expresso.pt
Os responsáveis da PwC (Pricewaterhouse Coopers), a auditora que certificou a constituição do Novo Banco em 2014, não queriam dar explicações públicas sobre a ligação ao banco. A audição na comissão parlamentar de inquérito, agendada para esta sexta-feira, 9 de abril, ocorreu à porta fechada, o que quer dizer, em tempos de pandemia, sem transmissão no canal Parlamento. Mas só por cerca de uma hora. Isto porque, a meio da audição, os deputados perceberam que o Novo Banco tinha dado autorização para o levantamento do segredo invocado.
Inicialmente, ninguém fora da sala 6 do Parlamento, onde se realizam as sessões da comissão parlamentar de inquérito às perdas do Novo Banco e imputadas ao Fundo de Resolução, iria ter certezas sobre o que disseram José Bernardo, sócio da PwC em Portugal, e António Brochado Correio, responsável senior da empresa em Portugal.
O pedido de não publicidade da audição foi feito pelos próprios, para poderem falar abertamente sobre situações em segredo profissional. A realização de audições à porta fechada já aconteceu noutras ocasiões, mas, por exemplo, em relação à KPMG, no inquérito parlamentar ao BES, o seu presidente teve de responder a algumas perguntas em sessão pública, deixando apenas os assuntos mais sensíveis para um momento posterior sem publicidade. Desta vez, desde o início da sessão, pelas 9h30, que nada foi transmitido no canal Parlamento.
Porém, pelas 10h30, a audição começou a passar no canal Parlamento. Isto porque, pelo meio, os deputados descobriram que os responsáveis da PwC não disseram que, afinal, o Novo Banco dera autorização para o levantamento do segredo profissional para as respostas perante os deputados. E, assim, a sessão passou a ser aberta.
Além de ter tido um papel central na descoberta da dívida oculta na empresa de topo do Grupo Espírito Santo aquando de um exercício de auditoria solicitado pelo Banco de Portugal, a PwC foi posteriormente contratada pelo Novo Banco já sob a liderança de Vítor Bento. Tornou-se a auditora do banco, tendo sido a responsável por validar o balanço de abertura do banco, o que aconteceu no final de 2014. Os deputados têm questionado o facto de a PwC ter certificado um balanço sem grandes alterações face aos números que existiam em agosto desse mesmo ano, aquando da sua constituição. O balanço inicial do Novo Banco tem sido bastante questionado nas audições, com a administração de Vítor Bento a defender que a capitalização de 4,9 mil milhões de euros era insuficiente logo à partida.
A PwC é também a auditora protagonista de uma dança de cadeiras que tem sido falada no inquérito parlamentar. Os responsáveis pelo departamento de supervisão prudencial do supervisor à data da resolução do BES e criação do Novo Banco, Luís Costa Ferreira e Pedro Machado, foram contratados no final de 2014 para a PwC, tendo regressado anos depois ao Banco de Portugal.
A PwC foi auditora do Novo Banco até 2017 – e há deputados a questionar se houve uma política diferente de provisionamento de créditos quando a EY a substituiu na certificação legal de contas. Em 2017 foi o ano da venda do Novo Banco à Lone Star, quando foi criado o mecanismo de capital contingente.
Sem comentários:
Enviar um comentário