quinta-feira, 23 de junho de 2022

Partido reclama razão em querer salvar o SNS



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Partido reclama razão em querer salvar o SNS



«Pe­rante o caos a que as­sis­timos nas ur­gên­cias obs­té­tricas, as di­fi­cul­dades em as­se­gurar o aten­di­mento mé­dico ur­gente em vá­rias es­pe­ci­a­li­dades e os atrasos com que se con­frontam mi­lhares de por­tu­gueses para obter uma con­sulta, bem se pode dizer que, afinal, o PCP tinha razão», lem­brou, em Beja, Je­ró­nimo de Sousa.

É ur­gente travar o as­salto dos pri­vados ao SNS



O Se­cre­tário-geral do PCP abordou, du­rante a in­ter­venção de en­cer­ra­mento da X As­sem­bleia da Or­ga­ni­zação Re­gi­onal de Beja, as con­sequên­cias da falta de pro­fis­si­o­nais no Ser­viço Na­ci­onal de Saúde (SNS), re­cor­dando que essa foi «uma questão que es­teve no centro das nossas pre­o­cu­pa­ções» du­rante a dis­cussão e vo­tação do Or­ça­mento do Es­tado para 2022 (OE 2022), tendo o Par­tido apre­sen­tado «um con­junto de pro­postas para dar res­posta aos pro­blemas» cri­ados por «anos de po­lí­ticas de di­reita de ataque ao SNS».

Como «há quem se apro­veite do facto de a me­mória dos ho­mens ter li­mites, está na hora de lem­brar que quando o PCP co­lo­cava no nú­cleo duro das suas pro­postas para aprovar o OE 2022, um con­junto de me­didas con­si­de­radas in­dis­pen­sá­veis para dar so­lução aos pro­blemas do SNS, que agora apa­recem à luz do dia, elas foram re­cu­sadas», in­sistiu Je­ró­nimo de Sousa.

«Afinal, o PCP tinha razão quando afir­mava que “na pro­posta do OE 2022 (do Go­verno do PS) não se en­contra a res­posta ne­ces­sária e de­ci­siva para re­forçar (…) o SNS, em par­ti­cular a aposta na va­lo­ri­zação ex­pres­siva e ina­diável das car­reiras e sa­lá­rios dos seus pro­fis­si­o­nais, para ga­rantir a sua fi­xação e in­cen­tivar a de­di­cação ex­clu­siva. Sem isso não ha­verá mais con­sultas, exames, re­cu­pe­ração de ci­rur­gias ou mé­dicos e en­fer­meiros de fa­mília para todos”», notou ainda o di­ri­gente co­mu­nista, ci­tando a apre­ci­ação do Par­tido aquando da dis­cussão da pro­posta go­ver­na­mental.

O Se­cre­tário-geral do PCP foi mesmo mais longe e chamou a atenção que «du­rante longos meses le­vámos estas ques­tões com pro­postas con­cretas à dis­cussão com o Go­verno.» To­davia, «o PS não quis de­fender o SNS do brutal ataque a que está su­jeito» por parte do que ape­lidou de «grupos eco­nó­micos dos ne­go­ci­antes da do­ença».

O Par­tido teve também razão quando, no úl­timo mês de Maio, re­tomou pro­postas que o PS re­cusou, acres­centou Je­ró­nimo de Sousa, para quem «os pro­blemas no acesso à saúde agra­varam-se e a si­tu­ação é pior do que há seis meses – faltam mé­dicos e en­fer­meiros de fa­mília, au­mentam as queixas de atrasos e faltam res­postas em con­sultas, tra­ta­mentos e ci­rur­gias», im­pondo-se ques­ti­onar, de novo: «por que con­tinua o Go­verno a re­cusar a au­to­nomia de con­tra­tação por parte das uni­dades de saúde e o re­forço dos pro­fis­si­o­nais do SNS?».

«A res­posta que o País e o SNS pre­ci­savam nunca chegou, la­men­ta­vel­mente». E agora, «pe­rante o acen­tuar da gra­vi­dade da si­tu­ação», o Go­verno pros­segue com «os re­mendos dos planos de con­tin­gência», acusou, antes de sa­li­entar a ne­ces­si­dade de ar­re­piar ca­minho com «so­lu­ções de fundo, como em sa­lá­rios, car­reiras, con­di­ções de tra­balho para fixar mé­dicos de vá­rias es­pe­ci­a­li­dades», bem como pro­ceder aos in­ves­ti­mentos ne­ces­sá­rios para «ga­rantir uma rede de cui­dados de saúde pri­má­rios pró­xima dos utentes e hos­pi­tais de qua­li­dade, de­vi­da­mente ape­tre­chados em meios hu­manos e téc­nicos».

Não ceder aos pri­vados

Face à si­tu­ação aguda que se ve­ri­ficou em di­versos ser­viços de ur­gência nos úl­timos dias, par­ti­cu­lar­mente em Gi­ne­co­logia e Obs­te­trícia, vá­rias foram as or­ga­ni­za­ções do PCP que to­maram po­sição. Foi o caso da Or­ga­ni­zação Re­gi­onal do Al­garve, que em co­mu­ni­cado acerca do en­cer­ra­mento da ur­gência de gi­ne­co­logia e obs­te­trícia do Hos­pital de Por­timão, que «se junta aos en­cer­ra­mentos que têm ocor­rido na ur­gência pe­diá­trica do Hos­pital de Faro», sa­li­enta que tal «re­vela não só a au­sência de me­didas que ga­rantam a atracção e fi­xação de mé­dicos e de ou­tros pro­fis­si­o­nais de saúde no SNS, mas uma po­lí­tica que de forma in­di­recta con­tribui para ali­mentar o ne­gócio dos grupos eco­nó­micos pri­vados que lu­cram com a falta de res­posta do SNS».

Para os co­mu­nistas, «as cri­anças e os pais al­gar­vios pre­cisam de ter a se­gu­rança de que, em qual­quer even­tu­a­li­dade, as portas da ur­gência não se en­con­tram en­cer­radas, nem a saúde e a vida são postos em causa». Ora, «a falta de pro­fis­si­o­nais de saúde em todo o Al­garve é uma re­a­li­dade que, pese em­bora as muitas pro­messas, não tem tido res­posta», facto que «é in­se­pa­rável das op­ções de PS, PSD, CDS, Chega e IL de fa­vo­re­ci­mento dos grupos pri­vados de saúde», aduzem, antes de exi­girem «me­didas ur­gentes» que travem «o as­salto que os hos­pi­tais e clí­nicas pri­vadas estão a fazer aos pro­fis­si­o­nais do SNS.»

No mesmo sen­tido, a Co­missão Con­ce­lhia do Seixal, a pro­pó­sito dos en­cer­ra­mentos tem­po­rá­rios ob­ser­vados na ur­gência de gi­ne­co­logia e obs­te­trícia e no ser­viço de or­to­trau­ma­to­logia do Hos­pital Gacia de Orta (HGO), con­si­derou que «da au­sência de in­ves­ti­mento no SNS de­corre a in­ca­pa­ci­dade de as­se­gurar as es­calas dos ser­viços por falta de mé­dicos, so­bre­car­re­gados, su­jeitos a con­di­ções de tra­balho de­gra­dadas e à cons­tante des­va­lo­ri­zação do seu tra­balho», lem­brando, além do mais, que «a cons­trução do Hos­pital do Seixal», per­ma­nen­te­mente adiada, «per­mi­tiria re­duzir a pressão sobre o HGO».

Já a Or­ga­ni­zação Re­gi­onal de Por­ta­legre frisa que há muito que o Par­tido alerta para a ur­gência de «travar a san­gria de mé­dicos do SNS», e que «não é en­gor­dando o sector pri­vado, à custa dos re­cursos pú­blicos, que se re­solvem os graves pro­blemas com que se con­fronta o sector, de que é exemplo o en­cer­ra­mento da ur­gência de obs­te­trícia do hos­pital dis­trital».

No mesmo sen­tido, a Or­ga­ni­zação Re­gi­onal de Braga la­mentou o fecho ex­cep­ci­onal do mesmo ser­viço no hos­pital local e cri­ticou ainda a po­sição as­su­mida pela mai­oria PSD/​CDS/​PPM/​Ali­ança na au­tar­quia, re­pu­di­ando de­sig­na­da­mente a «de­fesa feita à par­ceria pú­blico-pri­vado (PPP)», que re­pre­sentou «uma ex­pressão da po­lí­tica de en­trega do SNS aos pri­vados».

«O fim da PPP que geria este hos­pital foi uma im­por­tante de­cisão para a qual foi de­ci­siva a cons­tante in­ter­venção do PCP» e «os pro­blemas do Hos­pital de Braga não re­sultam do [seu] fim, mas da falta de in­ves­ti­mento no SNS.»

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