quinta-feira, 24 de junho de 2021

Ignorância ou má fé?


 

Entre vários comentários no mesmo sentido, circula nas ditas redes sociais um gráfico (à esquerda, na imagem seguinte) que alegadamente regista «o resultado das políticas do governo do PS na área da educação», a partir da ordenação dos países da UE28 segundo a percentagem da população sem o ensino secundário (com Portugal a surgir em último lugar).





Convenientemente, o dito bonequinho não faz qualquer referência ao facto de o nosso país ter feito enormes progressos nesta matéria desde o 25 de Abril e em particular nas últimas duas décadas. Para que se tenha uma ideia (gráfico da direita, na imagem), em 2002 apenas cerca de 21% da população portuguesa com idades entre os 25 e os 64 anos tinha completado o ensino secundário (ou seja cerca de 1 em cada 5). Em 2020 passou-se para um valor de 55% (ou seja, mais de metade). Se a distância face à UE27 rondava os 45 pontos percentuais em 2002, dezoito anos depois passa para uma diferença de apenas 24 pontos percentuais. É muito? É. Mas é uma quebra para quase metade da diferença nos separava da Europa em 2002.

Se desconhecer este avanço na escolarização da população pode ser isso mesmo, ignorância, já a alarvice de associar as «políticas do PS» à situação de desvantagem que persiste só pode ser má fé. De facto, a melhoria da percentagem de população com o ensino secundário foi continua e atravessou diferentes governos, do PS e do PSD, ainda que com diferentes ritmos de progressão. Mesmo quando, pela tesoura de Nuno Crato, e numa lógica de puro desinvestimento, o número de adultos inscritos no ensino secundário sofreu uma quebra de 77% (com a redução de cerca de 96 mil para 22 mil, entre 2011 e 2014).

Adenda: Um dos problemas destas técnicas de manipulação e deturpação é a facilidade com que permitem espalhar ideias falsas e simplistas (ou apenas referir, não por acaso, parte da verdade). 
A ponto de se ouvirem figuras como Claúdia Azevedo (CEO da Sonae) dizer coisas como: «o que vemos é que as políticas do passado não funcionaram, porque estamos em último [em muitos critérios] a nível europeu», a propósito, justamente, do défice de qualificações que Portugal continua a ter. Sendo certo que há ainda muito caminho por fazer, a sério que as políticas públicas de aumento das qualificações da população portuguesa não têm funcionado?

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