quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

PM de Cabo Verde acusa oposição de “antipatriótica” no caso do cônsul associado ao Chega



 O primeiro-ministro de Cabo Verde, Ulisses Correia e Silva, acusou hoje a oposição de assumir uma atitude “antipatriótica” ao conotar o Governo à extrema-direita, na polémica que envolve um cônsul cabo-verdiano associado ao partido português Chega.

A posição foi assumida na abertura do debate mensal no parlamento com o primeiro-ministro, subordinado ao tema “Política externa de Cabo Verde”, depois da polémica em torno da nomeação do cidadão português Caesar DePaço para cônsul honorário de Cabo Verde na Florida, Estados Unidos, tido como financiador do Chega, que já este mês levou à demissão do ministro dos Negócios Estrangeiros, Luís Filipe Tavares.

“Cabo Verde é um país respeitado no mundo pela sua credibilidade externa, assente no Estado de direito democrático, na estabilidade, paz social, segurança, boa governação e resiliência. São estes ativos que distinguem Cabo Verde no concerto das nações”, começou por afirmar Ulisses Correia e Silva.

Acrescentou tratar-se de uma “construção consistente de décadas, fortemente estruturada e entranhada na vida social dos cabo-verdianas” e “que deve ser protegida, cuidada e aprimorada”.

“Toda a tentativa de manchar esta credibilidade é um mau serviço prestado à nação, aos cabo-verdianos. E é antipatriótico. Essa tentativa é visível no comportamento da oposição. Atingiu o ponto mais alto com o esforço titânico de ligar o Governo e o partido que o suporta à extrema-direita. Essa tentativa de ligação do Governo do MpD à extrema direita e a financiamentos obscuros, para além de ridícula, é de uma grande irresponsabilidade”, acusou.

“Há, no entanto, que separar e distinguir entre o desejo de manchar a reputação do Governo e a realidade e as evidências. A verdade é que a democracia cabo-verdiana é credível e respeitada. O Governo de Cabo Verde e o partido que o suporta são pessoas de bem e guiam-se por princípios e valores plasmados na Constituição da República de 1992”, acrescentou.

Com eleições legislativas agendadas para 18 de abril e o país já em clima de pré-campanha eleitoral, Ulisses Correia e Silva, que é também presidente do Movimento para a Democracia (MpD, no poder desde 2016), acusou a oposição, nomeadamente o Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV) – que associou o MpD e o Governo à extrema-direita – de colocar em causa os “ativos” externos de Cabo Verde: “Como o país mais livre de África, a terceira democracia em África, o segundo país com melhor governação em África e a terceira posição no ranking de perceção de corrupção em África”.

Ao intervir logo após o discurso inicial do primeiro-ministro, a presidente do PAICV, Janira Hopffer Almada, responsabilizou Ulisses Correia e Silva por "vários episódios" que, disse, colocam em causa a imagem externa do país.

A líder da oposição classificou o caso envolvendo o cônsul honorário na Florida como um "escândalo que abanou o país" e que a "responsabilidade é do Governo" e não apenas de um ministro (Luís Filipe Tavares, que pediu a demissão).

"Queremos perguntar-lhe [primeiro-ministro] o que tem norteado o seu Governo quando nomeia um cônsul honorário e se não o perturba, como africano e como cabo-verdiano, nomear alguém que supostamente financia um partido da extrema-direita, cuja ideologia é claramente segregacionista e portanto contra africanos e contra cabo-verdianos”, apontou Janira Hopffer Almada.

PVJ // PJA

Lusa/Fim

Sem comentários:

Enviar um comentário