sexta-feira, 21 de agosto de 2020

Carlos Matos Gomes - Quando as hienas mugem Os assassinos da voz meiga




Quando as hienas mugem
Os assassinos da voz meiga

A propósito de “informe” do Chega sobre uma ordem de expulsão, porque há a mão que atira a pedra e o braço que esconde a mão. Cherchez la femme. Cherchez la femme é uma frase foi publicada num livro livro de Alexandre Dumas, pai e que quer significar que devemos procurar a raiz dos crimes naqueles a quem ele aproveita.
O que está por detrás deste provocador “informe” é o Chega. Porquê? Porque este número do “informe” só aproveita ao Chega.
O “informe” podia ser sobre a quadratura do globo, ou sobre o gene lusitano, por exemplo, sobre o qual nem os criadores de cavalos ainda conseguiram chegar a acordo. Mas os Chega estão na fase asinina.
O efeito pretendido com o “infome” será sempre o de provocar reações. Marquetingue puro, primário e eficaz para vazios de espirito. Aquilino Ribeiro escreveu um romance com o título “Quando os Lobos Uivam”. Parece uma frase ligada à realidade: os lobos uivam. Isso é entre os animais. Entre certas espécies, a realidade é as hienas mugirem. É o caso dos dirigentes “chegas” escondidos atrás do comunicado de um dito grupo de racistas. Eles mugem como cordeiros que querem mamar.

O comunicado com o “informe” de um bando anónimo que se assume com todas as caganças da ordem como racista, xenófobo, nacionalista, anti-social, anti-democrático, anti-convivencial é um clássico jogo de polícia mau e polícia bom. Os estrategas de marquetingue do Chega conhecem os ditados populares: “Atrás de mim virá quem bom de mim fará”. A jagunçada do “informe” tem por missão fazer do Chega uma zurrapa tragável.

Os ideólogos e mestres de obras do Chega seguem a velha cartilha da anedota do hipopótamo que, ao ouvir dizer que iam ser castrados todos os animais de boca grande, exclamou: Coitadinho do crocodilo!
Em claro, para que o Chega e os seus lusitos não façam de todos nós estúpidos: Os tipos na sombra do Chega sabem que o produto que têm de vender está associado a uma imagem de organização extremista, radical, racista, anti-social — defendem no seu bem escondido programa o fim do serviço nacional de saúde, da escola pública, dos apoios sociais à pobreza e ao desemprego, a defesa do sistema financeiro liberal. Há que limpar esta imagem que ainda causa repulsa.

Os investidores da marca Chega sabem que um programa destes vale 7 a 10% do eleitorado. As declarações de Rui Rio e de alguns dirigentes do CDS de não rejeição clara à convivência, desde que os do Chega lavassem os dentes e eliminassem o nau hálito destas propostas, que se apresentassem como gente frequentável, abriu uma janela de oportunidade aos técnicos de marquitingue e ação psicológica do Chega.

Como manter o essencial das propostas aberrantes do Chega e fazer o Chega não parecer aberrante?
A técnica é mais velha que o fazer as necessidades de cócoras: arranjando um factótum, um espantalho a quem se possa apontar: radical é aquele! Comparado com aquele abutre, eu sou uma pombinha!

O SIS, ou qualquer pessoa ou organização que tenha um conhecimento mínimo de manipulação de opinião, de técnicas de ação psicológica deteta à distância a vigarice. Que é a mesma das polícias: Ao polícia mau, que tortura, bate, cospe, morde, espezinha para obter uma confissão, segue-se o polícia bom, o que vem dizer: Está a ver, aquele meu colega é uma besta, mas eu, se me disser o que ele queria ouvir, sou um tipo com quem pode falar.
O polícia bom e o polícia mau são as duas faces da mesma moeda, como os jagunços do “informe” e o institucionalizado Chega. O “informe” do grupo de sicários faz parte da rábula do Chega.
O Chega virá dentro em pouco e por um meio qualquer que entenda conveniente à sua estratégia “distanciar-se” do “informe” dos colegas das primeiras linhas de assalto. Não tem nada a ver com aquio, dirá. É um partido com registo constitucional. Representação parlamentar. O seu chefe até se foi ajoelhar aos pés do cardeal católico e de todos os bispos iurdos e de todos recebeu uma bênção. Pretendem um céu, mas sem algumas criaturas, a começar pelas que constam do “informe”, depois, como diria o Brecht, se seguirão outras, até chegar a nós. Os que ficámos a assistir porque não é nada connosco.
Eu não tenho afinidade pessoal ou política com qualquer dos nomeados no “informe”, e sou crítico das posições de alguns deles, se não da totalidade, mas defendo o seu direito a compartilharem os mesmos espaços que eu e bato-me por uma sociedade onde ninguém se arrogue o direito a considerar-se o “povo eleito”, o descendente do garanhão padreador da raça. A minha ideia de nação não é a de uma coudelaria, nem de uma ganadaria, como parece ser a noção do Chega e dos distribuidores do informe.
Por fim: sendo a manobra destas hienas tão vulgar e conhecida o que EU estranho (para não tomar como cumplicidade) é a pretensa ingenuidade dos comunicadores sociais e das autoridades. Acredito que os meninos e meninos das redações de jornais e televisões não façam ideia do que dizem, nem daquilo sobre o qual leem notícias. Mas quanto aos órgãos do Estado, a Procuradoria Geral da República, a Polícia Judiciária, os Sistemas de Informações, o Governo e o Presidente da República não podem surgir aos cidadãos com esta candura que têm aparentado perante um golpe clássico de credibilizar o que é, civilizacionalmente, inaceitável.
Se há manifestações contra as invasões dos javalis às propriedades que merecem atenção pública, os que vivem na propriedade comum da democracia devem exigir medidas contra estas devastações ao direito das gentes.
Não é por terem voz meiga, como os Chegas irão ter neste caso, que deixam de ser o que são. A voz dos assassino e meiga, mas os assassinos sejam ou não de voz meiga, têm de ser desmascarados porque não há meios termos na apreciação deste golpistas. Porque é de uma golpada que se trata.
Ou se está com esta matilha, mesmo que as hienas se façam de cordeiros, ou se está contra. É uma questão elementar de sobrevivência e de higiene.

Carlos Matos Gomes

Sem comentários:

Enviar um comentário