraram esses apelos, e o governo central não conseguiu impedir suas ações. As autoridades regionais começaram 1917 com a crença de que as revoluções rurais emergiam de mal-entendidos, e assumiram que conciliação e educação poriam fim aos distúrbios. À altura do verão daquele ano, a firmeza advinda da autoconsciência nas comunidades rurais que buscavam fazer suas próprias revoluções, sem qualquer atenção aos planos centrais, já minara completamente aquela fé inicial.

Autoridades regionais cada vez mais passaram a se servir de força armada para controlar as áreas rurais. Um punhado de líderes mais sensíveis, tentando controlar os camponeses, autorizaram a transferência preventiva de terra privada, para comitês locais. Mas os levantes continuaram sem ceder, porque nenhum poder havia, nem central nem regional, que pudesse implantar qualquer política.

Depois que os bolcheviques chegaram ao poder em Outubro de 1917, Lênin imediatamente promulgou o Decreto Sobre a Terra, pelo qual toda a terra reservada por propriedade privada em todo o país, foi transferida para uso dos camponeses. Ironicamente, essa ordem demonstrou cabalmente a impotência do governo central, porque os camponeses, em outubro, já haviam tomado quase toda a terra privada. O decreto de Lênin sobre a propriedade da terra foi como que um presságio da batalha pelo controle da economia rural que viria a ser traço chave da guerra civil na Rússia.

A história da revolução agrária russa ainda está por ser decifrada completamente, e o que já se sabe dela pinta quadro muito mais rico da Rússia em 1917.*****


[1] Sarah Badcock é professora associada de História, na University of Nottingham, especializada no fim do império russo e Revolução Bolchevique. Estuda também a história das punições.

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