segunda-feira, 11 de maio de 2020

Há 50 anos, a extrema-direita "incendiou" Coimbra



















Liderados por José Miguel Júdice, os nacionalistas radicais manifestaram-se 

na Praça da República, envolvendo-se em confrontos com a polícia 


A 09 de Maio de 1970, a reacção da extrema-Direita às recentes 

vitórias da Esquerda em eleições para os órgãos sociais da 

Associação Académica de Coimbra (AAC) fez da praça da 

República um campo de batalha.O episódio de violência, por 

ocasião da subida à cena da peça "O livro de Cristóvão Colombo" 

(de Paul Claudel), não foi alheio à escassez da duração do 

mandato do reitor José Gouveia Monteiro 

(que não era afecto ao regime de Marcelo Caetano, deposto a 

25 de Abril de 1974).

A representação acabou por ser viabilizada poucas semanas depois de o reitor ter negado à Oficina de Teatro da Universidade de Coimbra (OTUC, conotada com a extrema-Direita) autorização para o efeito. Em Abril de 1970, a Direcção da AAC, presidida por António Pires Remédios, decidira fechar a sede da OTUC.
Segundo Riccardo Marchi, "após (…) conversações, a OTUC conseguiu autorização para exibir a peça no Teatro Académico de Gil Vicente, ficando a entrada no TAGV limitada a um público predeterminado para evitar as contestações já organizadas pelas esquerdas".
De acordo com o investigador universitário, na noite da representação, cerca de 300 "activistas antifascistas" contestaram duramente os convidados da Oficina de Teatro e houve escaramuças com a Polícia.
Os referidos activistas ameaçaram tomar de assalto o TAGV caso o reitor não ordenasse a interrupção do espectáculo, coisa que Gouveia Monteiro acabou por fazer. Os estudantes nacionalistas encararam a atitude do reitor como sintoma de fraqueza da classe política marcelista.
Para o investigador, a actividade da OTUC passou a pautar-se por "constante provocação ao movimento estudantil, a ponto de gerar violentos confrontos entre estudantes esquerdistas e forças da ordem".
Em "A Direita radical na Universidade de Coimbra", Marchi conta que, "chefiados por José Miguel Júdice, os nacionalistas radicais recusaram-se a abandonar o TAGV e responderam às ameaças de intervenção da Polícia, proferidas pelo reitor, entoando o Hino Nacional".
Para José Veiga Simão, que foi ministro da Educação do outrora chefe de Governo Marcelo Caetano, Gouveia Monteiro entendeu dever governar a UC ao abrigo do "espírito de Coimbra", pautado pela tolerância e pelo humanismo.
De resto, uma edição do Diário de Lisboa, cuja manchete se intitulava "Esperança em Coimbra", foi apreendida.
Segundo Jorge Gouveia Monteiro, filho do antigo reitor, ele fez saber que demitir-se-ia de imediato caso fosse censurado o discurso do acto de posse.
Reivindicando o estatuto de representante da UC junto do Governo de Marcelo Caetano (sucessor de António Oliveira Salazar), José Gouveia Monteiro preconizava a pacificação e a despolitização da Universidade. Com isto o então reitor quis, porém, significar não defender que fosse interdito falar de política.
José Dias, dirigente da Associação Académica (AAC) na década de 70 [do século XX], situa o reitorado de Gouveia Monteiro na "fase da perda do monolitismo salazarista por parte do anterior regime".
Investido em funções a 19 de Fevereiro de 1970, como sucessor de Andrade Gouveia, Monteiro passou o testemunho a Cotelo Neiva, volvidos 20 meses.


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