quarta-feira, 29 de junho de 2022

NATALINA RAMOS FILIPE (1928 – 2018) FRANCISCO HORTA (1904 – 1970)


 

NATALINA RAMOS FILIPE (1928 – 2018)
FRANCISCO HORTA (1904 – 1970)
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Resistentes activos na luta contra a Ditadura fascista e a ocupação de Timor-Leste pela Indonésia, foram considerados heróis pelo povo timorense e são pais do Presidente da República Democrática de Timor-Leste José Ramos Horta.
1. NATALINA RAMOS FILIPE (1928 – 2018)
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Natalina Ramos Filipe nasceu em Holarua (Timor- Leste), a 15 de Novembro de 1929, e era filha de uma timorense e de um português, Arsénio José Filipe, pintor da construção civil e anarco-sindicalista, que havia sido deportado para Angra do Heroísmo depois para a Guiné (1925) e finalmente para Timor, na leva de Pêro de Alenquer (1927); o tio José Filipe era um activista sindical.
Natalina viveu a ocupação japonesa em 1943, perdeu a Mãe e, então, deambulou pelas montanhas. Aos 13 anos, foi para a Austrália, depois dos japoneses massacrarem a sua aldeia, perto de Same (Timor-Leste), por ter colaborado com os australianos, em 1942. Na travessia para a Austrália conheceu Francisco Horta com quem veio a casar. A seguir à II Grande Guerra, Natalina e Francisco viajaram para Lisboa, mas pouco tempo depois quiseram voltar a Timor. Foi no navio Quanza, em Agosto de 1946, que nasceu Romana, a primeira de doze filhos do casal. Já em Dili, nasce José Manuel Ramos-Horta, a 26 de Dezembro de 1949, que irá destacar-se como político e jurista e partilhar o Prémio Nobel da Paz, em 1996, com o compatriota Bispo Carlos Filipe Ximenes Belo (1).
Natalina Ramos Filipe viveu até aos 87 anos e veio a ser uma corajosa resistente à invasão e ocupação de Timor pela Indonésia. Viveu nas montanhas de 1975 a 1978, foi vigiada, sofreu a morte de vários filhos, alguns deles durante a resistência indonésia (2). Faleceu em 27 de Fevereiro de 2018, sendo considerada uma heroína timorense. Está sepultada no Jardim dos Heróis timorenses (3).
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2. FRANCISCO HORTA (1904 -1970)
Resistente antifascista, natural da Figueira da Foz, foi preso e deportado para Timor em 1931.
Francisco Horta nasceu em 26 de Agosto de 1904, na Figueira da Foz, filho de Beatriz dos Santos Leite e de António Luís Horta. Pertenceu à Legião Vermelha durante a primeira República. Era ajudante de motorista e foi deportado para Timor, em 27 de Junho de 1931, por actividades de oposição à ditadura.
Com o início da II Guerra Mundial, Timor é invadida por forças de países beligerantes (4). A invasão aconteceu na manhã de 19 de Fevereiro de 1942 e Francisco Horta foi um dos deportados que lutou ao lado dos comandos australianos contra os ocupantes. Quando, com outros 600 portugueses, foram evacuados para a Austrália, Francisco Horta foi internado em BobFarm, juntamente com outros 27 deportados.
Durante a travessia para a Austrália, Francisco conheceu a timorense Natalina Ramos Filipe com quem veio a casar.
Francisco Horta foi reabilitado pela Ditadura portuguesa, por ter lutado contra os japoneses, mas permaneceu em Timor até à sua morte, a 15 de Novembro de 1970, aos 66 anos.
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NOTAS:
(1) José Ramos Horta é, desde 20 de Maio de 2022, Presidente da República Democrática de Timor-Leste [o 7º presidente, tendo já exercido funções como 4.º Presidente, de 20 de Maio de 2007 a 20 de Maio de 2012]. Foi educado numa missão católica em Soibada. Devido à atividade política pró-independência, viveu em Moçambique durante um ano (1970-1971). Em 1975, com apenas 25 anos de idade, ocupava o cargo de Ministro das Relações Exteriores no governo auto-proclamado de Timor-Leste, quando se deu a invasão e a ocupação pela Indonésia, e iria ser o representante permanente da Fretilin na ONU nos anos seguintes. Em 1996, foi laureado com o Nobel da Paz pelo contínuo esforço para terminar a opressão vigente em Timor-Leste.
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(2) Maria foi morta num ataque aéreo, Nuno morreu durante o interrogatório policial e Guilherme desapareceu sem deixar rasto aos 14 anos. António morreu em Novembro de 1992 devido a falta de assistência médica.
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(3) "Até Sempre Mãe Coragem” - um texto de José Ramos Horta, por ocasião do falecimento de sua Mãe.
«Partiste nessa viagem sem regresso e estás agora a rever o pai, os nossos inesquecíveis irmãos Natalino, Gui, Mariazinha, Nuno, Chiquito, António, Beatriz. Estarás com a tua irmã Noémia que foi antes de ti. Estarás com o avô Arsênio Filipe, e tantos outros familiares. Devem estar todos reunidos agora nessa outra Vida Eterna. Viveste a ocupação japonesa, perdeste a tua mãe, deambulaste pelas montanhas, sofreste, sobreviveste. Em 1975 começou a tua segunda odisseia nas nossas montanhas; cuidaste da Licínia, Aida, Artur Jorge, Gui. De novo resististe com coragem, dignidade, humildade e sobreviveste. Sabíamos todos o que ia na tua alma. Nunca tive a coragem de pedir para me falares dos anos que viveste nas montanhas de 1975 a 1978 e depois em DILI. Eu não queria fazer-te reviver aqueles anos de sofrimento e confesso eu não queria sofrer ouvindo o teu sofrimento. Criaste-nos, cuidaste de nós, os teus muitos filhos. Eras mulher simples, honesta, corajosa. Nunca tiveste grandes posses. Sempre viveste modestamente, humildemente, orgulhosamente. Sempre lembraremos de ti. Sempre. Com amor sem fim e profunda admiração. Até algum dia na Eternidade».
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(4) Durante a presença japonesa cerca de 40 mil timorenses e portugueses perderam a vida. A invasão aconteceu na manhã de 19 de fevereiro de 1942 e, apesar de terem reconhecido que a administração do território continuava a ser portuguesa, os japoneses só abandonaram a ilha após o fim da guerra. Pelo meio aprisionaram os elementos portugueses envolvidos na administração e nas forças militares, aterrorizaram a população local e mataram milhares de pessoas. Pouco antes da chegada dos japoneses, a ilha fora ocupada por forças holandesas e australianas, em Dezembro de 1941. Portugal e os aliados tinham estabelecido um acordo de cooperação que previa o envio de tropas aliadas caso os japoneses tentassem entrar pelo território. Essa ajuda estava, no entanto, sujeita a um pedido formal de ajuda, que nunca aconteceu. Apesar dos protestos do governador local as forças invadiram Timor, mas tratou-se de uma ocupação sem derramamento de sangue. Para compensar a falta de elementos naquele território, Portugal anunciou o envio de tropas com o objetivo de substituir os aliados, mas estas não chegaram a tempo, porque entretanto os japoneses desembarcaram em Díli.
Os japoneses dizimaram cerca de dez por cento da população e deixaram memórias sombrias da guerra entre os timorenses. [https://ensina.rtp.pt/artigo/ocupacao-timor-japoneses/....]
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Nota biográfica organizada por Maria João Dias, com colaboração de Helena Pato, a partir das fontes citadas.

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