segunda-feira, 16 de agosto de 2021

Maravillas Lamberto, a «florzita de Larraga» que os fascistas mataram há 85 anos

 


Apesar de não ter sido palco de episódios bélicos como as vizinhas Guipúscoa ou Biscaia, Navarra foi punida com especial sanha pelos fascistas em 1936. O crime contra Maravillas não o deixa esquecer.

Imagem numa homenagem a Maravillas Lamberto, com a únicafotografia que restou dela 
Imagem numa homenagem a Maravillas Lamberto, com a únicafotografia que restou dela Créditos/ naiz.eus

O caso de Maravillas Lamberto Yoldi – violada, executada e atirada aos cães – é um dos muitos crimes cometidos pelos fascistas em Navarra e um dos episódios mais arrepiantes da Guerra de 1936 ou Guerra Civil Espanhola, um mês depois do levantamento de 18 de Julho.

Passados 85 anos, o 15 de Agosto continua a trazer consigo esta memória, a da «florzita de Larraga», como ficou conhecida, em Navarra, no País Basco e no Estado espanhol em geral.

Maravillas Lamberto Yoldi, de 14 anos, era filha Vicente Lamberto, um sindicalista que militava na UGT. No dia 15 de Agosto de 1936, elementos da Guarda Civil, acompanhados por um falangista, apareceram em sua casa, em Larraga, para o prender.

Maravillas, que era a mais velha de três irmãs, insistiu para acompanhar o pai, que foi levado para a Câmara Municipal da pequena localidade navarra. Ali, o sindicalista foi metido na cadeia, na parte inferior do edifício, e a filha foi levada para a secretaria, na parte de cima, onde os fascistas a violaram repetidamente.

Foram ambos levados para um bosque próximo, onde a jovem ainda foi violada à frente do pai mesmo antes de o fuzilarem. O corpo de Maravillas Lamberto foi abandonado aos cães.

Uma tragédia que se prolongou no tempo

A tragédia da família, recordava ontem o diário naiz.eus, não acabou aí. Paulina Yoldi, mulher de um rojo, teve de fugir da terra com as duas filhas sobreviventes, Pilar, de 10 anos, e Josefina, de sete. Esta entrou num convento com a intenção de estudar, mas, como revelou posteriormente em entrevistas, foi tratada como uma escrava durante 30 anos pelas superioras. Foi transferida para Caráchi, no Paquistão, e não a deixavam regressar.



Quando conseguiu finalmente voltar para Pamplona, Josefina trabalhou como voluntária na cantina social París 365 e tornou-se uma referência na luta pela memória histórica.

O corpo do seu pai, que acabou numa valeta anónima, jamais foi encontrado. Só em 2012, o Município de Larraga afixou uma placa evocativa para assinalar os factos. A sua história é contada no documentário Florecica, que foi estreado em Setembro do ano passado.

Nos últimos anos, tem sido homenageada por parte de diversas entidades. A 26 de Outubro de 2008, a associação Ahaztuak 1936-1977, que luta pela memória histórica e pelos direitos das vítimas do golpe de Estado, da repressão e do fascismo, homenageou Maravillas e as demais 45 vítimas do fascismo em Larraga nos anos da guerra.

O cantautor navarro Fermin Balentzia foi um dos que mais contribuíram para divulgar o caso de Maravillas, com uma balada emotiva, em castelhano. Com um estilo muito diferente e em basco, os também navarros Berri Txarrak, banda de rock de Lekunberri, criaram uma canção com o mesmo título, «Maravillas», incluída no seu disco Payola.



www.abrilabril.pt

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