domingo, 3 de janeiro de 2021

LOGÍSTICA DA VACINA


 

Mário André Macedo
Enfermeiro Especialista em Saúde Infantil

LOGÍSTICA DA VACINA


A agência europeia do medicamento concedeu recentemente a autorização para a utilização da vacina da Pfizer, antecipando desta forma em uma semana, a entrada do medicamento no espaço europeu. 

No passado dia 27 de dezembro, Portugal deu início ao seu plano de vacinação, com a chegada de 9750 doses da vacina, tendo sido escolhidos alguns profissionais de saúde, que trabalham na linha da frente de cinco diferentes hospitais, para serem os primeiros a ser vacinados.

O plano elaborado pela Task Force, prevê a estratificação em três fases, com base em critérios de risco individual, ou, tendo por base critérios profissionais, como os trabalhadores da saúde diretamente envolvidos na prestação de cuidados. Nesta fase inicial, o plano propõe a vacinação de 950 mil pessoas, das quais 250 mil são residentes e profissionais de lares ou estruturas similares, 300 mil profissionais de saúde e forças de segurança. 

Os restantes 400 mil, referem-se a pessoas com idade superior a 50 anos com patologias associadas.

Tem havido um debate sobre a estratégia de vacinação, que numa primeira leitura aparenta ser simples, mas torna-se mais complexo após uma análise mais atenta. Concorrem duas dimensões complementares, a corporativa e ideológica, para dar resposta à questão: “devem ser as vacinas dispersadas já nesta fase?”

Vamos trabalhar num contexto de enorme escassez. Durante o primeiro trimestre, as vacinas chegarão a conta-gotas, num processo que depende pouco de nós e mais de fatores externos. Consequência imediata deste contexto é a imperiosa necessidade de priorização, caso contrário, teríamos o risco real de assistir as vacinas a serem administradas primeiro, a quem menos delas necessita. Na melhor das hipóteses, o mês de janeiro trará 400 mil de doses, permitindo vacinar 200 mil pessoas. Estão incluídas no grupo prioritário 950 mil pessoas. É fácil perceber a enorme escassez em que nos iremos mover nos próximos meses.

A juntar a este difícil contexto, temos o pesadelo logístico, nomeadamente, as exigentes condições de refrigeração, prazos apertados para administrar a vacina após ser retirada de conservação e apresentação multidose. A abertura da ampola, que permite vacinar 6 pessoas, tem de ser planeada e preparada, com as marcações já previamente confirmadas. 

Tudo conjugado, num contexto de incerteza e escassez, onde queremos aproveitar cada dose de vacina, a dispersão é má opção. A maior campanha de vacinação moderna, baseada em conceitos de equidade em saúde, trabalha para o desperdício zero, não temos esse luxo!

Nós confiamos na vacina, mas também não podemos ignorar que se trata de um produto novo. 

Nesta fase, até ganharmos mais confiança, a vacinação está a ser efetuada com uma vigilância acrescida. 

Quem é vacinado aguarda cerca de trinta minutos antes de abandonar o local. As vacinas são reconstituídas em câmaras específicas nas farmácias dos hospitais e administradas por equipas de experientes enfermeiros e enfermeiras.

Os próximos tempos não serão fáceis, as previsões iniciais, que previam a chegada de 4 milhões de doses no primeiro trimestre foram revistas, sendo agora de apenas 1,2 milhões. A confirmar-se, nem o grupo prioritário estará vacinado a dia 31 de março. 

É deveras importante, que as medidas que previnem as oportunidades de contágio sejam mantidas, o distanciamento social, higiene das mãos, utilização das máscaras e evitar espaços fechados mal ventilados. Estamos todos cansados, mas não podemos vacilar na fase final.


healthnews.pt


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