sexta-feira, 24 de setembro de 2021

ANA SILVA PAIS - A REBELDE

 






 

"ANNIE, A FILHA REBELDE DO DIRETOR DA PIDE" aqui deixo algumas passagens, da vida de uma filha Annie e de uma mãe Armanda: "Se o pai, num primeiro momento pelo menos, permaneceu impávido à frente da PIDE, a mãe não se conformou e partiu para Cuba à procura da filha. A relação entre as duas nunca foi totalmente livre de atritos e quando Armanda Silva Pais chegou e viu a filha de farda, como as milícias, entendeu que não a conseguiria demover." " Quando regressou a Cuba, Annie começou a viajar ao serviço do ESTI — Equipo de Servicios de Traductores e Intérpretes. Até da Coreia do Norte enviou postais à mãe. Em Agosto de 1988, foi operada de urgência a um nódulo na mama. Annie ficou desanimada, alimentava-se mal, perdeu o cabelo.
Voltou ao trabalho depois de uma segunda operação e viajou por Chipre, Rússia, África. A mãe quis ir vê-la a Cuba, mas houve demoras na embaixada em Lisboa. Neste momento de aperto, Armanda esqueceu o seu ódio ao país que lhe levou a filha e revoltou-se contra os portugueses: “Gente indecente, só os cubanos estão a fazer o que podem, por ela e por mim”
Trata-se da história de Ana Maria Palhota Silva Pais (1935 – 1990), conhecida pelo petit nom Annie, a filha única do último diretor da PIDE, o major Fernando Silva Pais, que dirigiu a polícia política do regime fascista durante os seus últimos doze anos (de 1962 a 1974), que se apaixonou pela revolução cubana, deixando-se envolver pelo clima de efervescência política e social vivido em Havana nos agitados anos 60.
Annie era uma mulher extremamente bonita, culta e com uma sólida formação, determinada, corajosa, que vivia com todas as facilidades e mordomias, e que abandonou todo o seu passado e estatuto, todas as suas referências familiares, todas as suas amizades, para, sob o fascínio da figura de Che Guevara, se entregar à revolução cubana com a qual se identificou.
Em 1960, em Lisboa, Annie conhece o diplomata suíço Raymond Quendoz. Nesse mesmo ano casam. Passados dois anos o marido é colocado na embaixada de Havana, na ilha de Cuba. Annie acompanha-o. Porém, infeliz no casamento, em 1965, com a colaboração de elementos do governo cubano, desaparece por três meses. Quando volta a apresentar-se, fica a saber-se que a jovem tomara a inesperada e extraordinária decisão de aderir ao movimento desencadeado pelos guerrilheiros da Sierra Maestra.
O compromisso da portuguesa com a revolução é total: o governo cubano atribui-lhe um pequeno apartamento, arranja-lhe trabalho e, Annie, vive de senhas de racionamento (em virtude do bloqueio norte-americano), usa farda, dedicando-se de corpo e alma ao regime cujos ideais o pai combate sem tréguas em Portugal.
Em Cuba exerce vários cargos em diversas estruturas do regime comunista, mantendo-se sempre politicamente bem relacionada com as altas esferas do país; viaja por todos os continentes ao serviço da causa revolucionária; é tradutora-intérprete do presidente Fidel Castro; e mantém uma relação amorosa com o comandante René Vallejo, casado, secretário, médico particular e sombra de Castro – uma alta individualidade da revolução cubana – e, mais tarde, com José Abrantes, general e ministro do Interior.
Entretanto, em Portugal, quando o major Silva Pais se vê na obrigação de informar Salazar do sucedido e de pôr o seu lugar à disposição, este (já ao corrente do acontecimento), muito benevolente, diz-lhe «para não se preocupar e continuar o seu trabalho». E o assunto, durante anos, não sairá dos corredores do poder, sendo apenas comentado em surdina.
Sabe-se também que, apesar de Annie ter dececionado os pais, apesar da sua relação extremamente conflituosa com a mãe, mantém com estes uma correspondência mais ou menos regular, recebe a mãe em Cuba e desloca-se por diversas vezes ao seu país a fim de visitar os progenitores.
Annie viria a morrer, de cancro, com 54 anos de idade. Foi enterrada em campa rasa no cemitério Cólon, em Havana.
Hasta siempre, Annie!

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