segunda-feira, 16 de novembro de 2020

No Maior Bairro de Lata de Nairobi, Estas Jovens Bailarinas Sonham Alto

 


 

As aulas de ballet oferecem às jovens a oportunidade de 

experienciarem um lado diferente da vida.

Pamela Adhiambo ballet
Pamela Adhiambo, 16 anos, ensaia atrás da sua casa em Kibera, um vasto bairro de lata em Nairobi, no Quénia. Pamela frequenta aulas de ballet em Kibera há cerca de seis anos e agora está a receber apoio da instituição de caridade Artists for Africa para ensaiar num estudo profissional noutro local da cidade.
FOTOGRAFIA DE FREDRIK LERNERYD

Nas tardes de quarta-feira, depois do último toque de campainha do dia, uma sala de aula com paredes de cimento no bairro pobre de Kibera em Nairobi transforma-se num estúdio de ballet. Retiram-se as cadeiras e as carteiras. Varre-se o pó e a sujidade do chão. Um grupo de cerca de 20 jovens vestidas com roupas azuis e roxas esperam a chegada de Mike Wamaya, o formador, com o seu aparelho de som portátil e o seu caráter bonacheirão. Depois, ao som de música clássica, as jovens começam a dançar.

Ao longo dos últimos 18 meses o fotógrafo sueco Fredrik Lerneryd, que vive em Nairobi, acompanhou Waymaya e as jovens durante 24 aulas de ballet às quartas-feiras.

De início, as jovens mostravam-se tímidas, diz Lerneryd, 31 anos, mas "acabaram por se habituar a ver-me por perto a tirar fotografias."

Lerneryd sentiu o apelo da história devido aos contrastes que apresenta. "Em primeiro lugar", diz, "o ballet é visto, pelo menos na minha opinião, como uma dança de classe alta. Não estava à espera de o encontrar numa povoação como Kibera". Visualmente, os maillotscollants e tutus dão um toque de cor à sala de aula escura. E, Lerneryd salienta, "é a história de um sonho, de esperança, de atingir algo que transcende a vida quotidiana" que teriam em Kibera.

As jovens que Lerneryd fotografa são apoiadas pela One Fine Day e pela Anno’s Africa, duas instituições de solidariedade vocacionadas para a arte infantil. Lerneryd também ajuda quando pode. Juntamente com os colegas da casa onde mora em Nairobi, Lerneryd convidou as jovens para almoçar e trouxe massa e cobertura suficientes para cada uma das convidadas fazer a sua própria pizza. Numa outra altura, Lerneryd ofereceu gelado a uma das bailarinas, chamada Wendy, e à sua família. "Acaba por ser natural contribuir com algo", afirma. "As nossas situações são tão diferentes", acrescenta Lerneryd, referindo-se à disparidade de acesso a recursos existente entre ele e as pessoas de Kibera.

Cynthia Anyango

Cynthia Anyango

FOTOGRAFIA DE FREDRIK LERNERYD
Mercy Adhiambo

Mercy Adhiambo

FOTOGRAFIA DE FREDRIK LERNERYD
Mary Anyango

Mary Anyango

FOTOGRAFIA DE FREDRIK LERNERYD
Evet Adhiambo

Evet Adhiambo

FOTOGRAFIA DE FREDRIK LERNERYD

Pamela Adhiambo, uma aluna com 16 anos, via ballet na televisão quando era criança. Foi algo que a marcou e, quando, alguns anos depois, a Anno’s Africa contactou a Spurgeon’s Academy, Pamela experimentou um par de pontas de dança e apaixonou-se. Pretende ser bailarina profissional e está no caminho certo. Financiada pela Artists for Africa, uma organização que trabalha em parceria com a Anno’s Africa, vive num colégio interno em Nairobi, e ensaia cinco dias por semana no Dance Centre Kenya, um estúdio de dança profissional.

"Pamela conseguiu mudar radicalmente a sua vida através da dança", diz Lerneryd com admiração, e é uma inspiração para outras. Durante as pausas nos ensaios, Pamela volta a Kibera e pratica no quintal da sua casa. Uma criança sob a tutela de Mike foi ver. "Ela quer seguir o mesmo caminho de Pamela", diz Lerneryd.

Teatro Nacional do Quénia ballet
Pamela Adhiambo dança num espetáculo do Quebra-Nozes organizado pelo Dance Centre Kenya no Teatro Nacional do Quénia. Havia mais quatro bailarinas de Kibera no elenco.
FOTOGRAFIA DE FREDRIK LERNERYD

Durante o período que Lerneryd passou com as bailarinas, viu a confiança delas a aumentar enquanto aprendiam a expressar-se através da dança. Uma imagem mostras seis pares de pés descalços a alçar-se do chão num momento em que as jovens saltam durante um ensaio, uma metáfora visual da forma como aspiram a sair do universo que se circunscreve a Kibera.

"Os sonhos das crianças que crescem naquele local são os mesmos das crianças de qualquer outra parte do mundo."



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