sábado, 12 de junho de 2021

Líder neonazi com cadastro é campeão de vendas da Remax




Um dos melhores vendedores da Remax em Lisboa é também um dos principais neonazis condenados do país. Em Junho de 2020, no mesmo mês em que recebe um diploma por ter sido o segundo melhor agente do mês a facturar e angariar, Bruno Monteiro torna-se também um dos 27 acusados por crimes raciais, entre eles agressões a homossexuais, negros e comunistas, no megaprocesso contra os Hammerskins, grupo skinhead que lidera.

“Mesmo num ano atípico a todos os níveis, é importante tentar ser constante e coerente no que fazemos. A equipa Bruno Monteiro está em fase de crescimento; contudo, os resultados estão à vista”, lê-se na publicação, em tom de celebração do produtivo mês. Este ano voltou a ser aplaudido pela Remax: no primeiro trimestre de 2021 foi o quinto melhor agente de Lisboa Centro. Até teve direito a ser mencionado na cerimónia virtual dos prémios R3, que galardoam os melhores desempenhos da empresa.

Ao mesmo tempo que conquista distinções de vendas, também acumula cadastro. No passado, Monteiro foi condenado a uma pena suspensa pelas agressões a um estudante universitário que pintava um mural antifascista na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Foi ainda condenado em 2007, com Mário Machado, na sequência de uma investigação da Unidade Contra Terrorismo da Polícia Judiciária contra os Hammerskins, por suspeita de crimes de discriminação racial. Noutro processo, chegou a ser julgado no Tribunal de Loures por suspeitas de pertencer a uma rede de sequestro e tortura de compradores de droga, liderada por Mário Machado, mas acabou por ser absolvido.

A nível político esteve ainda envolvido no trabalho partidário da extrema-direita: foi responsável pela Juventude Nacionalista do Partido Nacional Renovador (PNR) e substituiu Mário Machado na liderança dos Hammerskins.

Nas suas redes sociais, o agente imobiliário não esconde as suas ligações. Num dos seus primeiros posts no Instagram, Bruno Monteiro publicou um almoço em Ponte de Lima com Nuno Themudo e Nuno Cláudio Cerejeira (sobrinho-neto do cardeal Cerejeira, figura central do Estado Novo), outros conhecidos Hammerskins, ambos condenados no processo do assassinato de Alcindo Monteiro, em 1995. “Tudo bons rapazes”, lê-se no Instagram de Bruno Monteiro.

Ao NOVO, a Remax Portugal esclareceu que o processo de selecção e recrutamento não foi da sua responsabilidade porque “a pessoa em questão não é colaborador da Remax Portugal”, mas sim de “uma das unidades franchisadas, designadamente a RE/MAX G4 Rio”. “Os processos de selecção e recrutamento são, como de qualquer unidade franchisada da rede, totalmente autónomos”, explicou fonte oficial da empresa.

O debate instrutório do megaprocesso contra o grupo neonazi Hammerskins, investigado por agressões a minorias, está marcado para 18 de Junho no Tribunal de Instrução Criminal (TIC) de Lisboa - e quem vai decidir se 27 elementos deste grupo vão a julgamento e por que crimes será o juiz Carlos Alexandre, conforme noticiou o NOVO. Na origem da investigação estão agressões praticadas entre 2013 e 2017 que culminaram numa mega-operação da PJ, resultante na detenção de duas dezenas de Hammerskins.

Artigo publicado na íntegra na edição impressa do NOVO, nas bancas a 11 de Junho de 2021.

onovo.pt

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