sábado, 7 de agosto de 2021

Exploradores revelam os segredos de algumas das maiores e mais misteriosas grutas do mundo

 nationalgeographic.pt 


grutas

Um membro da expedição pendurado do tecto da Gruta do Veado paira sobre uma silhueta que se assemelha a Abraham Lincoln. O perfil presidencial é uma característica natural do calcário e uma de muitas curiosidades existentes no sistema de grutas.

Se o leitor é um daqueles exploradores que gostam de rastejar para lugares escuros, quentes e húmidos para descobrir outros lugares escuros, quentes e húmidos, o Bornéu é a sua terra de sonho.

Texto: Neil Shea
Fotografias: Carsten Peter

No final de uma manhã sufocante de Abril, dois esguios espeleólogos britânicos, chamados Frank e Cookie, descem por um poço escorregadio e húmido sob a floresta tropical do Bornéu.

Passando por uma antiga pilha de guano na descida, a dupla espera fazer história. Antes disso, os dois já tinham rastejado até ao interior da Gruta dos Ventos (Wind Cave), nas profundezas de um sistema de grutas conhecido como Água Limpa (Clearwater), esperando encontrar uma passagem para a Gruta das Cobras (Racer Cave), que integra o sistema Cobras-Páscoa (Racer-Easter System).

Um espeleólogo parece um mero ponto na entrada colossal da Gruta do Veado, de 150 metros de altura. A luz do sol alcança as profundezas da cavidade, permitindo que musgos, fenos e algas floresçam junto da entrada. No solo, caranguejos, insectos e bactérias alimentam-se de guano de aves e morcegos.


Um espeleólogo parece um mero ponto na entrada colossal da Gruta do Veado, de 150 metros de altura. A luz do sol alcança as profundezas da cavidade, permitindo que musgos, fenos e algas floresçam junto da entrada. No solo, caranguejos, insectos e bactérias alimentam-se de guano de aves e morcegos.
Quedas de água com aproximadamente 120 metros de altura penetram pelo tecto da Gruta do Veado após uma tempestade. Algumas grutas de Gunung Mulu contêm grandes rios, cujo caudal engrossa e se transforma em torrentes violentas quando caem grandes chuvadas.
A Sala Sarawak, fugazmente iluminada por dezenas de flashes, é a maior câmara descoberta até à data numa gruta terrestre. Tem mais do dobro do tamanho do estádio britânico de Wembley acolhe milhares de pequenas aves chamadas salanganas ou andorinhões-das-grutas. (Panorâmica composta por cinco imagens)
Conjuntos de grossas estalagmites erguem-se de bancos de sedimentos pálidos como a lua na Floresta Bêbeda (Drunken Forest). A gruta recebeu este nome devido ao ângulo invulgar das suas formações. (Panorâmica composta por cinco imagens)
Ao crepúsculo, um grupo de morcegos dispersa-se para caçar na floresta tropical em redor da Gruta do Veado (Dear Cave), uma das maiores passagens subterrâneas do mundo onde vivem mais de dois milhões de morcegos.
Pináculos de calcário irrompem da vegetação, perto do centro do Parque Nacional de Gunung Mulu, na Malásia. Criadas ao longo de centenas de milhares de anos pela erosão do espesso leito rochoso de calcário, estas formações cársicas sugerem a existência de grutas abaixo do solo.
Deer Cave é o lar de várias espécies de morcegos, que geralmente voam à noite para caçar.
As imponentes paredes da galeria Gua Nasib Bagus - Caverna da Sorte - e o acampamento da equipa de espeleologia.
Os carregadores locais transportam o equipamento da equipa de expedição através de um rio subterrâneo para alcançar várias câmaras dentro do sistema de cavernas.
Neil Shea passa por uma passagem para entrar numa câmara anteriormente desconhecida, descoberta pela equipa apenas alguns dias antes.

A busca de uma ligação entre grutas significaria criar um “supersistema”, um dos mais longos labirintos subterrâneos do planeta. À medida que os homens desciam, rastejando e criando pontos de apoio na rocha para fixar cordas de espeleo, as probabilidades de sucesso pareciam razoáveis.

Sabiam de antemão que o sistema Água Limpa se prolongava por 226 quilómetros e que em algumas das grutas existiam rios turbulentos, ao passo que o sistema Cobras-Páscoa continha câmaras tão grandes que poderiam facilmente acolher um avião comercial e ainda sobraria espaço. Por outras palavras, o calcário subjacente a esta região, sob o Parque Nacional de Gunung Mulu, na Malásia, apresenta alguns dos maiores buracos, alguns dos túneis mais largos e alguns dos mais arrebatadores espaços vazios existentes no planeta.

Imagine Frank e Cookie lá em baixo, cobertos de lama e com sorrisos nos rostos, prestes a unirem dois sistemas de grutas numa única e enorme cavidade. Para os espeleólogos, é a sua razão de ser, até porque é raro concretizar estas ligações entre sistemas. No mundo frequentemente obscuro da exploração subterrânea, a proeza seria considerada extraordinária.

Noutro local abaixo da superfície terrestre, nas entranhas da Gruta das Cobras, outra equipa deslizava até à sua posição. Estes homens também transportavam martelos e brocas e, em breve, começariam a bater nas paredes da gruta e a perfurar a rocha, ouvindo-se mutuamente, na esperança de que o ruído os conduzisse a uma ligação e lhes garantisse um lugar histórico nos livros de recordes.

Pouco acima deles, eu estava sentado numa grande galeria, escutando os instrumentos de perfuração. A galeria estava intacta. Fora descoberta poucos dias antes e eu era uma das primeiras pessoas a entrar nela. No local onde me encontrava sentado, rodeado de estalagmites gigantes e cogumelos de pedra colossais, a gruta revelava sons exuberantes. 

Junto do meu cotovelo, a água gotejava em bacias límpidas, enquanto acima da minha cabeça milhares de salanganas (minúsculas aves negras que passam grande parte da vida em câmaras escuras como breu) chilreavam, emitiam cliques e procuravam os seus ninhos construídos com saliva, musgo e lama.

Mesmo que Frank e Cookie estivessem prestes a fazer história sob os meus pés, eu não iria ouvir nada e isso pouco me preocupava. Mais do que qualquer outro desporto, a espeleologia valoriza sobretudo os segredos e aquilo que somos capazes de aguentar para desvendá-los. Por vezes, tudo o que conseguimos fazer é esperar para ver o que a escuridão revela. Por isso, encostei-me descontraidamente, desliguei a lanterna e ouvi as salanganas sobrevoarem-me baixinho, aproximando-se tanto que eu conseguia sentir as suas asas batendo nas minhas bochechas.

“Este sítio é mesmo excitante! Haverá mais algum lugar na Terra onde consigamos encontrar tanto por explorar?” Um enorme sorriso iluminou o rosto de Andy Eavis. “No que diz respeito à espeleologia, o Bornéu é único. Não há outro lugar como este sob a terra.”

Em excelente condição física para os seus 70 anos, Andy Eavis sentia-se à vontade para fazer essa afirmação. Passou mais de 50 anos a explorar alguns dos mais isolados e fantásticos sistemas subterrâneos do mundo e trabalha há décadas para proteger as grutas e a assegurar que estas permanecem abertas aos espeleólogos que as adoram. 

Na verdade, Andy Eavis é um embaixador do mundo subterrâneo.

grutas borneu

Originalmente esculpido por rios subterrâneos, o sistema de grutas de Credence foi lentamente empurrado para cima por forças tectónicas, que o ergueram da água e ajudaram-no a secar.

Certa manhã, em plena floresta tropical, Andy estava de pé no posto de investigação junto da sede do parque, preparando-se para descer ao subsolo. Uma brisa abafada descia pela copa das árvores, silenciando o zumbido de inúmeros insectos.

Junto dos trilhos, caracóis e sapos corriam para a sombra enquanto aves guinchavam em protesto contra o calor crescente. Andy vestiu calças pretas, a peça de vestuário mais comum usada pelos exploradores em grutas “quentes” como estas do Bornéu, onde as temperaturas podem atingir 26ºC.

“É claro que quando comecei não tínhamos equipamentos como este”, disse Eavis, apontando para as calças. “Ou estes”, acrescentou, segurando um capacete vermelho amolgado ao qual prendera uma lâmpada do tamanho de uma chávena.

“Naquele tempo, andávamos basicamente a tropeçar no escuro. Não fazíamos ideia da imensidão que iríamos descobrir.”

Em 1979, Andy Eavis chegou ao Bornéu integrado numa expedição britânica para estudar a floresta tropical e ajudar a Malásia, que conquistara recentemente a sua independência, a conhecer o recém-criado Parque Nacional de Gunung Mulu.
A espeleologia ainda era uma actividade relativamente jovem. Andy e os restantes quatro elementos da equipa de espeleologia só foram incluídos na missão quando os coordenadores do projecto se aperceberem da existência de grutas enormes entre os vários tesouros escondidos na floresta.

Andy e os amigos tinham afinado as suas capacidades em casa, na Grã-Bretanha, onde as grutas costumam ser pequenas e frias. As grutas do Bornéu, em contrapartida, eram o oposto em quase todos os aspectos e conduziram-nos a outra dimensão.

A sua primeira descoberta valeu-lhes um novo recorde: chamava-se Gruta do Veado, ou Gua Rusa, e a sua entrada era tão grande (com quase 150 metros de altura) que o sol atingia locais profundos e o ar fresco circulava no interior, criando um habitat estranho e maravilhoso, no limiar entre a luz do dia e a escuridão. 

Uma gigantesca colónia de morcegos vivia no tecto da gruta, enquanto, no solo, acumulavam-se pilhas espessas de guano, baratas, caranguejos, vermes e uma grande quantidade de micróbios especializados.

A equipa britânica descobriu que a Gruta do Veado se estendia por quase três quilómetros e, durante a década seguinte, foi considerada a maior passagem subterrânea conhecida em todo o mundo. Em 1991, uma gruta descoberta no Vietname, chamada Hang Son Doong, suplantou-a, mas a descida na tabela não diminuiu o encanto da Gruta do Veado. Hoje, continua a ser uma grande atracção para turistas, que deambulam sobre um passadiço interior e reúnem-se à entrada na alvorada, segurando bebidas, batendo palmas e suspirando enquanto milhões de morcegos em fuga parecem formar um rasto de fumo no céu.

Ostensiva, óbvia e grandiosa, a Gruta do Veado indiciava que existiria mais por descobrir lá em baixo. Durante três meses passados em Mulu, com a ajuda de guias das tribos vizinhas de Penan e Berawan, os espeleólogos encontraram numerosas entradas que conduziam a locais mais profundos do antigo maciço calcário da região.

Algumas grutas começavam como fendas insignificantes nas vertentes rochosas, cobertas de arbustos e ramos. 

Geralmente situadas a maior altitude, estas grutas eram mais antigas e relativamente secas, perfurando o centro das montanhas de Mulu.

Outras grutas, situadas a altitudes mais baixas, pareciam sumidouros gigantes de tempestade – buracos enormes no leito rochoso que conduziam a água da chuva para os rios subterrâneos. Estas grutas com rios eram mais jovens, formadas há centenas de milhares de anos, revestidas com magníficas formações calcárias e serviam de lar a peixes, aves, serpentes, caranguejos pálidos como fantasmas e a uma galáxia de aranhas e insectos.

Durante o tempo que passaram no subsolo em 1979, Andy Eavis e os seus colegas espeleólogos exploraram cerca de 50 quilómetros de passagens. Foi um feito sem precedentes. Quase quarenta anos mais tarde, vestindo calças pretas nesta manhã quente, Andy sorriu ao lembrar-se disso. “Nenhuma expedição explorou tanto numa só vez”, comentou. “Cumprimos a maior parte da aventura em pé, sabe?”

Andy fez uma pausa, olhando para o equipamento e curvou-se ao nível da cintura. Tirou uma sanguessuga do atacador da bota e atirou-a para a selva. “Até àquele momento, éramos meros espeleólogos ingleses”, disse. “Mulu transformou-nos.”

A aventura de 1979 abriu caminho à exploração no Bornéu. Várias equipas de espeleólogos empreenderam a longa viagem até Mulu a partir desse momento e o próprio Andy Eavis liderou muitas campanhas. Na sua 13.ª viagem, organizou uma comitiva de 30 espeleólogos, incluindo o seu filho Robert e muitos veteranos de Mulu. Em finais de Março, contactei-o por telefone em Kuching, uma cidade na costa ocidental do Bornéu, enquanto ele viajava para se juntar a eles.

“Iremos provavelmente identificar mais 50 quilómetros de novas passagens na gruta”, projectou com confiança. “E ninguém faz isso. Só eu, creio.”

Duas semanas mais tarde, quando me juntei a ele em Mulu, a fé já abrandara. 

A expedição dividira-se em três equipas principais. Duas procuravam novas passagens numa zona isolada da floresta tropical, enquanto a terceira, designada por “equipa de ligação”, examinava mapas, procurando locais onde diferentes sistemas de grutas pudessem unir-se.

Até à data, o ritmo da descoberta fora lento e o Santo Graal das ligações – o único que Frank e Cookie sondariam mais tarde – escapara-lhes. Andy reconheceu a sua desilusão, mas as suas equipas já tinham descoberto mais de dez quilómetros de novas ligações.

Na manhã seguinte à minha chegada, juntei-me a ele e a uma pequena equipa que se dirigia a uma gruta chamada Gua Nasib Bagus – Gruta da Boa Sorte – onde se encontra a sobrenatural Sala Sarawak. Acompanhado por outros exploradores britânicos, Andy descobrira esta gruta e a câmara em 1981, seguindo um rio junto da encosta de uma montanha.

Depois de escalarem, treparem e rastejarem rio acima durante horas, os espeleólogos chegaram a um local calmo e sereno onde o rio desaparecia terra adentro. Os homens pegaram em fitas métricas e começaram a topografar a escuridão, esperando alcançar a parede do fundo em breve.

No entanto, nenhuma parede apareceu. 

Por isso, experimentaram uma táctica diferente, dando uma curva apertada, convencidos de que iriam bater numa parede lateral. Ouviram salanganas piando sobre si e o rio rugindo algures lá em baixo. Mesmo assim, não havia parede. Os feixes das lanternas dos capacetes perdiam-se na escuridão.

Após 17 horas de explorações, os homens saíram aos tropeções da Gruta da Boa Sorte, encharcados e confusos. Teriam caminhado em círculos durante várias horas? Ou estavam prestes a fazer uma descoberta extraordinária?

Mais tarde, outras equipas provariam que a Sala Sarawak é o maior espaço fechado conhecido do planeta, com 600 metros de comprimento, 435 metros de largura e 150 metros de altura. Tem mais do dobro do tamanho do mais conhecido recinto desportivo do Reino Unido, o Estádio de Wembley.

Enquanto atravessávamos a floresta tropical densa em direcção à Gruta da Boa Sorte, perguntei ao espeleólogo Philip Rowsell, também conhecido como “Mad Phil”, qual a razão que levava um explorador ambicioso a regressar a um local tão visitado, quando já tinham ali sido estabelecidos tantos recordes. Ele contrapôs que as grutas nunca revelam tudo na primeira visita. “É frequente encontrar características que passaram despercebidas aos exploradores anteriores. Sobretudo quando são tão absurdamente grandes que nos deixam atordoados.”

A Sala Sarawak era tão grande, explicou Mad Phil, que continha, quase de certeza, novas passagens, sobretudo no tecto, onde nunca ninguém xas procurara. Embora seja tentador pensar que as grutas são parecidas com poços de mina (túneis que descem de forma relativamente rectilínea), as grutas naturais não são lineares, expandindo-se e contraindo-se consoante o movimento das rochas, os meandros da água e o labor do caos.

Conceitos como “cima” e “baixo” ganham significados mais subtis debaixo do solo, onde as direcções podem ser completamente invertidas ao longo de milhões de anos. Se alguém estiver a explorar a parte de baixo da gruta, outro espeleólogo poderá experimentar erguer os olhos. E olhar para cima era a especialidade de Mad Phil.

Mad Phil era conhecido por escalar paredes de grutas que ninguém tentara escalar anteriormente. Ele e Andy planeavam subir ao tecto da Sala Sarawak, procurando túneis que o atravessassem como passagens escondidas no tecto de um palácio. 

A chuva caía enquanto serpenteávamos pela floresta. Gradualmente, tornou-se mais grossa e mais torrencial e o barulho abafava todos os sons e conversas. Uma hora mais tarde, chegámos à saída da Gruta da Boa Sorte, onde um rio emergia de uma fenda situada no alto de uma parede de calcário. Entrámos no rio e avançámos, com a água quente e límpida a alcançar-nos a barriga das pernas, depois as ancas e, por fim, o peito.

A passagem alargou e cresceu, abrindo-se como um túnel sobre nós. Morcegos e aves deslocavam-se através dele, atravessando ocasionalmente os feixes de luz das nossas lanternas. Pouco depois, as águas do rio transformaram-se em rápidos, irrompendo por estreitos canais de calcário e atirando-nos sem contemplações contra pedregulhos escorregadios, cobertos de água e de guano.

O caminho era tão traiçoeiro que, em determinados locais, os espeleólogos que exploraram o local antes de nós tinham fixado cordas às paredes para poderem avançar contra a corrente.

Após uns loucos e encharcados 1.600 metros de trajecto, o rio desapareceu no solo e a Sala Sarawak engoliu-nos na sua imensidão. Mesmo com todas as lanternas apontadas para cima, só conseguíamos vislumbrar um ligeiro indício da existência de uma cúpula gigantesca. Foi fácil imaginar Andy e os amigos perdidos aqui, anos antes, no meio do vazio.

“Se olhar em redor, poderá ver as pegadas antigas das nossas botas”, disse Andy, rindo-se. “Aos tropeções, como os ratos ceguetas que éramos.”

grutas bornéu

O líder da expedição, Andy Eavis, acede a uma pequena caverna coberta de algas. 

Ele estuda e explora os sistemas de cavernas do Parque Nacional Gunung Mulu desde 1979.

A curiosidade mais estranha das grutas é o facto de nos lembramos delas como sendo claras. Sombreadas em alguns recantos, mas com paredes, rochas e aranhas muito bem iluminadas. As fotografias só aumentam esta ilusão. A verdade é que, excepto no instante em que o flash do fotógrafo inunda a gruta de luz, quase tudo é invisível.

Sem luz solar para medir a passagem do tempo, marcamo-lo com refeições, chá e chocolates.

Perto da entrada da sala, Mad Phil começou a espetar pontos de apoio na parede, contornando uma saliência até chegar ao tecto. Os outros membros da equipa exploravam cá em baixo, seguindo em frente, examinando o maior espaço fechado conhecido do planeta.

Lá em cima, as salanganas discutiam e chamavam sem descansar, descendo ocasionalmente e poisando nos nossos peitos, onde se sentavam e se deixavam acariciar. À “noite”, desenrolávamos os colchões sobre a pedra lisa e pendurávamos cordas para arejar as nossas meias. A câmara era húmida e quente, como se a própria escuridão fosse molhada e, para lá das margens do acampamento, uma constelação de pequenas jóias cintilava sob a luz das nossas lanternas. Eram os olhos de inúmeras aranhas, algumas tão grandes como a minha mão.

Certo dia, com Mad Phil e um jovem espeleólogo chamado Ben, explorei o sector esquerdo da sala, procurando outra entrada. Sarawak é tão grande que pode conter muitos troços diferentes. Escalámos pelo menos meia dúzia deles, passando de uma pilha de pedregulhos soltos e lamacentos para um labirinto calcário, com paredes afiadas como um ralador de queijo, para um recanto misteriosamente silencioso coberto de penas e montes pronunciados de guano que pareciam o tipo de local onde todos os habitantes das grutas – aves, aranhas, grilos e centopeias – iam morrer.

Mais adiante, havia um berçário silencioso onde a gruta era tão quente e tão serena que as salanganas se sentiam seguras para chocarem os ovos sobre o solo. 

Nunca encontrámos outra entrada, embora tivéssemos a certeza de que existe uma: o som da água e as aves comprovam-no. Tivemos de deixar a sua descoberta para futuros exploradores.

No final, a equipa de Andy Eavis não fez mais nenhuma descoberta invulgar. Frank e Cookie nunca ligaram o sistema Água Limpa ao seu vizinho. No entanto, a expedição teve sucesso na descoberta e mapeamento de uns respeitáveis 23 quilómetros de novas passagens.

Algumas semanas depois de partir do Bornéu, falei com Andy. Ele disse-me que já estava a planear nova viagem ao Parque Nacional de Gunung Mulu para ligar as grutas pessoalmente.

“Acho que só descobrimos 50% das passagens”, disse. “Não gostaria de saber? Mulu é um lugar incrível e eu quero saber o que está lá em baixo e ver como todas as peças se encaixam.” Era um labirinto para durar uma vida inteira, acrescentou.

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