segunda-feira, 14 de junho de 2021

Coelima: um exemplo entre muitos outros

 


Belmiro Magalhães (Membro da Comissão Política)

Como o PCP tem afir­mado, é ne­ces­sária uma po­lí­tica com vista ao de­sen­vol­vi­mento do País, que ga­ranta o em­prego, sa­lá­rios dignos, o cres­ci­mento eco­nó­mico e a de­fesa do apa­relho pro­du­tivo.

O Go­verno não pode con­des­cender com atro­pelos a di­reitos


Os tempos que vi­vemos, mar­cados pelos im­pactos reais da epi­demia mas muito também pelos ma­li­ci­osos apro­vei­ta­mentos da mesma por grupos eco­nó­micos e fi­nan­ceiros, re­forçam esta ur­gência. País fora, são in­con­tá­veis as si­tu­a­ções de atro­pelos aos di­reitos dos tra­ba­lha­dores e de in­cer­teza sobre o seu fu­turo.

O caso que se re­fere agora é um desses exem­plos. A Co­e­lima é uma cen­te­nária em­presa têxtil de Gui­ma­rães. Ac­tu­al­mente com 250 tra­ba­lha­dores, ou­trora chegou a contar com mi­lhares. 

Ao longo dos anos passou por pro­cessos de in­sol­vência, compra e fusão, nos quais a acção or­ga­ni­zada dos tra­ba­lha­dores foi um ele­mento de­ter­mi­nante para pre­servar a em­presa. Por estes dias, no­va­mente, a Co­e­lima vive in­ter­ro­ga­ções sobre o fu­turo. 

Em Abril, a Ad­mi­nis­tração em fun­ções apre­sentou-se à in­sol­vência. Os ar­gu­mentos foram a pan­demia e a falta de li­nhas de apoio. Ficou então o com­pro­misso de apre­sen­tação de um plano de re­cu­pe­ração. A Ad­mi­nis­tração, que co­nhecia bem a si­tu­ação da em­presa, as suas po­ten­ci­a­li­dades e de­bi­li­dades, afirmou que a in­tenção era a re­cu­pe­ração da mesma e até que es­tava «em­pe­nhada em pros­se­guir com a ac­ti­vi­dade da em­presa».

Mas este com­pro­misso ficou por cum­prir. Ven­cido o prazo, a Ad­mi­nis­tração não apre­sentou qual­quer plano. Esta opção criou apre­ensão, sendo ainda mais di­fícil de ex­plicar por se tratar de uma em­presa que não es­tava, como os do­cu­mentos ofi­ciais atestam, em in­sol­vência, mas sim em pe­rigo de in­sol­vência. 

Aliás, os nú­meros di­vul­gados pu­bli­ca­mente de­mons­tram que os ac­tivos e os pas­sivos es­tavam até equi­li­brados, sendo que uma sig­ni­fi­ca­tiva parte da dí­vida era ao grupo de que a Co­e­lima faz parte. Leia-se da pe­tição ini­cial de in­sol­vência que «apesar de se en­con­trar, com­pro­va­da­mente, numa si­tu­ação de in­sol­vência imi­nente, as ac­ti­vi­dades que a Co­e­lima de­sen­volve con­ti­nuam a gerar valor, o que per­mite afirmar que a Re­que­rente é sus­cep­tível de re­cu­pe­ração…». Mas as con­tra­di­ções e ma­no­bras não se ficam por aqui. Há ver­sões di­fe­rentes entre a Ad­mi­nis­tração e o Go­verno sobre o acesso a apoios pú­blicos, para além de estar mal con­tada a coin­ci­dência da saída do Ad­mi­nis­trador na vés­pera do anúncio do pe­dido de in­sol­vência, de­pois de ter an­dado anos a pre­parar esta si­tu­ação.

 

Re­sistir e lutar

A acção or­ga­ni­zada dos tra­ba­lha­dores, de que o ple­nário feito à porta da em­presa com uma mas­siva adesão é exemplo, tem sido um ele­mento fun­da­mental de de­fesa da Co­e­lima. Foi assim no pas­sado e volta a ser no pre­sente, de­mons­trando na prá­tica que são os tra­ba­lha­dores e os seus sin­di­catos de classe quem mais se bate pelos postos de tra­balho e pros­se­cução da ac­ti­vi­dade das em­presas.

O PCP, cons­ci­ente da im­por­tância da Co­e­lima e dos pos­sí­veis im­pactos so­ciais e eco­nó­micos, tem man­tido uma in­ter­venção di­ver­si­fi­cada sobre a si­tu­ação. Para além da pre­sença so­li­dária e re­gular na em­presa, levou a questão vá­rias vezes à As­sem­bleia da Re­pú­blica e Par­la­mento Eu­ropeu. Os eleitos da CDU deram voz ao pro­blema nos ór­gãos au­tár­quicos lo­cais.

O Go­verno, que tem res­pon­sa­bi­li­dades que o obrigam a acom­pa­nhar e in­tervir na si­tu­ação, tem man­tido uma pos­tura de­li­be­ra­da­mente pas­siva.

Con­fi­amos que os tra­ba­lha­dores da Co­e­lima, com a luta que travam, serão bem su­ce­didos na de­fesa do sector têxtil e da re­gião. Mas a Co­e­lima não é caso único. De norte a sul do País são muitas as si­tu­a­ções com ele­mentos de se­me­lhança. 

Por­tugal tem um imenso po­ten­cial de de­sen­vol­vi­mento que não pode con­ti­nuar a ser com­pro­me­tido. Che­gamos aqui porque PS, PSD e CDS des­va­lo­rizam a pro­dução na­ci­onal, acen­tu­ando de­bi­li­dades es­tru­tu­rais do País e cri­ando uma eco­nomia cada vez mais fra­gi­li­zada, num quadro em que os ata­ques ao tra­balho e aos tra­ba­lha­dores são a outra face das mesmas po­lí­ticas. 

A vida con­firma que é pre­ciso mudar de rumo e o Go­verno do PS não pode con­ti­nuar a re­petir pa­la­vras doces mas de­pois con­des­cender com tantos e tão graves atro­pelos a di­reitos e factos con­trá­rios ao in­te­resse na­ci­onal.


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