domingo, 21 de junho de 2020

Persas, a primeira superpotência da História

escultura alto relevo dos persas

Os persas são bem conhecidos por terem se aprofundado na arte do alto relevo. Essa técnica tipicamente persa teria sido inspirada nos ricos monumentos da terra dos faraós, o Egito. Créditos: autoria desconhecida.
Persas. De tribos nómadas milenarmente subjugadas por povos estrangeiros floresceu a civilização de Ciro, o Grande, o Império da Pérsia. Ciro conquistou todos os povos da Mesopotâmia, libertou os hebreus do Cativeiro da Babilónia e revolucionou na política, dando vida ao primeiro grande império da História.


Os persas foram nómadas e vassalos de outros povos por milhares de anos até que em 559 a.C. foram unificados sob a liderança de Ciro II, passando rapidamente a ser uma forte civilização da região.


O QUE É A PÉRSIA ANTIGA?

Os descendentes de Ciro, como Cambises II e Dario, o Grande, ampliaram a vastidão do território persa, não deixando de lado a evolução cultural de sua sociedade. Sua cultura, opulência e sofisticação, assim como seus exércitos, chamaram atenção do mundo, acabando por influenciar diretamente as culturas europeias, como a grego-romana.
A Pérsia foi conquistada pelo maior conquistador da Antiguidade, rei da Macedónia e discípulo de Aristóteles, Alexandre, o Grande, em aproximadamente 330 a.C..

1 LOCALIZAÇÃO E ORIGEM PERSA

Os antigos persas habitavam o sul do território do atual Estado do Irã, mais precisamente no planalto iraniano entre Mesopotâmia e a Índia. Irão, inclusive, é o segundo nome oficial pelo qual a Pérsia é reconhecida globalmente.
território dos persas mapa
Expansão máxima do império dos persas. Créditos: autoria desconhecida.

2 HISTÓRIA DOS PERSAS

Os persas viviam às margens do golfo pérsico no sul do atual Irã e por milénios foram subjugados por diferentes povos, como os Medos, Assírios e Babilónicos. Eram nômades e viviam divididos em tribos ou clãs.

2.1 Nasce o império persa

Aproximadamente em 559 a.C., quando os persas se encontravam sob domínio dos Medos, o aqueménida Ciro II, que era um rei vassalo do império da Média, revoltou-se contra o frágil rei Astíages, destronando-o e habilmente transformando a Pérsia na mandachuva da região.
Ciro, de modo absurdamente rápido, deu início a uma série de reformas internas e expansão territorial que acabaria por criar a primeira superpotência do mundo, o Império da Pérsia.
Tamanha a força desse império que todos os povos, livres ou não, da Mesopotâmia e da Península Arábica foram dominados. Fenícios, assírios, hebreus, babilónicos e tantas outras civilizações agora se encontravam em regime de servidão à Pérsia. Logo o rico Egito Antigo também seria dominado pelos persas.

2.2. Ciro, o Grande (? – 529 a.C.)

Ciro II se tornou famoso por sua política incomum à época. Curioso destacar desde já que Ciro é o único gentio (pagão, idólatra, para os “cristãos”) a ser chamado de messias na Bíblia. Ciro teria sido ungido e enviado por Jeová, o Deus dos Hebreus, para libertar seu povo do Cativeiro da Babilónia.
O soberano [Ciro] persa revelou magnanimidade diante dos reis e povos vencidos. Astíages, Creso e Nabónide foram tratados liberalmente. As populações tiveram seus sentimentos e crenças religiosas respeitadas: devolveram-se às respectivas cidades as estátuas divinas que Nabónide havia trazido para a Babilónia; aos judeus exilados não só foi permitida a volta à Palestina e a construção do tempo, mas também restituíram-se os vasos de ouro e de prata encontrados no tesouro real [babilónico] e provenientes do antigo templo de Jerusalém [destruído pelos babilónios]. (GIORDANI, 1969, p. 275, acréscimo nosso)
Assim, Ciro, o Grande, um dos mais competentes conquistadores da História, edificou as bases do império que acabara de criar e que muito ainda cresceria, mostrando todo o esplendor e riqueza da cultura dos persas.

ciro o grande
Ciro, o Grande, o responsável pela criação do Império da Pérsia. Créditos: autoria desconhecida.

2.3 Dario, o Grande (550 a.C. – 486 a.C)

período de maior esplendor da Pérsia Antiga teria ocorrido durante o reinado de Dario I. Dario dividiu o império em regiões administrativas (satrápias) para melhor aproveitamento do seu potencial.
Também houve o grande desenvolvimento das cidades, do comércio, do direito e a construção de palácios e monumentos imponentes, mostrando toda a suntuosidade da civilização persa. Os povos orientais, inclusive, ainda hoje são famosos pela sofisticação e acabamento de suas construções.
Dario, que também foi aclamado como Dario, o Grande, era um exímio guerreiro e administrador, mas, para o Ocidente, ficou infelizmente mais conhecido por ter perdido a primeira das Guerras Médicas contra os gregos, fato consumado na famosa Batalha de Maratona em 490 a.C..
batalha de Maratona
Baralha de Maratona onde os gregos mostraram que vantagem numérica não representava vitória. Créditos: Time Life Pictures / Mansell / Time Life Pictures / Getty Images.

2.4 Xerxes, o Rei dos reis (518 a.C. – 465 a.C.)

Filho de Dario I e neto de Ciro II, Xerxes I também era um guerreiro formidável. Herdou o trono com a missão de vingar a derrota de seu pai para os gregos. Falando em números, a força de invasão persa teria sido a maior da Antiguidade e Idade Média, algo com aproximadamente 250 mil soldados.
Entretanto, erros táticos e o suposto temperamento de Xerxes teriam minado seu próprio exército, que recebeu o golpe final na Batalha Naval de Salamina, quando as frotas persas foram arrasadas pelas birremes gregas lideradas por Temístocles em 29 de setembro de 480 a.C..
Uma das batalhas mais famosas da história também se deu em 480 a.C., quando um dos reis espartanos, Leônidas, o Leão de Esparta, liderou a histórica resistência suicida na chamada Batalha das Termópilas. Esparta, curiosamente, possuía dois reis.
Após a derrota para os gregos, Xerxes I teria ficado tão arrasado que teria desistido de modo absoluto da vida militar, passando a administrar seu vasto império, cuidando principalmente das suas principais cidades.
batalha de salamina
A decisiva Batalha Naval de Salamina, quando a logística persa foi arruinada, o que impossibilitou a campanha na Grécia. Créditos: Wilhelm Von Kaulbach.

2.5 Alexandre, o Grande, conquista o império persa

O império persa ruiu aproximadamente em 330 a.C. após uma série de vitórias quase inacreditáveis dos macedónicos contra o rei persa, Dario III. Grânico, Isso e Gaugamela, as grandes batalhas vencidas pelas poderosas falanges macedónicas.
Em determinada ocasião, Alexandre teria lançado:
Juventude de Pela, da Macedónia e todos os povos da Grécia […], juntem-se aos seus soldados e confiai-vos a mim, para que nos movamos contra os bárbaros e nos libertemos da submissão persa, já que, como gregos, nós não devemos ser escravos de bárbaros.

3 POLÍTICA

Para administrar um império tão vasto e complexo, mantendo-o sempre sob uma forte centralização política, uma série de inovações, como satrápias, estradas e um eficiente sistema de correio, foram elaborados e disponibilizados por todo o império.

3.1 Satrápias

Devido à vastidão do império, fez-se por bem dividir as regiões para facilitar a administração. Cada divisão da Pérsia era chamada de Satrápia (foram mais de 20) e seus governantes conhecidos por sátrapas, cuja função principal era a arrecadação de impostos.
Ao lado de cada sápatra figurava alguém de confiança do rei persa (“os olhos e ouvidos do rei”), que fiscalizava e espionava em seu nome. Esse “alguém de confiança” representa bem o rígido controle político exercido pelos persas.

3.2 Correio eficiente

Um inovador e sofisticado sistema de comunicação foi criado, destacando-se o qual passava pela Estrada Real Persa. Essa estrada possuía milhares de quilómetros e tinha várias outras estradas menores, possibilitando o rápido deslocamento de mensageiros, caravanas de comerciantes e tropas.
Essa rápida comunicação era invejada por diversos outros povos e teria inspirado os romanos na criação do seu sistema postal. Os persas também faziam uso extensivo do eficiente e ainda mais veloz pombo-correio.

3.3 Unidades militares em locais estratégicos

Importante destacar a existência de aparatos militares em localidades estratégicas para intervenção, fazendo valer a lei do imperador ora sufocando eventuais rebeliões ora espionando supostos sápatras desleais.

3.4 Tolerância aos vencidos

Apesar de toda a rigidez da política, era de praxe esperar um bom grau de tolerância por parte dos persas para com os povos conquistados. A tolerância, principalmente a religiosa, tratava-se de uma característica destacada na sua cultura, algo bem incomum para os padrões da época.
À época as conquistas eram avassaladoras e se destruíam civilizações inteiras, tendo geralmente como resto apenas uma parte da população que era escravizada. Quando se tinha sorte, poderia ocorrer a conversão do conquistado aos costumes e crenças do conquistador, ainda com possibilidade de se pagar tributos e se tornando cidadãos de segunda classe.
Em contrapartida, o povo conquistado se sujeitava à tributação persa (entrega de materiais preciosos ou mesmo moedas), ao apoio militar e, quando solicitado, a governar determinada região como sápatra.
Essa tolerância iniciada por Ciro II, ainda que camuflada de estratégia política, tornou-se um modelo para governantes posteriores, como Alexandre, o Grande.

3.5 Estrada Real Persa

A Estrada Real Persa era utilizada para rápido o envio e recebimento de mensagens e se estendia por milhares de quilómetros com centenas entrepostos, onde os mensageiros podiam trocar de cavalo, descansar ou simplesmente repassar a mensagem a outro mensageiro, que imediatamente sairia no mesmo galope até o posto seguinte. A distância entre cada entreposto seria de aproximadamente 25 km.
Dependendo da distância, algumas mensagens, que poderiam levar meses para chegar ao seu destino, não duravam mais que algumas semanas. Essa estrada também facilitava a marcha do exército que rapidamente se deslocava por todo o império.

4 SOCIEDADE DOS PERSAS


4.1 Sociedade estamental

A sociedade persa é definida como estamental, aquela caracterizada pela rigidez, imobilidade social. Ou seja, o indivíduo terá sua posição (hierarquia) definida na sociedade de acordo com a sua origem familiar.
Exemplo: nasceu na classe dos artesãos, como artesão morrerá, assim como seus descendentes. Apenas em situações raras e extraordinários se tem a quebra dessa caracterização da sociedade civil persa.

4.2 Valorização dos soldados persas

Os soldados persas tinham grande valor para o império, visto que representavam o pilar de sustentação de sua sociedade. Eram bem treinados, remunerados e respeitados, também sendo temidos por sua própria população.
Para manter um império tão vasto e repleto de povos diferentes sob a mesma bandeira, os persas conseguiram a façanha de montar um poderoso exército que em seu auge teria alcançado os 300 mil soldados. Um número absurdamente grande para a época e que demandava o recrutamento de soldados de todos os recantos do império.
Algumas referências antigas, como a do grego Heródoto, indicam milhões de soldados, mas as referências atuais desacreditam um número tão estramólicamente expressivo para os padrões da época. Importante apontar que os persas também faziam o uso de elefantes de guerra e outras feras em suas fileiras.

5 ECONOMIA DOS PERSAS



.1 Artesanato e comércio terrestre

Eram excelentes artesãos, destacando-se os tecidos, a tapeçaria e vidraçaria de sua cultura, que impulsionaram um forte comércio terrestre. Uma verdadeira “frota” de centenas de milhares de camelos, dromedários e afins teriam sido utilizados no comércio.
Costumeiramente eram os povos conquistados, principalmente os fenícios, babilônios e hebreus, que faziam o comércio, tendo os persas dado preferência às atividades agrícolas. A atividade comercial não era bem vista por diversos povos da Antiguidade, como gregos, egípcios e os próprios persas.

5.2 Agricultura

A agricultura representava pequena parte da economia devido ao solo pouco produtivo da região que habitavam, sendo mais comum a comercialização de produtos agrícolas a partir da compra e venda a outros povos, como o do chamado “Celeiro da Antiguidade”, o Egito.

5.3 Dárico, a primeira moeda internacional

Os persas conseguiram um feito notório para a economia da época, quando conseguiram padronizar a moeda de modo “internacional”. Chamada de dárico, a moeda levou o nome do seu criador, Dario I. Essa padronização demonstrou o status e poderio do império, além de obviamente facilitar o comércio entre os mais diferentes povos.
dárico moeda dos persas

Um dárico de ouro. Créditos: autoria desconhecida.

6 RELIGIÃO

Eram politeístas e se faz interessante destacar o dualismo de sua religião, o Zoroastrismo, cujo profeta era Zaratustra, que influenciou por influenciar as maiores religiões da atualidade.

6.1 Zoroastrismo

Os persas acreditavam em uma luta onde o bem (representado por Ahura-Mazdá) e o mal (representado por Arimã) se enfrentariam durante as eras, tendo ao fim, talvez um “apocalipse”, Ahura-Mazdá vencido Arimã, salvando e levando ao Paraíso as pessoas justas (os persas também acreditavam na vida após a morte).
Pouco se comenta sobre a possível influência persa sobre a crença dos hebreus, a base da “religião ocidental”. Esse dualismo entre o bem e o mal acaba rebatido nas grandes religiões da atualidade, como a judaica, a cristã e a islâmica.
alto relevo persa

Umas das representações em alto relevo dos símbolos zoroastristas: Faravahar, uma representação da alma humana anterior ao nascimento e porterior à morte. Créditos: autoria desconhecida.

6.2 Paradises (Paraísos), os jardins persas

Os persas, como muitos povos do Oriente, eram reconhecidos pelo excesso de pompa e luxo de seus monumentos, palácios e cidades de modo geral. E com os seus jardins não seria diferente.
Os jardins ficaram famosos pela fauna exótica perfeitamente distribuída em grandes e suntuosas estruturas com direito a chafarizes jorrando água em meio ao deserto e a exuberância de árvores e plantas trazidas das mais longínquas regiões. A esses jardins os persas davam o nome de Paradises, algo que teria influenciado o Paraíso cristão.
REFERÊNCIA(S):
BOTTÉRO, Jean. No começo eram os deuses. trad. Marcelo Jacques de Morais. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011.
BRAICK, Patrícia Ramos; MOTA, Myriam Becho. História: das cavernas ao terceiro milênio. 3ª ed. reform. e atual. São Paulo: Moderna, 2007.
CLINE, Eric H.; GRAHAM, Mark W.. Impérios antigos: da Mesopotâmia à Origem do Islã. trad. Getulio Schanoski Jr.. São Paulo: Madras, 2012.
GILBERT, Adrian. Enciclopédia das Guerras: Conflitos Mundiais Através do Tempo. trad. Roger dos Santos. São Paulo: M. Books, 2005.
GIORDANI, Mário Curtis. História da Antiguidade Oriental. 13 ed. Petrópolis: Vozes, 1969.
SOLLA, Walter. Hebreus, Fenícios e Persas. Acesso em: 15 mar. 2018.
VINCENTINO, Cláudio; DORIGO, Gianpaolo. História Geral e do Brasil. São Paulo: Scipione, 2002.
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Autor: Eudes Bezerra
32 anos, pernambucano arretado, bacharel em Direito e graduando em História. Diligencia pesquisas especialmente sobre História Militar, Crime Organizado e Sistema Penitenciário (além de tudo que consta no site). Gosta de ler, escrever e planejar. Na Internet, atua de capacho a patrão, enfatizando a criação de conteúdo.
Publicações de Eudes Bezerra


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