domingo, 5 de dezembro de 2021

Acto de negacionistas com tochas causa indignação na Alemanha

 




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Já havia anoitecido na pequena cidade de Grimma, na Saxônia, estado do leste da Alemanha, quando cerca de 30 pessoas se reuniram em frente à casa da secretária de Saúde Petra Köpping na última sexta-feira (03/12). Alguns portavam tochas; outros, cartazes. Gritando e assobiando, eles protestavam contra medidas anticovid e contra a vacinação obrigatória.

O grupo Freie Sachsen (Saxônia Livre), oficialmente classificado como extremista de direita, filmou o ato e divulgou o vídeo na internet.

Köpping, do Partido Social-Democrata (SPD), de centro-esquerda, chamou a polícia. Quinze veículos foram controlados, 25 identidades foram estabelecidas, e 25 infrações foram relatadas, segundo a polícia. O Ministério Público abriu uma investigação sobre o incidente.

Enquanto os manifestantes, que se organizam por meio do aplicativo de mensagens Telegram, chamam os atos de "visitas cidadãs" e "passeios", para a secretária de Saúde da Saxônia, trata-se de uma tentativa de intimidação. Críticas objetivas a medidas anticovid são totalmente legítimas, diz Köpping, afirmando estar sempre aberta ao diálogo, "mas um protesto com tochas diante da minha casa é repugnante e indecente".

Não se trata de um ato isolado, diz a política. Ela afirma que tais "tentativas organizadas de intimidação por extremistas de direita e adeptos de conspirações" já foram vistas em consultórios médicos, centros de vacinação e hospitais. O prefeito da cidade e outros envolvidos no combate à pandemia também foram ameaçados.

A Saxônia é uma das regiões do país onde a situação da quarta onda de covid-19 é mais preocupante. No sábado, o estado registrou uma incidência de 1.235 casos por 100 mil habitantes em sete dias, a mais alta da Alemanha. Da população saxã, 58,4% estão totalmente vacinados contra a covid-19, o menor índice no país, bem abaixo da média nacional de 68,8%.

"Ato fascistoide"

A marcha com tochas causou indignação pelo país. "Estes são métodos inventados pela SA", disse o governador de Baden-Württemberg, Winfried Kretschmann (Partido Verde), fazendo referência à tropa de assalto nazista.

Procissão com tochas da SA e SS em Berlim em 1933, por ocasião da chegada de Adolf Hitler ao poder

Procissão com tochas da SA e SS em Berlim em 1933, por ocasião da chegada de Adolf Hitler ao poderFoto: picture-alliance/akg-images

O colíder do SPD, Norbert Walter-Borjans, descreveu o que aconteceu em frente à casa de Köpping como "fascistoide".

Saskia Esken, que encabeça o SPD ao lado de Walter-Borjans, também se manifestou. "Solidariedade total, querida Petra Köpping. Mesmo que uns poucos tentem espalhar medo e terror: os sensatos e responsáveis são a grande maioria e estão do seu lado", escreveu no Twitter.

O secretário-geral do SPD, Lars Klingbeil, exige consequências. Para ele, não se pode permitir que políticos sejam ameaçados e que "conspiradores de direita" se reúnam com tochas em frente à casa de uma política. "Os limites da liberdade de expressão foram ultrapassados", afirma. "Isso precisa de uma resposta no pleno rigor do Estado de direito."

Radicalização

Esta também é a opinião do vice-governador da Saxônia, Wolfram Günther (Partido Verde), que falou de uma nova quebra de tabu. "Negacionistas do coronavírus e os extremistas de direita ao seu lado estão se tornando cada vez mais descarados e radicalizados", afirmou.

De fato, a cena formada por antivacinas, negacionistas da pandemia, teóricos da conspiração e também cada vez mais extremistas de direita se radicalizou visivelmente nas últimas semanas. Em grupos no Telegram, a mobilização é cada vez mais agressiva, com a convocação de protestos

Diante da grave situação da pandemia na Saxônia, reuniões foram limitadas a até dez pessoas. Mas há semanas grupos, alguns deles com centenas de pessoas, vêm realizando o que chamam de "passeios" por cidades do estado. A polícia raramente interveio. Em Chemnitz, ela até afirmou que os tais "passeios" não são classificados como reuniões se o distanciamento mínimo entre os participantes for observado.

O Freie Sachsen (Saxônia Livre) é um dos grupos mais ativos na convocação dos atos. Segundo o site da agremiação, fundada como partido em fevereiro de 2021, seu objetivo é "dar uma estrutura organizacional às mais diversas iniciativas liberais e patrióticas". Alguns dos fundadores do grupo já são ativos na cena de extrema direita há tempos.

Apelo à revolução e ameaças de morte

Mais de 91 mil usuários estão atualmente inscritos no canal "Saxônia Livre" no Telegram, onde o número crescente de infecções e o consequente endurecimento das restrições anticovid são  comentados com raiva.

Fala-se de revolução, e policiais e militares são chamados a se juntarem aos protestos. Os policiais que controlam o cumprimento das medidas contra o coronavírus são chamados de "CoStaPo", Polícia Estatal do Coronavírus, que lembra muito a "Gestapo", a Polícia Secreta do Estado da Alemanha nazista.

Há algum tempo, os "saxões livres" têm atacado o governador Michael Kretschmer, que no canal do Telegram é chamado de déspota e ditador. Em reação a um post que afirma que o governador prepara um lockdown rígido, usuários fizeram ameaças de morte. "Prendam Kretschmer imediatamente! Reintroduzir a pena de morte na Alemanha", diz um comentário, enquanto outro contém apenas a palavra "forca".

Regulamentar serviços de mensagens

Em um recente programa de televisão, Kretschmer falou de propaganda maliciosa, ódio e incitação e pediu que o Ministério da Justiça adote medidas legais. "Temos que fazer algo a respeito", afirmou.

O governador não é o único político a exigir uma regulamentação de serviços como o Telegram. A partir de fevereiro de 2022, redes sociais terão que denunciar conteúdo ilegal ao Departamento Federal de Investigações (BKA), mas os serviços de mensagens estão isentos. Uma lacuna que não pode permanecer como está, afirmaram o ministro do Interior e secretários estaduais na semana passada.

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