terça-feira, 22 de setembro de 2020

Confusão nos transportes do Porto e Lisboa: passageiros desafiam regras da DGS


 

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Arranque do ano letivo nas escolas e faculdades aumentou a pressão sobre os meios de transporte das principais cidades do país. Às primeiras horas desta segunda-feira, autocarros, comboios e metros circulavam cheios, com pessoas que desafiavam as regras de distanciamento.

O regresso às aulas nas escolas e universidades do Porto gerou confusão nos transportes públicos. Pelas oito horas da manhã de segunda-feira, centenas de pessoas corriam a cidade, alternando entre autocarros, comboios e metros. Com horários para cumprir e sem mais opções, muitos atreveram-se a desafiar as regras de distanciamento nos transportes.

Passou o primeiro metro e Virgínia Passos afastou-se da plataforma. Não quis entrar, apesar de ter de estar a horas no local de trabalho. "É inadmissível", atira para o ar, afastando-se dos passageiros que saíam do metro na estação da Trindade. Outros tantos entraram e as composições voltaram a ficar cheias.

"Com centenas de casos por dia e vamos entrar num metro cheio de gente?", questiona Virgínia, que ao segundo metro voltou a não entrar. "O Governo devia ter vergonha, fala-se muito e faz-se pouco. Isto só se resolve com um reforço", insiste, lembrando que, por falta de alternativa, muitas pessoas acabam por enfrentar os aglomerados.

Também Maria Azevedo, que já tinha feito a viagem de Nogueira da Maia até ao Porto, evitou entrar num metro repleto de pessoas.

"Vim de autocarro até ao Porto e foi uma viagem tranquila. Agora, aqui no metro é tudo sardinha na canastra", ironiza Maria, sublinhando que não estava à espera de encontrar tanta gente nos transportes.

Ao JN, fonte da Metro do Porto reconheceu que se verifica "um gradual aumento da procura em todas as linhas e em todos os horários". Ainda assim, garante a empresa, não se verificam "casos de lotação superior a dois terços da capacidade".

A Metro do Porto, que garantiu que no início do próximo ano entrarão em circulação novos veículos, destacou ainda a "autorregulação e controlo das lotações" dos seus clientes, que têm evitado usar os veículos quando aqueles já estão bastante cheios.

Camionetas lotadas

No Campo 24 de Agosto, uma zona de interface entre autocarros e metro, as filas eram mais organizadas, mas nem por isso havia menos pessoas. De Valbom até ao Porto, a viagem foi uma aventura para Mariana Freitas, de 67 anos.

"A camioneta estava completamente cheia", reclama Mariana, lembrando que, sem reforço, o cenário vai repetir-se todos os dias. "Enfiei-me lá num canto para ver se me conseguia manter afastada, mas não foi fácil", garante.

Prenúncio manifestado também por Alzira Dominguez, que fez a viagem de Ermesinde até ao Porto. "Esta semana já notei que havia mais pessoas nos transportes públicos", repara a utente. Enquanto insiste que é necessário um reforço, Alzira lembra que para já ainda há muitos pais hesitantes em deixar os filhos andar nos transportes. "Quando as coisas normalizarem, vai ser impossível andar de autocarro e de metro", sublinha.

Mas não só nos transportes públicos se sentiu a correria. Muitas famílias optaram pela segurança do veículo próprio e por isso também os carros regressaram em força à Invicta. Como já não se via há meses, o trânsito voltou a entupir algumas das principais artérias da cidade.

Pouco passava das 8 horas e na estação de Sete Rios, em Lisboa, já se viam dezenas de pessoas. Acabadas de chegar de comboio, de Sintra e da margem sul, encheram as escadas rolantes que vão dar ao metro e à rua, onde se amontoaram em filas nas paragens dos autocarros. Muitos dizem que é "impossível" manter a distância social de manhã, mas ao final do dia "piora". Em semana de regresso às aulas, alguns pais optaram por levar os filhos à escola de carro para evitar a confusão dos transportes públicos, mas foi impossível fintá-la.

Mafalda Cid, 39 anos, antes da pandemia covid-19 vinha do Pragal até Sete Rios de comboio trazer os filhos, no 1.º e 2.º anos, ao Colégio de São Tomás, mas este ano é diferente. "Vim de carro, agora tenho receio de vir de transportes públicos", confessa. Patrícia Vieira, 37 anos, nunca viu tanta gente. Veio de Setúbal, com o filho de três anos, e não teve outra opção senão usar o comboio. "A maioria das pessoas da margem sul não trazem carro", diz.

Quem circula na linha de Sintra partilha a mesma opinião. Sílvia Caldeira, 29 anos, que viajou desde o Cacém de comboio, já sentiu um aumento da lotação na semana passada. "Está a piorar há uma semana. A esta hora está assim, ao final da tarde está ainda mais cheio. Se pudesse vinha de carro, mas não tenho alternativa", lamenta. Carmina Fernandes, 65 anos, também veio do Cacém, com os dois netos. Está muito preocupada.

"As carruagens estão completamente cheias e é impossível manter a distância, têm de pôr mais transportes. Há muitas crianças que ainda não foram para a escola, por isso acredito que em outubro vai piorar", prevê. No autocarro, o cenário não melhora. "Vou apanhar o 758 da Carris para o Rato, que também tem ido cheio", diz. A utente dos transportes públicos elogia os autocarros da Vimeca. "O motorista não deixa entrar mais gente quando atinge o limite de passageiros, ao contrário da Carris, do comboio e do metro, onde não há fiscalização", aponta.

Metro enche

António Pinto, 32 anos, levou a filha no primeiro dia de aulas na escola primária e confessa que "esperava mais distanciamento social". "Não é possível cumprir a distância e nota-se mais gente esta semana, embora algumas carreiras não estejam cheias", diz.

Gabriel Silva, 31 anos, viajou de Campolide de autocarro para Sete Rios. "Vinha pouca gente, mas para o centro da cidade vai encher. O pior é o metro, ao final do dia não dá mesmo para manter o afastamento. Esta semana nota-se mais gente", observa.


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