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De um lado, países como Portugal, Canadá, Espanha, Bélgica, Chile, Reino Unido ou Israel, com percentagens de vacinação na ordem nos 70% (cerca de 60% para vacinação completa) da população. Do outro, Afegnistão, Sudão, Vietname ou Nigéria, onde a percentagem de vacinação anda na casa do 1 por cento. Se nos EUA e na Europa já só se pensa numa terceira dose ainda este ano, em todo o mundo há centenas de milhões, sobretudo em África e no Sudeste Asitático, que não receberam sequer a primeira. Cenário de fundo: uma variante que é dominante em grande parte dos países e que é, sem dúvida, mais transmissível.
Agências internacionais e a própria Organização Mundial de Saúde apelam a uma moratória das doses de reforço, pelo menos até haver certezas sobre a sua necessidade, e à canalização dessas doses para os países que lutam com a falta delas.
Vários especialistas fazem apelos no mesmo sentido, como é o caso de Andrea Taylor, do Centro de Inovação para a Saúde Global da Universidade americana de Duke, e é dela, em declarações à CNN, a comparação do título deste artigo: “Se países como a Alemanha [que já fez saber que pode doar vacinas, sim, mas que vai avançar com as terceiras doses], como os EUA, como o Reino Unido, optarem por dar doses de reforço antes de assegurarmos que todas as comunidades em todo o mundo têm acesso às primeiras duas doses da vacina, não estamos a resolver o problema… é um pouco como pôr um penso rápido em cima de um grande buraco.”
E aqui está a variante Delta a complicar as contas de todos os países, lembra. “Tal como vimos no Sul da Ásia, quando houve uma transmissão descontrolada e a variante Delta ganhou força, não há nada que impeça isso de acontecer agora mesmo em África. E, portanto, é muito provável que acabemos numa situação em que temos variantes ainda mais perigosas, mais transmissíveis, mais infecciosas a sair da transmissão a que estamos atualmente a assistir em África.”
Como resumem várias agências internacionais, ninguém está a salvo até estarem todos a salvo, uma vez que enquanto o coronavírus estiver em circulação livre, são grandes as hipóteses do aparecimento de novas variantes – e até, possivelmente, resistente às vacinas.
Para acabar com a pandemia, a OMS estima que são precisos 11 mil milhões de doses, as necessárias para ter, daqui a um ano, pelo menos, 70% da população mundial vacinada, conforme se ouviu do diretor-geral da organização, Tedros Adhanom Ghebreyesus, na abertura da cimeira do G7, em junho passado.
Até agora, a Covax enviou 188.1 milhões de doses para 138 países.
Na última quinta-feira, o enviado especial da União Africana para a Covid-19 lamentava que apenas chegaram a África 10% dos 320 milhões de vacinas que a Covax tinha anunciado que chegariam à região em agosto. Em distribuição estão já 400 milhões de doses de vacinas que os Estados membros da UA se comprometeram a adquirir para imunizar parte da população africana, com o Togo a ser o primeiro país a recebê-las. Foi escolhida a vacina Johnson & Johnson por ser de dose única, mais fácil e mais barata de administrar, tem um longo prazo de validade e condições de armazenamento favoráveis e é parcialmente fabricada no continente africano.
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