Uma análise do jornal The Guardian a 44 estudos recentes, realizados de 2018 em diante, revela como a fraude alimentar é prática comum em vários pontos do globo: num total de mais de 9 mil amostras de peixe e marisco recolhidas em peixarias, supermercados e restaurantes, em mais de 30 países, 36% não correspondiam, na verdade, ao produto anunciado.
A América do Norte é a região mais afectada, com 41% do pescado a não ter correspondência com a informação presente nos rótulos, seguida da Europa (38%), América do Sul (36%) e Ásia (31%).
Como alerta o jornal britânico, não é rigoroso inferir destes dados que cerca de um terço dos alimentos provenientes do mar são adulterados, uma vez que a maioria dos estudos incide sobre espécies sobre as quais é já conhecida uma tendência para ludibriar o consumidor final, mas não deixam de ser resultados com uma dimensão preocupante.
Entre muitos casos de manipulação quanto à origem do produto – se o peixe ou o marisco foram criados em viveiros ou no mar selvagem -, nada se sobrepõe ao volume de casos em que o alimento vendido não corresponde ao anunciado.
Comprar “gato por lebre” é, de longe, a fraude mais vezes identificada.
Alguns exemplos: bolas de camarão que afinal eram carne de porco, uma prática detetada “com frequência” em Singapura; vieiras vendidas na Alemanha como pertencendo a uma espécie mais cara e apreciada do que na realidade eram, o que foi comprovado em 48% das amostras; quase 70% do pargo comercializado no Reino Unido não era pargo mas outra espécie qualquer, num total de 38 encontradas; ou os lombos de tubarão em Itália de uma subespécie menos cobiçada descobertos em 45% de 130 amostras.
Numa pesquisa que recolheu 293 amostras de 180 restaurantes em 23 países europeus, os cem cientistas envolvidos, depois de as analisarem em laboratório, chegaram à conclusão que um em cada três estabelecimentos vendia peixe e marisco que nem constavam nas ementas.
Ou seja, o que aparecia nos menus não correspondia ao que chegava às mesas.
Em países como Espanha, Islândia, Finlândia ou Alemanha, isto aconteceu em 40 a 50% das amostras. Podia dar-se o caso de não passarem de infelizes coincidências, mas “a esmagadora maioria” das trocas são de espécies mais caras por outras mais baratas – não por acaso o mero, o atum rabilho ou o linguado, por exemplo, espécies com alta cotação, são das mais deturpadas -, o que indicia um modus operandi fraudulento.
Ou os proprietários dos restaurantes enganam os clientes ou são eles próprios enganados pelos fornecedores.
O certo é que, como sublinha o jornal britânico, o peixe e o marisco são dos alimentos mais fáceis de manipular, devido à sua comercialização à escala planetária, “muitas vezes através de cadeias de distribuição complexas e opacas”.
De barco em barco, até chegar ao consumidor, não faltam oportunidades para adulterar a informação verdadeira.
A fraude alimentar é um problema que tem vindo a ser denunciado, sobretudo desde que, em 2013, ganhou atenção mediática na Europa, quando uma investigação na Irlanda, depois ampliada a outros países europeus, detetou a presença carne de cavalo em hambúrgueres e lasanhas.
Em 2018, uma reportagem da VISÃO explicava como a ASAE tentava combater este tipo de fraudes em Portugal.
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