sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

Suspeito de terrorismo prestou declarações em tribunal. Rómulo, o cidadão comum e não um terrorista do Daesh

Rómulo Rodrigues da Costa encontra-se em prisão preventiva na cadeia de Monsanto (Lisboa)

Suspeito acusado de financiar terrorismo jiadista foi ouvido esta sexta-feira pelo juiz Carlos Alexandre

Rómulo Rodrigues da Costa, 40 anos, está acusado pelo Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) de três crimes de terrorismo, juntamente com sete portugueses da denominada célula de Leyton. São todos suspeitos de financiar e recrutar jovens em Londres para combater no Daesh. Desde junho que Rómulo se encontra em prisão preventiva na cadeia de alta segurança de Monsanto.
Esta sexta-feira, na primeira sessão da fase de instrução do caso, o suspeito explicou ao juiz Carlos Alexandre que não é um terrorista mas um cidadão comum. O seu advogado, Lopes Guerreiro apresentou recibos de ordenado do arguido como professor de informática numa universidade de Londres. Também disponibilizou uma pen com ficheiros de YouTube com músicas, capas de álbuns e videoclipes produzidos por Rómulo, conhecido no meio musical como Romy Fansony. Também apresentou um áudio com um programa de rádio em que o português participou na capital londrina, onde vivia desde o final dos anos 1990.
A sessão prolongou-se pelo dia inteiro e vai continuar no dia 26. Ao Expresso, Lopes Guerreiro explica que um dos principais objetivos deste dia foi o de "explicitar toda a vivência profissional e académica" de Rómulo Rodrigues da Costa desde que saiu de casa dos pais, em Massamá e se mudou para Londres. O outro foi o de tentar "desmontar" as imputações do Ministério Público. Foi por isso que fez questão de reproduzir na totalidade escutas do processo, "algumas delas que não foram transcritas na acusação" porque, de acordo com Lopes Guerreiro, "não interessavam" aos procuradores do caso. "As conversas são verdadeiras mas foram retiradas do contexto", acusa o advogado.

UMBRELA CORPORATION

O DCIAP e a PJ investigaram durante seis anos o dia a dia dos oito portugueses acusados agora de três crimes de terrorismo. Autodesignavam-se de Umbrella Corporation. Seis partiram para a Síria, com as mulheres e os filhos, entre 2011 e 2014, enquanto apenas dois permaneceram em Londres, para financiar a causa jiadista e ajudar o grupo no recrutamento de jovens muçulmanos sem qualquer experiência militar.

Todos se radicalizaram no Bairro de Leyton, na zona leste da capital britânica, frequentando a mesquita local de Forest Gate, tal como o Expresso noticiou em 2014. O que não se sabia é que durante o período em que viveram em Massamá - já depois de terem sido formatados para o extremismo em Londres e realizado treino militar de grupos fundamentalistas na Tanzânia - os irmãos Celso e Edgar Costa frequentaram a mesquita central de Lisboa para as orações de sexta-feira.

No entanto, o MP concluiu que os dois irmãos não tinham ligação com a comunidade muçulmana em Portugal, colocando de parte a hipótese de terem espalhado o Islão radical em território português. A partir de casa dos pais, na linha de Sintra, Celso e Edgar aliciavam para o Daesh, à distância, jovens de Londres, numa operação que designaram de O Programa. Os recrutas viajavam para Portugal e dormiam em Lisboa antes de voarem para a Bulgária e Turquia e depois atravessarem a fronteira para o Daesh com a ajuda de intermediários pagos por Nero Saraiva.

Alguns jovens dormiram em casa dos pais de Celso e Edgar, onde tinham direito "a um bom banho e a um bom chá", e outros ficaram numa pensão barata em Queluz. O recrutamento nem sempre correu bem. O somaliano Abdul Ahmed foi barrado na Turquia e obrigado a regressar a Queluz. O percalço revelou algum amadorismo dos portugueses, que andaram desorientados de embaixada em embaixada à procura de um novo visto para o futuro jiadista.

Já na Síria, Nero Saraiva, Edgar Costa e Fábio Poças chegaram a ocupar lugares de topo na hierarquia do grupo terrorista. Este último deu instrução a "mais de mil recrutas" em três meses, lê-se na acusação.

Quem nunca quis partir para o califado foi Rómulo Costa e Cassama Ture. O último foi interrogado pela PJ e depois libertado, regressando a Londres. Já o primeiro foi detido há seis meses, em Sintra, quando viajou do Reino Unido para visitar a família em Portugal, ficando em prisão preventiva em Monsanto.


expresso.pt

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