terça-feira, 16 de novembro de 2021

Da serra de São Brás sai «Umarroba» de tradições em forno de lenha


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Marca artesanal «Umarroba» nasceu em plena pandemia pelas mãos de três gerações de uma família sambrasense. Encomendas já chegam à Suíça.

No Sítio do Bengado, em pleno barrocal do concelho de São Brás de Alportel, rodeado de alfarrobeiras e figueiras, encontra-se talvez um dos fornos de lenha mais antigos daquela vila ainda em plena labuta.

Data de 1971, ano em que a avó Adélia, 76 anos, natural de Moncarapacho, e o avô David, 88 anos, de São Brás de Alportel, regressaram de França, após um período de emigração.

Começaram na apanha e na venda de alfarroba, figos e frutos secos, grande parte torrados naquele forno de lenha. Adélia dedicava-se ainda à confeção de pão, folares e figos cheios.

Avô David, Avó Adélia, João Bengalita, Melissa Carreiro e Jorge Evaristo.

João Bengalita, de 34 anos, cedo começou a ajudar o avô na apanha e na venda dos frutos a fábricas algarvias. Tinha apenas 14 anos quando se juntou ao negócio da família.

Conheceu Melissa Carreiro, radiologista, há mais de uma década e começaram a namorar. A jovem de 28 anos é também maquilhadora profissional Com o advento da pandemia, o casal, e toda a família, viram o negócio e a fonte de rendimento postos em causa.

«Não havia nada para fazer», recorda Melissa ao barlavento. «Tivemos de criar alguma coisa», acrescenta João Bengalita.

Com a experiência da avó Adélia em folares, e com a Páscoa de 2020 à porta, «pensámos logo em agarrarmo-nos a isso», afirma a jovem. «Eu não podia fazer nada, o João também não, porque estava tudo fechado, então começámos a investir nos folares porque a Adélia sempre os fez».

A septuagenária transmitiu o seu conhecimento aos jovens «e correu tudo mesmo muito bem», sendo que os folares chegaram mesmo às prateleiras do supermercado Intermarché de São Brás de Alportel. «Foi o boom», lembra.

Uma adesão que pode ser justificada pelas receitas antigas, todas confecionadas à mão e em forno de lenha, que se traduzem em três variedades: o Folar do Bengado, de caramelo, com canela e açúcar, o best-seller; de Chocolate; e o Tradicional, com o ovo no interior.

No início deste ano, «como as coisas correram tão bem», quiseram oficializar a empresa.
«Queríamos garantir uma maior expansão e por isso legalizámos a atividade. Criámos a Umarroba, que começou a ser divulgada apenas em maio, depois da época alta dos folares».

Nasceu uma marca artesanal, que une os sabores algarvios aos saberes de uma família sambrasense.

Os folares juntaram-se assim ao comércio de frutos secos (nozes, amêndoas e amêndoas côcas, torradas em forno de lenha) e à farinha de alfarroba. «Há épocas para cada produto.

De agosto a dezembro é a altura dos frutos secos, que acaba por coincidir com os figos cheios», por tradição, confecionados no Natal, e que a família já se encontra a preparar. «É tudo produzido à mão por nós. Os figos são recheados com amêndoa, açúcar e canela e vão a torrar ao forno de lenha. Quando saem, levam um tratamento e são colocados no frio», explica Melissa.

E de onde surgiram as receitas? A avó Adélia responde: «são muito antigas. Aprendi com a minha mãe e as minhas madrinhas, mas não eram bem assim, pois faço tudo sem ser pesado, a olho» e com base em muitos anos de experiência.

«O João e a Adélia fazem a maior parte do trabalho, mas eu ajudo e até a minha mãe enche alguns figos. Somos nós em família que fazemos tudo à mão aqui na fábrica do Bengado», justifica Melissa.

A marca está a crescer e isso significa que não há atalhos para a produção que se quer artesanal.

Em média, uma fornada de folares, que são cerca de 100, leva mais de seis horas a produzir.

«Agora já temos uma máquina que amassa, mas antes levávamos uma hora a amassar à mão. Depois, podem-se contar com mais cinco horas. Uma amassadura pode contar com umas boas seis horas de trabalho porque tem de se deixar repousar, não é apenas fazer», diz a avó. E os figos cheios? «São muito trabalhosos. Encher um quilo de figos leva cerca de três horas», refere ainda.

E compensa? A resposta é que a maior encomenda da «Umarroba», cerca de 500 folares, foi direta para a Suíça.

Na altura da Páscoa, a família produzia cerca de 80 folares por dia. Apesar de estes apenas serem produzidos de janeiro a maio, neste momento, a marca tem à disposição os frutos secos e a farinha de alfarroba, pacotes com 200 gramas, a partir dos 2,50 euros, e as caixas de figos cheios, com 400 gramas, com valores a começar nos oito euros. Para o Natal, a «Umarroba» vai ainda disponibilizar um cabaz com um produto de cada, e caixas de figos cheios premium.

Para o próximo ano há também novidades na calha, como as futuras barrinhas energéticas à base de figo, amêndoa e noz.

Até lá, tudo isto pode ser encontrado nas redes sociais (@umarroba.pt), em diversas mercearias em Estoi, Loulé, Quarteira e São Brás de Alportel e no espaço All Gourmet do MAR Shopping Algarve, em Loulé. Os passos seguintes serão entrar na cadeia Apolónia Supermercados e realizar parcerias com outras marcas regionais com uma filosofia semelhante.

Para a avó Adélia, ver os netos a seguirem as suas pisadas «é uma maravilha, porque estão aqui connosco e passam mais tempo com os avós. Hoje em dia, já não há muitos jovens a quererem fazer isto. Quem é que quer encher figos? Eu ensinei-lhes tudo, ajudo e espero que corra tudo bem e que Deus lhes dê sorte para continuarem».

Fotos da fábrica: André Nunes.

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