terça-feira, 8 de dezembro de 2020

A defesa do ambiente é aldrabice? - Pedro Tadeu





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Ando às voltas com quatro palavras da moda, em inglês, ligadas à ecologia, aos direitos humanos e à salvação do planeta em geral... perdão: ligadas às fraudes com a ecologia, com os direitos humanos e com a salvação do planeta em geral.

A primeira palavra é esta: Greenwashing.

Greenwashing é uma técnica de marketing que leva as pessoas a acreditar que uma empresa tem práticas ambientais responsáveis quando, na verdade, não mostra provas reais dessa boa prática.

A segunda palavra é Socialwashing.

Com o Socialwashing, o marketing das empresas exagera ou não comprova o impacto social positivo de um investimento, de um produto, de um projeto ou de uma campanha, normalmente de apoio a causas solidárias.

A terceira palavra é Bluewashing.

O Bluewashing acontece quando uma empresa se autodenomina socialmente responsável, mas, na verdade, desrespeita os direitos sociais. Muitas destas empresas aderem ao pacto das Nações Unidas para o desenvolvimento sustentável (o United Nations Global Compact) que, por exemplo, prevê a aceitação de vários direitos laborais ou proíbe violações de direitos humanos, como o trabalho escravo ou infantil. Mas muitas dessas empresas, diretamente ou através de outras companhias associadas à sua produção, acabam por contornar esses compromissos.

A quarta palavra é Pinkwashing.

No Pinkwashing o marketing da empresa, partido ou instituição trabalha temas relacionados com a igualdade de género sexual, com apoio a causas feministas, gays ou outras, mas, nas políticas de contratação e gestão dos recursos humanos, não aplica medidas internas que eliminem a desigualdade de género.

Lembrei-me de tudo isto ao ouvir este excerto de dois segundos na publicidade de uma marca de combustíveis: "...somos os primeiros em Portugal a compensar as emissões de carbono dos seus abastecimentos através de projetos de compensação por todo o mundo...".

A empresa de combustíveis em causa promete compensar, através de créditos de carbono, as emissões nocivas para a atmosfera que os seus clientes fazem, em Portugal, quando compram e gastam o gasóleo, a gasolina ou o GPL dessa marca.

Acontece que esta compensação, segundo se lê no site da empresa, começa por excluir todos os clientes empresariais que usem cartões de combustível de frota, o que deve abranger bastante gente.

Acontece que em Portugal, segundo se lê no site da empresa, não há projetos de compensação para a poluição provocada aqui, no nosso território. Os projetos que a empresa apadrinha estão na Índia, no México e na Zâmbia.

Acontece que no site da dita empresa não há dados que demonstrem cientificamente e compreensivelmente a eficácia dos projetos de compensação de emissões de carbono abrangidos nesta iniciativa - está apenas prometida uma auditoria anual a realizar por uma entidade internacional, a ICROA.

A ICROA tem apenas 17 membros e é uma entidade de autorregulação - o que me deixa sempre desconfiado, porque não acredito em juízes em causa própria.

A ICROA produziu este ano 17 relatórios, um para cada membro, sobre o esforço feito em 2019, por cada um deles, para a redução de emissões de carbono. Os pareceres, certamente por pura coincidência, são todos favoráveis...
Acontece ainda que a empresa de combustíveis que em Portugal lançou a 22 de julho esta campanha de compensação de emissões de carbono aderiu aos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas para 2030, mas só se compromete a chegar à neutralidade zero em emissões de carbono em 2050, daqui a 30 anos, provavelmente já demasiado tarde para muita gente e para muitas regiões do planeta.

Finalmente, acontece que o próprio conceito de compensação de emissões de carbono, em que alguém que quer poluir paga a alguém que promove fontes de energia renovável ou toma medidas de proteção florestal, é bastante polémica, até porque permite a países ou empresas poluidoras não investirem diretamente em tecnologias não poluentes.

Recordo que 85% dos negócios de compensação de carbono surgidos na sequência do Protocolo de Quioto, em 1997, que envolveram dezenas de nações, foram declarados, num relatório de 2016, um fracasso que, na prática, não compensaram coisa alguma.

Pergunto-me então: face a estas dúvidas todas, esta campanha de marketing da empresa petrolífera que promete compensar as emissões de carbono que emite é o quê? É Greenwashing?.. É Bluewashing?...

Não tenho a certeza, mas, depois deste caso e da recente polémica com a poluição dos automóveis híbridos, tenho uma outra palavra em inglês para o marketing das inúmeras empresas que se dizem amigas do ambiente sem, na verdade, o serem: é "bullshit".


Pedro Tadeu - som audio




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