A história da loucura no mundo é um dos temas mais curiosos de se estudar nas ciências humanas.
Se você já assistiu a alguma aula de Psicopatologia ou à série Caçador de Mentes, deve ter notado que muitos aspectos, biológicos e sociais, são observados na sua conceituação. Mas você já se perguntou o que realmente é a loucura e qual é a sua verdadeira história?
Descubra a verdadeira história da loucura, neste post especial que preparamos para você.
A loucura ao longo do tempo
A loucura pode ser considerada uma experiência social, já que é encarada de diferentes formas por grupos sociais, como foi no decorrer da história.
Na Grécia Antiga, a loucura era considerada uma manifestação divina. Os loucos eram vistos como profetas, porque falavam coisas que o homem comum não entendia.
Outros achavam que eles, os loucos, sofriam de excesso de paixão, um sentimento não tão incomum na época.
Por isso, em vez de serem confinados em algum lugar obscuro com médicos e enfermeiros, eles circulavam livremente pela cidade.
No período Medieval, a Igreja era entendida como detentora do saber e do poder, uma vez que intermediava a relação entre Deus e o homem.
Foi nesse período que o hospital surgiu como uma instituição de caridade, que fornecia alimento e teto aos pobres, mendigos e doentes.
Devido à influência e o poder da igreja e da ordem religiosa, os loucos começaram a ser vistos a partir de um espectro diferente de até então.
A loucura começou a ser encarada como uma heresia.
Os loucos eram os heréticos, embora também pudessem ser colocados como cômicos, trágicos ou até endeusados por alguns.
No entanto, em regra, se um tido como louco fizesse a confissão de que era bruxo, poderia ser exorcizado ou punido. Porém, caso o sujeito fosse rico, poderia comprar, facilmente, a Santa Inquisição o que dava a ele apenas o título de “excêntrico”.
Uma mudança de visão: a história da loucura no Renascimento
No Renascimento, o entendimento de mundo ditava que homem era o centro de tudo.
Dentre tantas características desse período, destacam-se:
- Arte, retratando a anatomia humana
- Grandes navegações
- E o comércio, dinheiro e burgos, que surgiram com os sistemas de trocas
Sendo assim, todos os lugares deveriam estar limpos e receptivos à nova forma de economia que ditava o mundo.
Para isso, seria necessário excluir aqueles que não participavam ativamente do novo sistema que regia o mercado de trabalho. Foram excluídos os mendigos, velhos, prostitutas, leprosos, sifilíticos e loucos.
Um verdadeiro ‘’ projeto de limpeza’’ das cidades começou a ser instalado e institucionalizado.
A ‘’Nau dos loucos’’ foi criada como um sistema de embarcação que levava as pessoas rejeitadas pela sociedade para serem deportadas das cidades.
Em “Historia de la Psiquiatría”, Alexander estabelece três tendências do pensamento psicopatológico de todos os tempos:
- “Conceito Mágico’’, que tentava explicar o comportamento através da magia e/ou sobrenatural
- “Conceito organicista”, que explica o comportamento em termos físicos – os biologistas
- “Conceito psicogênico”, que busca uma explicação psicológica – o que hoje em dia se definiria melhor como psicossocial.
A história da loucura no mundo a partir do século XVII
A partir do século XVII, os hospitais mudam de cara. Deixam de ter essa ordem de caridade e assumem um modelo de controle social e político.
Com o surgimento do Hospital Geral, quem ordenava a internações eram as autoridades reais e jurídicas.
É nesse momento que o hospital passa a ser o lugar do saber da medicina e a ciência faz nascer o modelo da anatomoclínica.
Ou seja, o hospital é local em que serão feitos os exames, as pesquisas, os tratamentos e a reprodução do saber médico.
Para o filósofo Michel Foucault, a partir da tecnologia política surge a disciplina. Sendo assim, há a produção de um novo saber, um espaço que permite criar doenças institucionalizadas, ou seja: uma doença produzida.
Esse modelo e forma de pensar passa a ter fortes influências no que conhecemos hoje como a Medicina Aplicada no Ocidente.
Em outras palavras, Foucault entende que antes, a disciplina estava no poder monárquico. Agora, passa para os corpos, para as instituições como espaços fundamentais e à normalização entre as pessoas.
Institucionalização da loucura: a Grande Internação
No século XVIII, a psiquiatria adentra nos asilos e nas instituições.
Instala-se, no ocidente, uma forma universal e hegemônica para abordagem dos transtornos mentais, como é o caso da internação em instituições psiquiátricas de quem sofre alterações na ordem da razão, da moral e da sociedade.
Com o início da sociedade industrial, as cidades encheram-se de pessoas que não encontravam lugar na nova ordem social.
Nas ruas, multiplicam-se os desocupados, os mendigos e os vagabundos, muitos tidos como loucos dentre eles.
Foram tomadas medidas repressivas para resolver esse problema e os marginalizados eram sumariamente internados nas casas de correção e de trabalho e nos hospitais gerais.
Tais instituições não se propunham a ter função curativa e limitavam-se à punição do pecado da ociosidade. Fenômeno chamado por Foucault de Grande Internação.
Nesses locais, o louco não era percebido como doente, e sim como um dentre vários personagens que abandonou a razão e o bem.
Em seus estudos e textos sobre a história da loucura, Michel Foucault cita que “a loucura é um momento duro, porém, essencial no trabalho da razão; através dela, e ainda em suas vitórias aparentes, a razão se manifesta e triunfa”.
Foi com Descartes, Foucault e outros pensadores que tivemos o primeiro corte radical entre a loucura e a razão.
Começa, então, a despontar na sociedade burguesa o privilégio pela razão, um entendimento que vigora até os nossos tempos.
Em resumo, hoje, a nova e atual regra que norteia nossa concepção de virtude dita um modelo de pensar diferente do que conhecíamos até então:
Só é possível o sujeito acessar a verdade através da Razão.
psicocast.com.br
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