sábado, 25 de janeiro de 2020

O QUE CERTAS RATAZANAS ANDAM A MANOBRAR É COLOCAR O PIRATA GATUNO DO LADO DOS QUE AINDA NÃO FORAM APANHADOS PARA QUE NÃO DIVULGUE MAIS SE ACASO TENHA PROVAS - PJ acredita que Rui Pinto foi o denunciante dos Luanda Leaks



Muitos dos documentos divulgados nos últimos dias fazem parte tanto do processo em que o hacker vai ser julgado como de outros inquéritos que ainda estão em investigação. Advogado francês de Rui Pinto é um dos fundadores da plataforma que recebeu os mais de 715 mil ficheiros dos Luanda Leaks.




,Vazamentos de futebol
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Rui Pinto está em prisão preventiva desde Março de 2019 Os elementos da Polícia Judiciária (PJ) que continuam a investigar o pirata português Rui Pinto, que vai ser julgado por 90 crimes no primeiro processo em que é visado, acreditam que o hacker foi o denunciante por trás da fuga de informação de mais de 715 mil ficheiros conhecida como Luanda Leaks. Esse grande volume de dados foi partilhado com o Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (conhecido pela sigla inglesa ICIJ) através da PPLAAF, uma plataforma de protecção de denunciantes em África.


Na base da convicção dos investigadores está o facto de muitos dos documentos, que têm sido divulgados nos últimos dias pelos 31 órgãos de comunicação que integram o consórcio de jornalistas que investigou o caso, fazerem parte tanto do processo que está em julgamento como de outros inquéritos que ainda se mantêm em investigação. 
Os documentos estavam guardados nos dispositivos de armazenamento de dados — discos rígidos, pens, computadores — que foram apreendidos ao pirata português na Hungria e a que as autoridades portuguesas já conseguiram aceder. Há, no entanto, muita informação que continua inacessível, já que a maior parte dos discos rígidos apreendidos estavam encriptados com um software que só muito dificilmente poderá ser aberto.Outro dos argumentos apresentados pelos investigadores da PJ é o facto de um dos fundadores da PPLAAF ser William Bourdon, um dos advogados de Rui Pinto. Especializado na defesa de whistleblowers — tendo representado Edward SnowdenHervé Falciani (SwissLeaks)Antoine Deltour (LuxLeaks) e Julian Assange (WikiLeaks) — o francês de 63 anos já veio várias vezes a Portugal visitar à cadeia o autor do Football Leaks. Assume actualmente o papel de presidente da PPLAAF, estando responsável pela supervisão e gestão das equipas da plataforma na África do Sul e França.




Recorde-se que o advogado francês Henri Thulliez, um dos co-fundadores da PPLAAF, tinha revelado ao PÚBLICO que esta organização recebeu os documentos em “finais de 2018, inícios de 2019”, período em que Rui Pinto ainda estava em liberdade em Budapeste, na Hungria, onde foi detido em meados de Janeiro do ano passado. Durante os dois meses que os tribunais húngaros estiveram a decidir se extraditavam o português, este esteve apenas retido em casa, onde chegou a dar uma entrevista. A mesma fonte cita ainda que a organização possuía “confiança no whistleblower” recusando, contudo, revelar em que factores assentavam este sentimento, invocando o dever de protecção de identidade do delator.
“Começámos a receber os documentos [dos Luanda Leaks] no final de 2018, início de 2019. O whistleblower disse-nos que a informação mostrava violações do interesse público e, muito rapidamente, concluímos que o tamanho e dimensão internacional tornariam essencial partilhá-la com o nosso parceiro, o ICIJ”, afirmou, por escrito, Henri Thulliez.
O marido de Isabel dos Santos, Sindika Dokolo, apontou o dedo a Rui Pinto, acusando-o de ser “o braço armado deste complô [Luanda Leaks]”.  Em entrevista à rádio RFI Afrique disse ainda que várias empresas tinham sido alvo de ataques informáticos realizados por “um hacker português”. Por sua vez, a empresária Isabel dos Santos apontou o dedo ao Governo angolano, acusando-o de participar num “ataque político coordenado”.

87% da informação ainda é desconhecida





Os documentos divulgados pelo Football Leaks e investigados pelo ICIJ são apenas a ponta do icebergue, no que diz respeito à informação armazenada pelo hacker. No leque de material informático apreendido na Hungria em meados de Janeiro do ano passado — que consistia em doze discos externos e dois computadores — estavam cerca de 26 terabytes de informação. No caso do Football Leaks foram transmitidos 3,4 terabytes, apenas 13% das informações, segundo a revista alemã Der Spigel, que investigou os documentos partilhados pelo pirata informático. Ou seja, ainda há 87% dos dados roubados por revelar.
É conhecido — e admitido pelo próprio Rui Pinto — que o material não é exclusivo ao mundo do futebol, sendo que o hacker foi também um denunciante assumido nos Malta Files. Este foi um caso investigado por um outro consórcio de jornalistas, do qual o semanário Expresso também faz parte, que revelou múltiplos episódios de evasão fiscal que aproveitavam o suave regime de impostos de Malta.
As autoridades francesas, receosas de que a informação apreendida na Hungria ficasse inacessível após a extradição de Rui Pinto para Portugal, viajaram até Budapeste e fizeram uma cópia dos dados presentes nos discos. Contudo, estes ficheiros estão encriptados e, ao que o PÚBLICO apurou, tudo indica que mesmo as autoridades francesas ainda não conseguiram resolver o enigma. Antes da detenção de Rui Pinto, o hacker já se tinha deslocado a França para entregar documentação e colaborar com as autoridades judiciais daquele país, tendo-lhe sido oferecida a oportunidade de integrar um programa de protecção de testemunhas. No entanto, o hacker acabaria por ser detido pouco tempo depois.




Estava a trabalhar com as autoridades francesas, a começar uma colaboração com as autoridades suíças e iria provavelmente iniciar outra colaboração europeia, mas Portugal sabotou tudo”, afirmaria Rui Pinto aos jornalistas da Spiegel.
Também as autoridades portuguesas esbarram no quebra-cabeças de encriptação montado pelo autodidacta em informática. Durante meses, tentaram aceder sem sucesso ao material dos discos rígidos. Segundo consta no auto de análise forense ao material informático, um documento que integra o processo consultado pelo PÚBLICO e que está datado de Setembro do ano passado, dez discos permaneciam “blindados” pelo sistema usado pelo hacker até ao momento da acusação, proferida nesse mês. 
Rui Pinto está em prisão preventiva desde Março do ano passado. Inicialmente acusado pelo Ministério Público de 147 crimes, o hacker responderá em julgamento por 90 ilícitos, após decisão da juíza de instrução Cláudia Pina. Rui Pinto foi pronunciado por um crime de tentativa de extorsão, seis de acesso ilegítimo, 68 de acesso indevido, 14 de violação de correspondência e um de sabotagem informática.
A juíza decidiu deixar cair a acusação relativa a 54 crimes, por entender que Rui Pinto não deve ser julgado pela violação de correspondência de quem não apresentou queixa contra si. A par do pirata informático português neste caso vai também ser julgado o advogado Aníbal Pinto, acusado de um crime de tentativa de extorsão, Doyen Investment Sports, sediado em Malta, que financia passes de jogadores e treinadores de futebol.






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