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sábado, 30 de outubro de 2021

E agora, pá?


 manifesto74.pt 



“O PCP chumba o orçamento, vamos para eleições, a direita ganha, o Vintruja vai para o governo, ai ui é o fascismo, e não tarda nada é a lasanha que me está a meter a mim no microondas. A única forma de evitar isto é votar no PS!”

Caaaalma, geringoncista. Tanto stress ainda te rebenta uma veia. Mais dialética e menos diazepam. O futuro não está escrito na pedra. A única crise política que existe é a que o Marcelo criou, e o OE era tão mau que o único partido que votou a favor foi o PS. O governo, se quiser (e não quer) tem 90 dias para apresentar outra proposta. Ou então pode governar em duodécimos.

É uma crise? Crise é que um em cada cinco trabalhadores viva abaixo do limiar da pobreza. Crise é que ao português comum sobra sempre mês no fim do dinheiro, nunca dinheiro no fim do mês. Crise é que nos grandes centros urbanos um salário mínimo – aquele que o governo acha que pode ser só 705€ – esteja abaixo duma renda de casa média – fruto da lei das rendas que o governo não quer revogar. Não sei se já olhaste para os resultados do Censos 2021, mas crise é termos hoje quase menos 200 mil habitantes do que tínhamos há dez anos. Com a política salarial que o PS quer manter, perdemos para a emigração. Sem as creches gratuitas, perdemos natalidade. Sem soluções nem vontade para as aplicar, é normal que o OE tenha sido chumbado.

Já deu para perceber que tu achas que vivemos num tempo novo, mas cai na real: desde 2015, o governo PS tem-se recusado a fazer alterações estruturais, fazendo avanços tímidos, repondo apenas umas coisitas, limitando-se a umas migalhitas nos últimos dois anos, mas sempre limitado por aquela que é a natureza de classe e os interesses do PS. Outra coisa não seria de esperar, e por isso é que aquele entendimento que teve início em 2015 teria que ter um fim. 

A realidade é que os problemas de base não se resolveram e ao fim de 6 orçamentos se têm vindo a acumular. E a malta foi tendo paciência, mas a paciência tem limites. E esses limites foram atingidos agora, face à intransigência nas negociações. Repara, até o Paulo Pedroso, até a Maria de Lurdes Rodrigues (aquela que encavou os professores enquanto ministra da educação do Sócrates), até a Ana Gomes, em quem tu foste votar porque era o grande baluarte antifascista, vieram a público dizer que havia margem e devia ter havido muito mais disponibilidade do governo para negociar e ceder. Foram eles, que são do PS, que disseram, não fui eu. 

Aqui ninguém matou a geringonça, ela estava morta desde 2019 e o único entendimento que houve desde então foi em dois orçamentos do Estado, e mesmo assim, já com todos os sinais de que ou havia mudanças significativas, ou a coisa estava presa por arames.

Portanto acalma a franga e deixa de dizer que vais a correr votar no PS para conter a extrema-direita porque o CHEGA vai crescer. O CHEGA cresce com a reconfiguração da direita e o teu voto “contra” não muda nada nessa reconfiguração.

E já agora, acerca desse medo do papão da extrema-direita: ela sempre lá esteve, pá. Quem foram o Sá Carneiro e o Pinto Balsemão, deputados da Assembleia Nacional fascista? Fundadores do PSD. Ou o Adriano Moreira, Ministro do Ultramar fascista? Presidente e deputado do CDS. Ou o Veiga Simão, ministro da Educação Nacional fascista? Deputado e duas vezes ministro do PS, uma vez com o Soares e outra com o Guterres. A única diferença entre estes e o Vintruja é que estes são fachos de salão, e o Vintruja arma-se em facho da tasca.

Portanto, a não ser que o eleitorado de esquerda vá a correr votar na direita, o mais provável é que depois das eleições fique tudo mais ou menos na mesma.

Se quiseres, claro. Porque se mesmo depois do que viste acontecer em 2015, ainda cederes à pressão do voto útil e fores a correr votar no PS (caso em que, diria o meu avô, para seres burro só te faltam as penas) e eles tiverem maioria absoluta, não tens mais Costa, tens é mais Sócrates. Tens um PS a ser PS, a finalmente aliviar toda a sua tesão privatizadora que teve de conter durante estes 6 anos. Se um PS minoritário não avançou em reformas estruturais importantes para a classe trabalhadora, imagina um PS com maioria absoluta.

“PS a conter privatizações”, óleo sobre tela, 2021

Se isto ainda não te tinha passado pela cabeça, notícia de última hora: a eles passou. Por isso é que preferiram não apresentar um OE que pudesse ser aprovado, para com o apoio do Marcelo poderem ir novamente a eleições com a maioria absoluta no horizonte. Cabe-nos agora não cair no conto do vigário.


E agora, pá?

NACIONAL

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