sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

O fascínio das orquídeas de Portugal e outras

Parecem flores exóticas oriundas de paraísos tropicais distantes, mas, na verdade, crescem nas nossas montanhas, bosques e planaltos. A lente atenta de dois fotógrafos oferece uma nova perspectiva sobre a flora exuberante, próxima, mas pouco conhecida da Península Ibérica.
Texto Eva van den Berg   Fotografia Alberto Sobrino e Jorge Francisco Garrido/ASA
 
Orchis militaris Altura: de 20 a 40cm, Floração: de Abril a Julho.
Em 2011, a botânica Mónica Moura, da Universidade dos Açores, estudava a floresta da laurissilva nas encostas da ilha de São Jorge, em busca de orquídeas-borboleta, grupo representado por duas espécies endémicas nos Açores. De súbito, encontrou uma planta que não correspondia a este grupo: as flores eram demasiado grandes. Com emoção, suspeitou que encontrara uma nova espécie. Na verdade, viria a deslindar um enigma antigo.
Na década de 1830, o botânico alemão Karl Hochstetter estudara a flora das ilhas açorianas do grupo central e recolhera exemplares de três espécies de orquídeas para o seu herbário. Dessa colecção, consta o único exemplar conhecido de Platanthera azorica, julgada extinta desde então. Até agora. Quando o botânico Richard Bateman, com quem Mónica Moura colaborava, requisitou os exemplares históricos de Hochstetter, a equipa apercebeu-se, depois de testes morfométricos, de que uma das mais raras e vulneráveis espécies de orquídea da Europa ficara esquecida num herbário alemão. Parece improvável, mas as orquídeas continuam a fascinar a ciência.
Ophrys sphegodes Altura: até 50cm, Floração: de Março a Maio.
 Objecto de desejo para muitos horticultores, coleccionadores e botânicos, as orquídeas estão associadas à beleza e ao mistério. Venerada por maias e astecas na América pré-colombiana e pelos chineses desde a Antiguidade, esta curiosa família de plantas cativou também os europeus. No século XVIII, as orquídeas eram um símbolo de estatuto no Velho Continente, razão pela qual muitos coleccionadores, na sua maioria franceses e britânicos, esquadrinharam os bosques do continente americano, onde existe maior variedade nas regiões tropicais e subtropicais, em busca das orquídeas estranhas e desconhecidas. O nome comum deriva do grego orchis, que significa testículo. O nome foi-lhe atribuído pelo botânico grego Teofrasto no século III a.C. Discípulo de Aristóteles e autor do tratado “Sobre as Causas das Plantas”, o sábio baptizou-as assim depois de observar a forma elipsoidal dos pares de tubérculos que muitas orquídeas terrestres apresentam na sua expressão subterrânea. 

Aceras anthropophorum Altura: de 15 a 40cm, Floração: de Fevereiro a Maio.
Há exemplares de orquídeas em todo o planeta, excepto nos pólos e nos desertos. Existem 25 mil espécies, sem contar com os muitos milhares que surgiram através da hibridação e selecção de cultivo de variedades, realizadas por uma plêiade de horticultores em todo o mundo. Segundo Eric Hansen, autor de “Orchid Fever: A Horticultural Tale of Love, Lust, and Lunacy” [sem tradução portuguesa], as orquídeas são a causa de um vício que raia a loucura. Estima-se que cerca de 45 milhões de pessoas em todo o mundo se dediquem ao seu cultivo, e o seu comércio ilegal não é menosprezável. 
Orchis italica Altura: de 20 a 50cm, Floração: de Fevereiro a Maio.
Depois de entrevistar diversas pessoas acometidas do que considera ser a “loucura botânica”, Eric chega a afirmar com ironia: “Não quero transmitir a impressão de que não existam pessoas normais, sãs, inteligentes e equilibradas entre quem se sente atraído por orquídeas. Já ouvi dizer que existem. Mas nunca tive a sorte de as conhecer!”
A “orquideomania” não se deve apenas à variedade de cores, formas e tamanhos destas plantas tão diferentes entre si. É a sua ecologia que fascina. Vivem em comunhão com animais e fungos porque, sem eles, não conseguiriam sobreviver. As suas sementes, extremamente simples e carentes de tecido nutritivo, precisam de um agente exterior que lhes forneça os nutrientes necessários para germinar, uma vez que não conseguiriam fazê-lo contando apenas com os seus próprios recursos.
Anacamptis pyramidalis Altura: de 25 a 50cm, Floração: de Abril a Junho.
Por conseguinte, estabelecem uma relação de simbiose com certos fungos, que fazem esse trabalho a troco de algumas vitaminas. Depois, ao tornar-se adulta, a planta requer a colaboração de animais para proliferar. “As orquídeas só conseguem reunir o seu pólen formando duas massas compactas, mais ou menos pegajosas, que a acção do vento não consegue dispersar, pelo que necessitam da colaboração de animais polinizadores, em geral insectos, como lepidópteros, moscas, abelhas ou vespas, e certas aves, como os beija-flores, que extraem o pólen do interior da orquídea e o transportam até outra flor”, explica o biólogo Pablo Galán, professor de botânica na Universidade Politécnica de Madrid e co-autor, juntamente com Roberto Gamarra, da página de Internet orquideasibericas.info

Orchis coriophora (pormenor) Altura: de 15 a 35cm, Floração: de Abril a Julho.
Muitas orquídeas premeiam os seus polinizadores com as suas fragrâncias, o seu pólen e o seu néctar. Outras espécies, mais sibilinas, emanam um odor repulsivo, semelhante ao de carne putrefacta para poderem atrair as moscas, e existem até outras que mimetizam a forma ou o cheiro das fêmeas de alguns insectos para conseguir que os machos as polinizem quanto tentam copular com elas.
Na Península Ibérica, existem cerca de cem espécies de orquídeas, distribuídas por 26 géneros. Cerca de cinco dezenas estão documentadas em Portugal continental. São todas terrestres, contrastando com as tropicais, que costumam ser epífitas (vivem entre as árvores) ou trepadoras. Todas as que apresentamos nesta reportagem existem na Península Ibérica e apenas duas não estão documentadas para Portugal.
Dactylorhiza elata Altura: de 40 a 80cm, Floração: de Maio a Julho.
A principal ameaça enfrentada pelas orquídeas ibéricas é a perda de habitat, mas as diferentes espécies podem ter necessidades muito díspares. Algumas só se desenvolvem em habitats bem conservados, outras podem prosperar sem problemas nos matagais. Apesar de não haver dúvidas de que muitas espécies correm perigo, enquanto família botânica esta continua a ser uma das mais diversificadas do planeta. As suas proezas evolutivas e a sua resiliência surpreendem os botânicos. Até porque, apesar de todo o escrutínio científico e de toda a informação disponível e partilhada em rede, algures, numa encosta como as de São Jorge, alheia à paixão que desperta, uma nova surpresa pode estar ao virar da esquina. À espera do dia em que se deixa descobrir. 
Ophrys speculum (borboleta: Euchloe crameri) Altura: de 5 a 25cm, Floração: de Fevereiro a Junho.











































Frequentemente associamos as belas e elaboradas orquídeas a locais tropicais e exóticos, desconhecendo que em Portugal ocorrem espontaneamente 55 espécies desta família, duas das quais endémicas. Conheça um pouco das orquídeas na nossa flora.

As orquídeas (família Orchideacea) são um tipo de planta que associamos geralmente a climas tropicais e a selvas verdejantes e exóticas. Porém, elas encontram-se distribuídas por muitos outros tipos de climas e estão também representadas em toda a Europa, onde não são menos coloridas ou sofisticadas que as suas primas tropicais!

Em Portugal ocorrem naturalmente 55 espécies de orquídeas, das quais duas são endémicas, ou seja, ocorrem somente no nosso País. Encontram-se distribuídas pelo Algarve (Barrocal), Estremadura (Serra da Arrábida, Estremadura Norte), Ribatejo e zona Centro-Oeste. Crescem principalmente em terrenos secos, calcários, que partilham com outras espécies, arbustivas.


Todas as orquídeas portuguesas são terrestres, apesar de também existirem orquídeas trepadoras ou parasitas que crescem sobre outras plantas.


Num passeio no campo, principalmente nos meses de Março a Junho, podem-se observar diversas espécies, se se tiver cuidado onde se põe os pés. As orquídeas crescem isoladas e muitas vezes não se dá por elas porque são mais baixas do que o resto das plantas envolventes.

Portugal é ainda um dos últimos redutos onde muitas espécies de orquídeas europeias podem crescer em condições naturais. Existem ainda muitos habitat não destruídos pela acção do Homem, e outros em que, devido à aplicação de técnicas de cultivo tradicionais, a agricultura permite a subsistência simultânea das populações de orquídeas. Além disso, a posição geográfica do País, com um clima semi-Mediterrânico e sem grandes altitudes, é algo privilegiada para a conservação de certas espécies que já se vão tornando raras no resto da Europa (como a Ophrys dyris e Epipactis lusitanica) mas que continuam a ocorrer com alguma frequência no território português.

Infelizmente, tal como acontece com muitas outras espécies, as orquídeas portuguesas têm sido afectadas pela mudança nas técnicas agrícolas verificada nos últimos anos, que tem feito com que as áreas naturais e semi-naturias regridam, à medida que os terrenos são utilizados para exploração agrária intensiva e para a plantação de eucaliptais ou pinhais.
Além da sua beleza particular, as orquídeas têm ainda um papel importante. Podem ser utilizadas como indicadores do estado de saúde de um ecossistema. Ocorrem apenas em certas condições muito específicas, uma das quais é a ausência de poluição.

Em Portugal, a criação de áreas protegidas, até agora, tem sido feita essencialmente para a protecção de espécies de fauna, apesar de certas espécies vegetais serem verdadeiros tesouros nacionais. Em alguns casos, existem orquídeas abrangidas por áreas protegidas, mas nunca são o principal objecto de conservação destas. Dá que pensar...

Assim, da próxima vez que der um passeio no campo, preste atenção. Pode ter a oportunidade de observar de perto uma flor esteticamente exótica e colorida, espontânea em território português.




Bibliografia


Tyteca,D. (1997). Journal Europaïscher Orchideen, vol. 29, Heft 2/3.


Orquídeas dos Sócios

A nossa associada Fernanda Ferreira envia-nos fotos do que lhe vai florindo em casa.
E que maravilhosas são!!


Cymbidium



Cymbidium



Cymbidium



Dendrobium



Dendrobium



Dendrobium



Dendrochilum



Lycaste



Uma orquídea subterrânea

A orquídea que durante toda a sua vida fica sem ver o sol

Quase 100 anos atrás, em 1928, o australiano Jack Trott descobriu um buraco estranho no seu jardim e, depois de cavar a terra, encontrou uma pequena flor branca que crescia debaixo da terra e tinha um agradável aroma. Sem querer, Trott tinha descoberto uma espécie inteiramente nova de orquídea: a Rhizanthella gardneri.
Conhecida como a orquídea subterrânea da Austrália Ocidental, é uma espécie com poucos exemplares no estado selvagem, por isso, está em grave perigo de extinção devido à destruição do seu ambiente.
É uma planta branca sem folhas com um tubo que termina numa cabeça, a flor que permanece debaixo do solo toda a sua vida. Uma vez que não consegue nutrir-se da energia da luz solar, esta orquídea une-se a um arbusto chamado Melaleuca uncinata através do fungo Thanatephorus gardneri de onde recebe os seus nutrientes. Assim, a planta converte água, esses nutrientes e o dióxido de carbono na energia de que necessita para crescer e manter-se.
O seu tempo de floração ocorre em maio e junho: nessa altura, um grupo de 8 a 90 minúsculas flores brancas, de 2,5 a 3cm, emergem através da superfície da terra. Pode até mesmo chegar a florescer no subsolo, o que a torna em algo praticamente único entre as plantas.
Esta pecular orquídea reproduz-ze vegetativamente, embora se acredite que a polinização é realizada por pequenas moscas e insectos, incluindo térmitas ou dípteros atraídos pela sua cativante fragrância. Após a polinização, estima-se em cerca de seis meses para amadurecer.
Não se conhecem muitos detalhes da Rhizanthella gardneri, porque há muito poucos exemplares maduros no seu habitat, além de serem extremamente difíceis de detectar, pelo que não é possível recolher muitas amostras para fins de investigação.
Outras duas espécies de orquídeas subterrâneas conhecidas na Austrália, que também usam esta simbiose chamada micorriza para obter os nutrientes necessários são: a Rhizanthella slateri ou a orquídea subterrânea do Este e a Rhizanthella omissa ou  a orquídea subterrânea de Lamington.

A Expo Orquídeas de Lisboa 


Custa 2,50€ 

Portugal é bom sítio para ter orquídeas?

Muito bom. Temos um clima privilegiado que nos permite cultivar muitas espécies mas para algumas de ambientes tropicais quentes temos que as cultivar em estufas ou no interior das nossas casas.



Sem comentários:

Enviar um comentário