quinta-feira, 30 de junho de 2022

A Joia da Coroa – SNS e os seus profissionais

 


Ao longo dos tempos, e principalmente após a pandemia que atravessamos desde 2020, que o Serviço Nacional de Saúde se tem revelado cada vez mais importante e necessário. Existe a necessidade de o manter tendencialmente gratuito e inclusivo.

António Costa, primeiro-ministro de todos os portugueses, considera o SNS como a “joia da coroa”, e bem! Diversos anos de desinvestimento no SNS, principalmente no período da troika, tornaram o SNS vulnerável e é cada vez mais imperativo que se reveja o modelo do mesmo, pois uma boa parte dos profissionais de saúde sentem e consideram que o SNS se encontra muito perto da linha vermelha, ou até mesmo muito perto de um ponto de não retorno. É necessário salvar o SNS!

Não é menos verdade que cada vez mais os grupos privados aproveitam as vulnerabilidades do SNS para crescerem e lucrarem com isso, colocando em causa, cada vez mais, o acesso à saúde.

Uma das grandes vulnerabilidades do SNS é a incapacidade de reter talento, profissionais de saúde e é por isso que importa rever as condições em que os mesmos trabalham, rever as carreiras das diversas classes profissionais e contratar em número suficiente para que os mesmos não se vejam obrigados a realizar um número surreal de horas extraordinárias para assegurarem a saúde dos portugueses, em detrimento da sua saúde e da sua vida pessoal. Resumindo, impera valorizar os profissionais de saúde, para que estes consigam continuar a realizar o trabalho extraordinário que fazem todos os dias.

Em março de 2020, António Sales, Secretário de Estado da Saúde, afirmou que “Os profissionais de saúde são a joia da coroa do Serviço Nacional de Saúde”, e afirmou muito bem. Sendo assim, é preciso que sejam verdadeiramente valorizados, pois sem eles não há SNS. É necessário ouvir os profissionais de saúde.

O SNS não necessita de pensos rápidos ou de medidas avulso, são necessárias estratégias visionárias e profundas que permitam melhorar a sua estrutura. É necessário descomplicar, é necessário que haja menos burocracia. O SNS carece de respostas de curto prazo que permitam a sua restruturação, os desafios que se apresentam não são conjunturais, mas sim estruturais, é necessário revalorizar carreiras, principalmente a nível da sua progressão e revalorização salarial. Não menos importante, e tendo em conta a “guerra” entre público e privado, é necessário rever os aspetos que diferenciam a carreira dos profissionais de saúde nos serviços de saúde privados e no serviço de saúde público, no caso: incentivos à investigação e formação, como também a flexibilização do modelo de trabalho, criando condições para que os profissionais se mantenham no SNS e que o mesmo se torne mais atrativo.

A polémica mais recente da falta de médicos (podia ser outra qualquer classe profissional do SNS), não é assim tão recente quanto isso, mas foi necessário entrar numa situação de rutura para que todos, políticos e não políticos, evidenciassem este assunto como fulcral.

Aliado às polémicas e problemas importantes, surgem sempre os suspeitos do costume, que a plenos pulmões exclamam “Aqui-d’el-rei”, aproveitando-se destas oportunidades para tentarem ganhar relevância, defenderem os seus interesses e inclusive imiscuindo-se em “seara alheia”, perdendo muitas vezes a razão.

Para que o SNS sobreviva é necessário que toda a sociedade, principalmente a classe política e os profissionais de saúde, remem para o mesmo lado, encontrando soluções. O SNS e os seus profissionais precisam de ser ouvidos e de ver uma luz de mudança ao fundo do túnel. Há muito que não se via os profissionais de saúde tão cansados e desmotivados, e quem pagará esta conta serão sempre todos os portugueses que necessitam de cuidados de saúde. É necessário dialogar.

Salvemos o SNS, transformando-o!

VASCO LOPES DA SILVA




Mestre e Enfermeiro Especialista em Enfermagem Médico-Cirúrgica pela Universidade de Évora.
Ex-presidente da Juventude Socialista de Santiago do Cacém. Deputado na Assembleia Municipal de Santiago do Cacém.
Presidente do Conselho Regional de Arbitragem da Associação de Natação do Alentejo.


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