quarta-feira, 26 de maio de 2021

Tóquio 2020. Maioria da população quer cancelamento de Jogos Olímpicos mas Governo não cede


 www.rtp.pt /


Com mais de 12 mil mortes devido à covid-19, desde o início da pandemia, o Japão está a passar atualmente por um novo aumento de casos, que deixa sob pressão o seu sistema médico e hospitalar. Por essa razão, e com receio do agravamento da situação, a maioria da população continua contra a realização dos Jogos Olímpicos, com início marcado para 23 de julho.

Um inquérito da Asahi Shimbun, divulgado a 17 de maio, revelou que 83 por cento dos japoneses gostariam que o evento fosse cancelado ou, pelo menos, adiado.

No entanto, o Comité Olímpico descarta a possibilidade e continua a defender que o Japão tem condições para receber as Olimpíadas. O primeiro-ministro japonês garante mesmo que os Jogos Olímpicos podem ser realizados de forma "segura e protegida".

O mesmo estudo da Asahi Shimbum aponta ainda que 73 por cento da população diz não estar convencida dessa "segurança".  Na opinião do público, os Jogos estão a distrair o Governo que não está focado, acusa, no combate à covid-19.

A verdade é que cerca de 80 por cento de todas as mortes por covid-19 no Japão ocorreram desde dezembro e, agora, muitos temem que o pior ainda esteja por vir.

Embora o número de mortes não seja tão elevado como em muitos países da Europa, por exemplo, a maioria dos japoneses não atribui esse sucesso aos líderes políticos. A aprovação pública do primeiro-ministro, Yoshihide Suga, e do seu Governo está mesmo em queda, tendo atingido o nível mais baixo desde que assumiu funções em setembro de 2020 - 63 por cento da população diz que desaprova a forma com o Governo japonês está a gerir a crise pandémica.

Suga tem evitado aplicar medidas muito restritivas e até confinamento geral, perante o aumento de infeções, e a população atribui essa decisão à aproximação da realização dos Jogos Olímpicos em Tóquio. Embora o governante garante que "nunca colocou as Olímpadas em primeiro lugar", cita o Guardian, a maioria dos japoneses diz "não acreditar" e exige mesmo o cancelamento dos Jogos.
Empresas japonesas levantam dúvidas sobre Tóquio2020
O fundador e CEO do SoftBank Group Corp, Masayoshi Son, no sábado passado, afirmou também ter dúvidas sobre os efeitos que a realização dos Jogos Olímpicos pode ter numa altura em que o Japão enfrenta ainda a pandemia.

"Atualmente, mais de 80 por cento das pessoas querem que as Olimpíadas sejam adiadas ou canceladas. Quem e com que autoridade continua a organizá-las?", escreveu no Twitter.

O multimilionário já tinha referido, na semana passada, que tinha "receio" da realização dos Jogos durante a pandemia.

Também uma investigação da Reuters divulgou, na sexta-feira, que cerca de 70 por cento das grandes empresas japonesas querem que os Jogos sejam adiados ou cancelados.

Em resposta, um alto funcionário do Comité Olímpico Internacional disse, no mesmo dia, que o evento iria realizar-se "de certeza", mesmo que a capital japonesa ainda estivesse em estado de emergência, visto que estão operacionais "todos os planos que temos para proteger a segurança dos atletas e o povo do Japão".

O fator que mais pesa na opinião da população é o fracasso do programa de vacinação. Com apenas 4,4 por cento da população com a primeira dose tomada até ao momento, o Japão está no último lugar na classificação da OCDE - ainda não está concluída a vacinação de todos os profissionais de saúde.
Japão abre primeiros centros de vacinação em massa em Tóquio e Osaka
Esta terça-feira, o Japão abriu em Tóquio e Osaka os primeiros centros de vacinação em massa contra a covid-19, para acelerar a campanha no país, quando faltam dois meses para o arranque dos Jogos Olímpicos.

Os centros, geridos pelo exército, vão estar abertos 12 horas por dia, durante três meses, e vão administrar a vacina desenvolvida pela farmacêutica norte-americana Moderna, cujo uso de emergência foi aprovado pelo Governo japonês na sexta-feira.

O executivo espera vacinar até dez mil pessoas por dia no centro de vacinação de Tóquio e cinco mil no de Osaka, e tentar cumprir a meta de inocular a população com mais de 65 anos (cerca de 36 milhões de pessoas) até finais de julho.

Durante a primeira semana, os novos centros só vão administrar a vacina a residentes naquelas localidades, mas, posteriormente, também os residentes das prefeituras vizinhas poderão vacinar-se naqueles locais, mediante reserva prévia, incluindo os habitantes de Saitama, Chiba e Kanagawa, no caso de Tóquio, e os de Kyoto e Hyogo, no caso de Osaka.

Embora continue limitada a entrada de estrangeiros no Japão, incluindo estudantes, prevê-se a chegada de cerca de 90 mil visitantes devido aos Jogos Olímpicos, incluindo cerca de 11.500 atletas olímpicos e paralímpicos. 

Mas segundo Koichi Nakano, comentador do Guardian, a menos que os atletas permaneçam estritamente isolados uns dos outros, a Vila Olímpica pode facilmente transformar-se numa versão terrestre do Diamond Princess, o navio de cruzeiro que, no ano passado, se tornou uma "placa de petri" da Covid-19.

Além disso, os organizadores pretendem designar 30 hospitais para acesso prioritário aos atletas e já recrutaram 200 médicos e 500 enfermeiros como "voluntários" - num momento em que o serviço de saúde já está sob enorme pressão.

Também esta terça-feira, o Governo japonês afirmou que a recomendação dos Estados Unidos, que desaconselharam os cidadãos norte-americanos de viajarem para o Japão, devido à pandemia de covid-19, não terá repercussões nos Jogos Olímpicos Tóquio2020.

O Governo japonês reagiu à declaração norte-americana, assegurando que a recomendação não terá consequências na delegação norte-americana presente em Tóquio2020, cuja organização já adiantou que "continuará a trabalhar em estreita colaboração com todas as entidades envolvidas para garantir a participação segura de todos os atletas nos Jogos".

"Não temos conhecimento que tenha existido qualquer alteração da posição norte-americana no apoio dado ao Japão", com vista à organização da mais importante competição desportiva mundial, reforçou um porta-voz governamental.

A recomendação do Departamento de Estado dos Estados Unidos tem por base o "altíssimo nível [da pandemia] no Japão", numa altura em que a realização dos Jogos continua a ser fortemente contestada dentro do próprio país, em estado de emergência e a sofrer os efeitos da quarta vaga.

Sem comentários:

Enviar um comentário