quinta-feira, 30 de abril de 2020

SEM PAPAS NA LÍNGUA



Estávamos se não felizes pelo menos convencidos de que poderíamos sê-lo e de repente tudo muda de um minuto para o outro.
Sabemos que a vida tem altos e baixos, tem os seus momentos difíceis mas lá vamos arranjando alento para tentar emendar os erros, as injustiças, com que os nossos governantes nos presenteiam há décadas e que escandalosamente se abatem sempre sobre quem é mais pobre, sobre quem trabalha e sobrevive a muito custo com as depessas, os impostos, os engargos familiares, as preocupações com a renda da casa, o desemprego, com a escola dos nossos filhos, com a segurança na velhice que hoje custa rios de dinheiro.
Uma coisa permanece no entanto dentro de alguns de nós que é a esperança que um dia nos consigamos unir e fazer com que nos respeitem, já que somos ordeiros, trabalhadores, cívicos.
Temos acreditado, temos votado, temos contribuido para que este País que não é rico possa ser um Pais onde se viva com dignidade e nos seja assegurado o elementar, o essencial, sem necessidades de luxo e da grandeza.
Tudo nos tem sido negado e a classe burguesa e os seus lacaios políticos têm arruinado o País desprezando e destruindo a cada minuto as nossas vidas. Agravou-se a corrupção, o crime económico, o radicalismo ideológico que pensávamos quase extinto, o nazismo resuscitou, e o clima de tensão no País transportou-nos para o fanatismo, a mentira e a falta de vergonha por parte de quem devia ter responsabilidade, deveria ter honra em servir o nosso povo que vindo de quase meio século de uma ditadura fascista, hoje já soma mais 46 anos onde o fascismo moderno impera e onde as oportunidades para os que produzem, para os que são honestos e integros, praticamente tudo lhes é vedado e negado.
As pessoas não debatem os assuntos com argumentos válidos e utilizam a demagogia, usam o xingamento, o ódio, a intolerância.
O povo, desempregado, o povo com dificuldades enormes no campo da saúde, da habitação anda confuso, turbulento quando o assunto é política e fica difícil tecer qualquer comentário ou análise, sobre como poderámos melhorar a nossa condição de vida.
O povo fala de unidade mas não se une, e muitas das vezes até destrói a pouca unidade que é dificil conseguir e deixa-se enlevar no populismo extremista da direita e num falso socialismo que desde Mario Soares tem sido um dos grandes culpados da traição à Constituição que apontava para uma sociedade socialista que o povo quis mas não soube lutar por ela.
Não soube e claro, não o deixaram, aqueles que com o 25 de Abril encheram e continuam a encher os bolsos sem nunca olharem para o seu povo, o povo que os elege e que merecia melhor sorte. .
Ou começamos a colocar milhares a protestar nas ruas, nos locais de trabalho ou a nossa sorte não mudará, e cada vez mais a canga capitalista anulará toda a hipótese de vencermos os exploradores, e os nossos filhos pagarão tão caro quanto os nossos pais pagaram na noite escura do Salazarismo/Caetanismo.
Não podemos permitir que a luta que se travou contra a ditadura e que causou tanto sofrimento, tortura e morte se repita nos tempos modernos, pois hoje o fascismo é mais astuto e sabe dissimular melhor os seus crimes e dividir a sociedade com métodos sofisticados de alienação através dos media que praticamente estão todos ao lado da direita mais retrógrada e repressiva.
Institucionalizou-se a mentira, aumentaram os atentados aos direitos conquistados com o 25 de Abril, atenta-se contra a liberdade de expressão, contra o direito à greve, a delação os bufos voltaram a ter espaço nos locais de trabalho e no seio dos trabalhadores.
Para agravar mais a nossa vida estamos agora a braços com a pandemia da covid 19 que nos tempos que aí vêm vai agravar drásticamente e de uma maneira que muitos talvez não estejam a prever, a vida das pessoas, e claro que os que vão pagar mais caro, serão os que têm fracos recursos, os que têm vindo sempre a perder.
Temos que refletir, temos que agir, temos que unir o povo para que possamos sobreviver e vencer o fascismo, o capitalismo, o bicho mais hediondo do planeta.

António Garrochinho

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