sexta-feira, 21 de agosto de 2020

A MISÉRIA CONTINUA - ″Fábrica das Camisas″ em Vila do Conde deixa 133 pessoas no desemprego



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Têxtil Azincon, de Vila do Conde, avançou com insolvência. Trabalhadores ficaram sem salários de julho e temem não ter meios para sustentar a família.

"Cheguei à fábrica e tinha a porta fechada. 19 anos de trabalho e nem os papéis para o desemprego me deram", conta Carina Ferreira. O despedimento chegou, agora, "por carta". Sozinha, com três filhos menores, a mulher, de 33 anos, é uma das 133 pessoas que Azincon - conhecida por "Fábrica das Camisas" -, na zona industrial da Varziela, em Vila do Conde, deixou "de mãos a abanar". Queixam-se "da falta de respeito" e garantem que os donos estão "a esvaziar a fábrica" à revelia do tribunal.

"Tínhamos trabalho, tínhamos tecido. Não consigo perceber", explica Carina, que, sem ter recebido o salário de julho e sem poder pedir o subsídio de desemprego, já foi pedir ajuda à Câmara. "Quando chegar ao fim do mês, com o abono dos miúdos, pago as contas. E depois comemos o quê?", desabafa.

Garante que são muitas as "colegas aflitas". À pandemia junta-se, agora, o desemprego e as perspetivas de conseguir arranjar trabalho nesta fase "são muito poucas".
Da Azincon, "nem uma palavra". O administrador de insolvência já foi nomeado pelo tribunal, mas os trabalhadores temem que, "entretanto, tirem tudo da fábrica".
rol de bens

"Mandaram para cinco trabalhadoras o rol de bens da empresa: cinco máquinas e uma carrinha. Somos 133 operários, alguém acredita que isto é possível?", explica Carina, que, na lista, vê apenas "máquinas que estavam paradas há mais de dez anos". Nem sinais da prensa industrial, comprada recentemente, das dezenas de máquinas de costura, da carrinha que fazia o transporte de operários todos os dias para o trabalho.... "Dizem que é tudo alugado!", atira, incrédula.

"Em julho tivemos uma reunião no Ministério do Trabalho, mas eles [os donos da Azincon] não assumiram. Disseram que tinham mandado o pessoal de férias até ao dia 17 de agosto. Agora, chegou a carta", explicou, ao JN, Madalena Sá, do Sindicato Nacional dos Profissionais da Indústria e Comércio de Vestuário e ArtigosTêxteis .
Os sinais começaram antes. A 26 de março, por carta, as trabalhadoras foram informadas que ficariam em lay-off durante todo o mês de abril. Findo o apoio, foram regressando à fábrica "às pinguinhas".


Sem alternativa para cuidar das crianças, Carina ficou em casa, no apoio aos filhos, duas meninas de 1 e 11 anos e um rapaz de 16. A 29 de julho, quando voltou ao serviço, deu "com o nariz na porta". 15 dias antes, o mesmo tinha acontecido às colegas, mandadas de "férias forçadas".

Agora, chegou a carta: a Azincon apresentou-se à insolvência. A têxtil explica que, primeiro, a paragem representou "um prejuízo de mais de 250 mil euros", que agudizou "os problemas que se arrastavam há dois anos". 
Depois, foi o surto de covid-19 entre os trabalhadores que, "em pânico, debandaram e começaram a "meter baixa" (mais de 35)". Em julho, o delegado de saúde aconselhou a empresa a dar férias ao pessoal, mas agora a Azincon alega a falta de encomendas por parte do cliente exclusivo - o grupo Inditex, dono das lojas Zara - e os "custos incomportáveis" das novas regras impostas pela delegação de saúde face à pandemia, nomeadamente o "aumento da distância" entre postos de trabalho e a "laboração em turnos desfasados".
Covid-19


Na exposição enviada a tribunal, a Azincon diz que a covid-19 foi levada para a fábrica por duas irmãs de uma das funcionárias da conserveira das Caxinas, a Gencoal. Desde então, alastrou-se "como um rastilho de pólvora". Houve mais de uma dezena de casos, que conduziram ao fecho da unidade. O pessoal foi de "férias forçadas".
Férias


Uma vez que a Azincon não deu aos trabalhadores os papéis para requererem o subsídio de desemprego, terá que ser o administrador da insolvência a fazê-lo. Foi nomeado Bruno Brandão. É de Loures e está de férias.

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