segunda-feira, 9 de agosto de 2021

Terceiras doses não vão acabar com a pandemia, avisam especialistas. "É como pôr um penso rápido num grande buraco"


 visao.sapo.pt



De um lado, países como Portugal, Canadá, Espanha, Bélgica, Chile, Reino Unido ou Israel, com percentagens de vacinação na ordem nos 70% (cerca de 60% para vacinação completa) da população. Do outro, Afegnistão, Sudão, Vietname ou Nigéria, onde a percentagem de vacinação anda na casa do 1 por cento. Se nos EUA e na Europa já só se pensa numa terceira dose ainda este ano, em todo o mundo há centenas de milhões, sobretudo em África e no Sudeste Asitático, que não receberam sequer a primeira. Cenário de fundo: uma variante que é dominante em grande parte dos países e que é, sem dúvida, mais transmissível.

Agências internacionais e a própria Organização Mundial de Saúde apelam a uma moratória das doses de reforço, pelo menos até haver certezas sobre a sua necessidade, e à canalização dessas doses para os países que lutam com a falta delas.

Vários especialistas fazem apelos no mesmo sentido, como é o caso de Andrea Taylor, do Centro de Inovação para a Saúde Global da Universidade americana de Duke, e é dela, em declarações à CNN, a comparação do título deste artigo: “Se países como a Alemanha [que já fez saber que pode doar vacinas, sim, mas que vai avançar com as terceiras doses], como os EUA, como o Reino Unido, optarem por dar doses de reforço antes de assegurarmos que todas as comunidades em todo o mundo têm acesso às primeiras duas doses da vacina, não estamos a resolver o problema… é um pouco como pôr um penso rápido em cima de um grande buraco.”

E aqui está a variante Delta a complicar as contas de todos os países, lembra. “Tal como vimos no Sul da Ásia, quando houve uma transmissão descontrolada e a variante Delta ganhou força, não há nada que impeça isso de acontecer agora mesmo em África. E, portanto, é muito provável que acabemos numa situação em que temos variantes ainda mais perigosas, mais transmissíveis, mais infecciosas a sair da transmissão a que estamos atualmente a assistir em África.”

Como resumem várias agências internacionais, ninguém está a salvo até estarem todos a salvo, uma vez que enquanto o coronavírus estiver em circulação livre, são grandes as hipóteses do aparecimento de novas variantes – e até, possivelmente, resistente às vacinas.

Para acabar com a pandemia, a OMS estima que são precisos 11 mil milhões de doses, as necessárias para ter, daqui a um ano, pelo menos, 70% da população mundial vacinada, conforme se ouviu do diretor-geral da organização, Tedros Adhanom Ghebreyesus, na abertura da cimeira do G7, em junho passado.

Até agora, a Covax enviou 188.1 milhões de doses para 138 países.

Na última quinta-feira, o enviado especial da União Africana para a Covid-19 lamentava que apenas chegaram a África 10% dos 320 milhões de vacinas que a Covax tinha anunciado que chegariam à região em agosto. Em distribuição estão já 400 milhões de doses de vacinas que os Estados membros da UA se comprometeram a adquirir para imunizar parte da população africana, com o Togo a ser o primeiro país a recebê-las. Foi escolhida a vacina Johnson & Johnson por ser de dose única, mais fácil e mais barata de administrar, tem um longo prazo de validade e condições de armazenamento favoráveis e é parcialmente fabricada no continente africano.

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