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Carvalho da Silva* | Jornal de Notícias | opinião
Quando se discutem as grandes questões ambientais globais como a poluição do ar e as mudanças climáticas que lhe estão associadas; a imensa produção de resíduos provocada pelo estilo de vida dominante que degrada os solos, os mares e a atmosfera; a falta de água potável; o acelerado desmatamento e outros atos contra a natureza que levam à extinção de espécies; ou os perigos da manipulação genética - assustamo-nos com os impactos socioambientais gerados. No contexto atual, esses medos ampliam-se.
As opções no plano económico/financeiro que vão sendo adotadas colocam interesses egoístas e o objetivo do lucro acima da urgência da resolução daqueles problemas. As relações entre estados e entre povos vão sendo armadilhadas e não se resolvem os problemas ambientais sem cooperação entre todos os países. Não se vislumbra saída para a guerra em curso na Ucrânia, invadida pelo seu vizinho Rússia - grande país situado na Europa que não é transladável para outro sítio -, enquanto muitos analistas vão evidenciando (sem surpresa) que o fim da guerra será determinado por razões económicas e de ordem geopolítica e não por vitórias militares.
De um momento para o outro, o "esforço de guerra" cilindra as boas vontades que se vinham afirmando para a resolução dos problemas ecológicos e ambientais. E receamos uma catástrofe total, se os sinais de desespero que os governantes russos transmitem forem verdadeiros.
Muitas vezes, quando se analisam condições para responder àquelas grandes questões ambientais, coloca-se forte esperança no facto (?) de as gerações mais jovens estarem mais sensibilizadas, de se poderem utilizar os grandes avanços científicos e tecnológicos nesses combates, e de os países da União Europeia e outros ocidentais mobilizarem com o seu exemplo.
Ora, observando a realidade, tais pressupostos passam a duvidosos por quatro razões fundamentais: i) a juventude está mais desperta, mas as carências socioeconómicos e outras, com que se deparam, forçam-na a estilos de vida predadores do ambiente; ii) o acesso a fontes energéticas e de matérias-primas está numa nova era que, no imediato, impõe grande retrocesso na proteção do ambiente; iii) hoje a China é o país mais avançado no desenvolvimento das tecnologias verdes, todavia o "Ocidente" está apostado em impedir qualquer liderança chinesa, logo, não indiciando grandes cooperações; iv) a utilização de tecnologias inovadoras está muito mais voltada para o belicismo e a acumulação de riqueza dos poderosos, do que para servir objetivos gerais das sociedades.
Os economistas vencedores do Prémio Nobel da Economia de 2022, com trabalhos relativos à "investigação sobre bancos e crises financeiras", identificam a importância e as formas de os estados agirem rápido na proteção dos bancos/sistema financeiro, utilizando o dinheiro dos cidadãos, mas admitem que essas intervenções são questionáveis do ponto de vista ético/moral. Significa isto que o sistema financeiro se tornou-se órgão vital no funcionamento da sociedade, ao mesmo tempo que não se coaduna com a Democracia.
Tem razão o Papa Francisco quando denuncia a "economia que mata". De facto, o sistema económico/financeiro que nos governa vai matando milhões de seres humanos à fome quando existe tanta riqueza e produção de bens, destrói esperança e vai subvertendo a relação metabólica Homem/sociedade/natureza, sem a qual não existiremos.
*Investigador e professor universitário
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