terça-feira, 10 de dezembro de 2019

Hong Kong: Verdade ou “Coincidência”?




Hong Kong:
Verdade ou “Coincidência”?


No domingo passado fizemos mais uma visita a Hong Kong. Dirigimo-nos ao local dos protestos com o intuito de perceber se haviam novos desenvolvimentos. É fácil, mesmo para um estrangeiro, perceber onde ficam os protestos: basta seguir os elementos que vão com roupa nova e cara, de cor preta e com um andar suspeito, em grupos de 3 ou 4. Não quero dar ideias à polícia de Hong Kong (até porque, por princípio, não simpatizo com a polícia), mas, no "meu Portugal", estes elementos não chegariam, sequer, ao local dos protestos.

Tenho o hábito de ver com atenção as inscrições nas paredes, os cartazes e autocolantes colados; é uma boa forma de sentir o ambiente. Desde a última vez que estive em Hong Kong ( há um mês atrás), há uma diferença que salta logo à vista: o ataque ao Partido Comunista Chinês, em particular, e ao comunismo, em geral, é, agora, bastante visível, seja nas paredes, seja nas faixas empunhadas por muitos manifestantes.

Uma das imagens que se via por todo o lado era a de um boneco de animação, um sapo, como se de um ícon dos protestos se tratasse (já voltarei a este intrigante sapo). Tirei algumas fotos, andei pelo meio da manifestação e assisti às entregas dos kits aos manifestantes, os quais continham coisas como luvas, máscaras, braçadeiras de electricista, soro fisiológico, água e até líquidos inflamáveis (Quem estará a pagar estes kits há tanto tempo?).

Outra situação curiosa é a enorme presença de paramédicos, devidamente municiados de todo o material necessário. Acompanham os manifestantes, mesmo na linha da frente: se estes sofrerem um ferimento nos confrontos com a polícia são imediatamente assistidos. Vou tentar lançar esta ideia quando chegar a Portugal, apesar de ter a quase certeza de que a polícia portuguesa, mesmo sendo “menos violenta e mais democrática” do que a de Hong Kong, não vai deixar paramédicos andar na linha da frente de um qualquer confronto ou manifestação. De qualquer forma, não custa nada tentar: o Não! está garantido.

Acabei por chegar a uma rua, logo a seguir ao Parque Vitória, e deparei-me com cerca de 10 polícias, completamente encurralados, sem um único veículo policial de apoio por perto. Ao fim de um tempo, lá conseguiram ir embora, ainda que com os manifestantes a segui-los. Mais uma vez, presenciei uma actuação completamente amadora da polícia de Hong Kong. Acreditem! O que está a acontecer em Hong Kong já teria sido “resolvido” há muito, em qualquer país da Europa, lá naquele continente onde “não há brutalidade policial” e existe “democracia” para dar e vender.

Quanto à imagem do intrigante sapo que enchia as paredes de Hong Kong, e até bandeiras empunhadas por alguns manifestantes, cheguei a casa e fiz algumas buscas pela internet, procurando mais informações sobre o famoso batráquio.

Para espanto meu, ou não, o famoso sapo, de seu nome Pepe, é nada menos do que um símbolo que foi apropriado pelo "movimento alt-right" nos EUA, estando associado à campanha para a eleição de Donald Trump. Nos EUA, o sapo Pepe está totalmente conotado com o discurso de ódio e da supremacia branca da extrema-direita norte americana.
Em Hong Kong, o sapo Pepe vem acompanhado de um código QR que pode ser scaneado e que nos dá a conhecer as 5 reivindicações do autodenominado "movimento pró-democracia".

Se há uns dias tivemos a presença de conhecidos nazis ucranianos nas manifestações em Hong Kong, no domingo passado viam-se cartazes colados nas paredes com um soldado ucraniano apelando à luta. É caso para dizer que as companhias e simpatias dizem muito do que nós somos; ou, então, é tudo uma enorme coincidência e o que é preciso é muita democracia, ao estilo norte americano ou mesmo inglês - até porque o povo de Hong Kong conhece este último muito bem.

Não: Hong Kong não é o Chile, nem a Bolívia nem sequer a Catalunha.


Miguel Casanova

vídeo







Sem comentários:

Enviar um comentário