quinta-feira, 16 de julho de 2020

MANUEL PINHO SAI DO CHEGA- Dirigente do Chega chama mentiroso a Ventura e ataca-o por “lei da rolha” - Portugal




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Manuel Pinho sai do Chega com estrondo. Numa carta aberta partilhada nas redes sociais, o dirigente demite-se da vice-presidência da comissão política distrital do Porto e faz várias acusações a André Ventura. De fraude eleitoral, a restrições à liberdade de expressão, Pinho aponta falta de democracia ao funcionamento do partido e ataca o líder por ter mudado as regras de forma a não ter ninguém a disputar-lhe a liderança.

O agora ex-dirigente do Chega começa por revelar ter entregado passada sexta-feira uma queixa ao conselho de jurisdição do partido por "fraude eleitoral" nas eleições para a distrital do Chega no Porto. No entanto, explica, este é só "o culminar de vários factos muito graves que ocorreram" durante o período em que foi dirigente do Chega "e durante a campanha eleitoral da distrital do Porto".

Manuel Pinho diz ter sido alvo de "múltiplos ataques e ameaças", que terá reportado à direção, que acusa de nada ter feito para travar ou punir aqueles "que desrespeitaram reiteradamente os estatutos do partido e as regras do estado democrático".

"Grande desilusão! Ouvi promessas e garantias de igualdade em relação às candidaturas e palavras de intolerância relativamente a determinadas atitudes que não se concretizaram. Porquê? O senhor saberá", escreve Manuel Pinho a André Ventura, que põe em causa a palavra dada pelo líder do Chega. "Contei com a sua palavra. Mas, como bem diz o povo, palavras leva-as o vento, fui percebendo, com o passar do tempo, que Paredes pouco interessava quando outros valores se levantam", ataca.

Mas se as eleições para a distrital do Porto terão sido a gota de água para este militante, Manuel Pinho aponta outros facto que considera "relevantes" para  a sua demissão.
Dirigente demissionário diz que demissão de Ventura foi encenação

"Em abril, o senhor apresentou a sua demissão, mas, na realidade, até ao momento, não saiu da presidência do partido Chega. Também a sua direção nacional não está em modo de gestão e continua a desempenhar as funções como se nada tivesse acontecido", recorda Manuel Pinho, que tira daí uma conclusão: Ventura "está a mentir".
"Quando diz que está disponível para disputar a liderança do partido com quem estiver contra si, está a mentir. Se estivesse nessa disposição, não alterava as regras do "jogo" para benefício próprio", argumenta Pinho, que acusa Ventura de boicotar possíveis adversários.
"Após o anúncio da sua demissão, no início de junho, em Amares, no conselho nacional, a direção nacional apresentou uma proposta que restringe a possibilidade de alguém se candidatar contra si, uma vez que, para isso acontecer, esse militante terá de contar com o apoio de três distritais e de uma comissão política regional, dos Açores ou da Madeira", frisa, lembrando que esta alteração foi "apresentada no momento aos conselheiros, sem reflexão prévia".

A conclusão do dirigente demissionário é a de que, "como a direção nacional controla as eleições em todas as distritais e regionais, será praticamente impossível qualquer militante candidatar-se à liderança do partido Chega".

A "lei da rolha" e o "sistema autocrático" no Chega
Mas há mais: Manuel Pinho afirma haver uma "lei da rolha" no partido, "concretizada em ameaças de expulsão a militantes".
"Na verdade, a liberdade de expressão é um dos valores que eu mais prezo. Se um partido não sabe ouvir os seus militantes, não é um partido democrático. Não aceito a proibição de tecer comentários na página oficial do Chega que me foi imposta, após ter feito um comentário que não põe em causa os estatutos do partido", escreve Manuel Pinho que diz que ao mesmo tempo que era impedido de escrever nas redes sociais do partido "multiplicaram-se os comentários ofensivos" contra si "perante a inércia do partido".
"Esta conivência acelerou, sem dúvida, a minha tomada de decisão relativamente à saída. O partido passa uma mensagem para fora, mas pratica o inverso no seu seio", critica,
"Assim, instalou-se um sistema autocrático no próprio partido", sustenta Manuel Pinho, que se confessa "triste".
"Acreditei que fosse um partido diferente, que contava com todos, mas enganei-me", declara, afirmando que "muito mais teria a dizer" sobre o que se passa no Chega. "Mas fica o essencial para perceber o descontentamento de alguém que acreditou em si", remata, dirigindo-se a Ventura.

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